quinta-feira, 21 de novembro de 2019

CONSCIÊNCIA DISTORCIDA


Por Etelmar Loureiro

- Diário do Rio Doce – 21.11.2019

          Na definição da Wikpedia, “consciência é uma qualidade psíquica, isto é, que pertence à esfera da psique humana, por isso diz-se também que ela é um atributo do espírito, da mente, ou do pensamento humano”.
         Sob esse conceito, a consciência se nivela ao amor, o ódio, a alegria, a tristeza, o tesão, a frigidez, a dor, o prazer, a admiração, a aversão, a fé, a desilusão e tantos outros sentimentos que não têm cor, têm intensidade.
           Difícil, pois, atribuir matiz à consciência que se ocupa dos afrodescendentes.
         Tudo bem que sejam homenageados os que aqui chegaram e trabalharam para consolidar a nação brasileira. Heróis e vilões indígenas, portugueses, africanos, espanhóis, franceses e de outras origens que contribuíram para as conquistas hoje festejadas. Não há uma bandeira predominante. Maximizar ou minimizar a participação de quem quer que seja seria negar a teoria que valoriza o esforço conjunto.
          Distingui-los pelo físico, pela inteligência, pela religião, pela cor ou por qualquer outra característica própria é incorrer em imperdoável discriminação. Uma visão distorcida, injusta e contrária à tese de igualdade humana.
          O diplomata Paulo Roberto de Almeida, Ph.D. em Ciências Sociais, em seu blog “Diplomatizzando”, disse achar “curiosa essa insistência na "consciência" negra, na "dignidade" negra, em qualquer coisa "negra", ou afrodescendente e seus equivalentes funcionais, com toda a carga de racismo implícito embutido nos programas oficiais do governo”. Entre outros questionamentos sobre o que se pretende, ele indaga se não seria essa a forma de “criar uma nação, uma cultura, uma sociedade apartada das correntes nacionais miscigenadoras e "misturadoras" de todos os brasileiros”.
          Sob o rótulo de Dia Nacional da Consciência Negra, o 20 de novembro, ontem celebrado, é reservado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. A data foi escolhida por coincidir com a morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. 
Nada contra a que se reverencie a comunidade negra e o grande herói brasileiro que, por vários anos, comandou um movimento de resistência à escravidão.
          O que muitos questionam é a indisfarçável conotação racista desse tributo.
          Na essência, brancos, negros e mulatos, formamos um único povo, uma mesma nação. Seres humanos se distinguem por seu caráter e dignidade, não pela cor.
          Se a intenção for homenagear uma raça, melhor que isso se faça com isenção e através de ações voltadas para a educação, saúde, segurança, moradia, inserção no mercado de trabalho e outras medidas que proporcionem o bem-estar social de seus integrantes. Afora isso, as iniciativas podem resultar inócuas, não passando de maquiagem incapaz de ocultar enorme falta de consciência.

4 comentários:

  1. Foi na ferida da questão. Estão se valorizando demasiadamente ao ponto de ter sido feriado em 1260 cidades do Brasil. Eles são pretensiosos em acharem que construíram o país sozinhos .

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  2. No despertar da consciência, quando a "ficha cair", todos nós nos veremos na essência, e riremos de nós mesmos. Um grande abraço e parabéns pela belíssima crônica, cujo tema é oportuno e nos chama a atenção para a reflexão do que somos.

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  3. Não restam dúvidas quanto à contribuição da raça negra na formação da identidade do povo Brasileiro e na construção do nosso País, assim como da raça branca, representada pelos imigrantes Europeus e Asiáticos. Mais do a criação de Políticas afirmativas, que tanto dividem o País, nosso foco - do Povo e dos Governos Brasileiros - deveria se dar no campo da igualdade de oportunidades. Há evidências inquestionáveis no cotidiano do no nosso País - nas escolas, nas empresas, no serviço público - de que as melhores oportunidades profissionais não aparecem para os representantes da raça negra, exceção feita ao esporte e às artes. Neste sentido, é na igualdade e ampliação do acesso à educação de boa qualidade em todos os níveis, pública e privada, que se permitirá aos Brasileiros negros alcançar uma formação de alto padrão. É na educação de qualidade e na sua abrangência ampla, que abarque todos os Brasileiros, que deve ser centrada a Política Brasileira, com apoio de seus Cidadãos, como opção estratégica número 1 com vistas a nos tornarmos um País desenvolvido!

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