domingo, 27 de outubro de 2013

FORA DE CONTEXTO

            Enquanto os moradores de quase todas as grandes cidades brasileiras se afogam em lixo, o carioca festeja uma limpeza urbana que foge dos padrões convencionais.
            Sem envolver milagres ou ações extraterrestres, as calçadas e praias do Rio de Janeiro vêm se apresentando cada vez mais limpas. A receita está no Programa Lixo Zero, implantado pela Prefeitura, em agosto deste ano. Trata-se de iniciativa que visa diminuir a quantidade de sujeira nas ruas, conscientizando a população e multando os “sujismundos”. Busca-se ainda reduzir os gastos com a limpeza pública, avaliados em quase R$ 100 milhões/mês.
            Estimulado por resultados positivos contabilizados em Nova York, Paris, Tóquio e outras grandes metrópoles mundiais, o prefeito Eduardo Paes resolveu adotar uma agressiva estratégia de repressão à imundície: multar o cidadão que sujar espaços públicos. O valor da canetada varia de R$ 157 a R$ 3 mil, conforme o volume do lixo descartado.
Inicialmente visto com ceticismo, o programa esta dando certo. O balanço relativo ao primeiro mês de vigência mostra que mais de duas mil pessoas foram multadas, a maioria por pequenos resíduos, tipo pontas de cigarro.
Na avaliação da Companhia Municipal de Limpeza Urbana, a cidade já ficou mais limpa.  A quantidade de resíduos no chão diminuiu 50% no Centro e 46% em Copacabana. Em Ipanema, Leblon, Lagoa, Gávea e Jardim Botânico a queda foi de 42%.
Em ritmo de evolução, o programa começou a multar também motoristas e passageiros de veículos. Qualquer descarte feito pela janela está sendo punido, desde a última quarta-feira (23/10).
Falando sobre perspectivas em relação ao comportamento das pessoas no descarte do lixo, Eduardo Paes disse que “o que a gente espera é que seja uma mudança cultural mesmo. Se não houver uma participação da sociedade, muito pouco vai poder ser feito”.
Bem sucedido, o programa tem despertado o interesse de muitas outras prefeituras. Não faltam prefeitos desejosos de adotar a mesma tática em suas localidades.
O problema é que não se pode cogitar de limpeza em áreas onde a conservação é tratada com absoluta indiferença; em que avenidas, ruas e calçadas são quase intransitáveis, devido à absurda quantidade de buracos, desníveis e outros obstáculos. Moralmente, não é justo cobrar cidadania de quem não é respeitado em seus direitos, muito menos retribuído pelos extorsivos impostos que paga.
Para ter êxito, o Lixo Zero envolve, antes de tudo, um bom acordo com pombos, pardais e outros pássaros, além das árvores, para que nada despejem no chão. Afora isso, requer que os locais públicos recebam um mínimo de atenção dos responsáveis pela sua boa qualidade. Valadares não se enquadra, pelo menos de momento.


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