sábado, 26 de novembro de 2011

CULPA DIVIDIDA

            Nunca antes nesse país a artilharia esteve tão voltada para os motoristas alcoolizados.
          Nas blitzes, cada vez mais freqüentes, incertas e rigorosas, não há distinções. Qualquer um pode ser parado, independente de prestígio.
          Os meios de comunicação têm dado grande destaque aos acidentes em que se envolvem pilotos bêbados, expondo toda a crueldade dos ferimentos e mortes por eles provocados.
          Ainda assim, confiantes na sorte, muitos permanecem na contramão da lei, praticando verdadeira roleta russa. Pagam pra ver!
          Acreditam em que, no caso de uma abordagem, poderão se recusar a soprar o bafômetro e, na sequência, com a ajuda de um bom advogado ou por “outros” meios, se livrarem de punição.
          Mas os “bebuns” do volante acabam de sofrer dois duros golpes.
          Por recente decisão do Supremo Tribunal Federal, quem dirigir alcoolizado, mesmo sem provocar danos, estará cometendo delito.
         Segundo o relator da matéria, ministro Ricardo Lewandowski, o crime de guiar embriagado “é como o porte de armas. Não é preciso que alguém pratique efetivamente um ilícito com emprego da arma. O simples porte constitui crime de perigo abstrato porque outros bens estão em jogo”.
          Na mesma linha, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou projeto de lei que prevê tolerância zero para motorista “chapado”. Conduzir um veículo sob efeito de qualquer teor de álcool transformar-se-á em crime, com penas elevadas para os infratores. A embriaguez poderá ser comprovada por outras formas, dispensada a obrigatoriedade de teste do bafômetro.
          Achando que o país vive uma “epidemia” de violência no trânsito, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), autor do projeto, ressaltou que o consumo de álcool responde por 40% dos acidentes motorizados registrados no país.
          Por lógica dedução, não só motoristas bêbados dão causas às tragédias que se busca evitar. Há uma interminável lista de outros motivos para o maior percentual de episódios restante. Entre eles, claro, a negligência, a imperícia e a imprudência.
           Grande parte dos desastres, entretanto, se deve à precariedade de nossas vias, com estradas, avenidas e ruas mal planejadas, pessimamente sinalizadas e sem conservação. Some-se a deficiente fiscalização e a ausência de uma política voltada para a educação de motoristas e pedestres. Sem falar na falta de transportes coletivos à altura das necessidades populares e que permitam ao cidadão deixar seus veículos nas garagens. Falhas crônicas e causadoras de inúmeras tragédias, retrato de vergonhosa omissão do poder público.
            Que sejam, pois, também punidos os responsáveis por esse cenário revoltante, tão criminosos quanto os beberrões focados pela lei.
            Só assim o brasileiro poderá acalentar a esperança de um trânsito menos violento e mais civilizado.

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