Por Etelmar Loureiro
- Revista “Mais Mais PERFIL” – Dez-2018
De olho no calendário, o povo brasileiro conta nos dedos os dias que faltam
para terminar o ano. Essa época é naturalmente marcada por um clima
emocionante, em que despedidas, expectativas e ansiedades se misturam. Desta
vez, um novo ingrediente se junta à fórmula, tornando mais tensa e intrigante a
temporada.
Nada que coloque em risco o especial de Roberto Carlos, as trocas de presentes
e mensagens de época, os comes e bebes próprios do tempo de manjedoura,
tampouco as queimas de fogos que agitam a virada de ano. Tudo isso certamente
acontecerá, conforme mandam as tradições. O suspense também não se deve ao fim
do governo Temer. Esse está se despedindo em silêncio e da forma melancólica
como transcorreu, sem deixar saudade.
O que está mesmo roubando as atenções é a posse do 38º presidente da República
Federativa do Brasil, Jair Bolsonaro, prevista para o primeiro dia de janeiro
próximo. Tornando-se cada vez mais cintilante, a estrela de Bolsonaro vem
ofuscando todas as demais. Após a significativa vitória que obteve nas urnas,
quase não se fala em outra coisa. Os holofotes estão voltados para aquele que,
de um momento para outro, se transformou em símbolo nacional.
Sobre qualquer
outro sentimento, paira no ar uma grande esperança de que o futuro governo
possa colocar freios na enorme corrupção e na descontrolada criminalidade que
assolam o país. Espera-se que, a um só tempo, ele consiga coibir os desmandos
administrativos, as orgias políticas, as negociatas entre agentes de governo,
seus aliados e fornecedores, o tráfico de drogas, o contrabando, e tantas
outras mazelas que mancham o currículo nacional.
O próprio Bolsonaro,
na apresentação do seu plano de governo, denominado “O Caminho da
Prosperidade”, prometeu uma gestão “decente, diferente de tudo aquilo que nos
jogou em uma crise ética, moral e fiscal. Um governo sem toma lá dá cá, sem
acordos espúrios. Um governo formado por pessoas que tenham compromisso com o
Brasil e com os brasileiros”.
A sua intenção é
fazer uma administração liberal democrata, onde educação, saúde e segurança
tenham prioridade. Na sua visão, o liberalismo “reduz a inflação, baixa os
juros, eleva a confiança e os investimentos, gera crescimento, emprego e
oportunidades”. Outro propósito é ter “tolerância zero com o crime, com a
corrupção e com os privilégios”. Isso sem falar na redução do número de
ministérios e extinção da abundância de órgãos hoje mantidos apenas com o
objetivo de lotear o Estado e acomodar apadrinhados políticos. Ou seja: o
homem que para muitos é um “mito” pretende mudar radicalmente a forma de
conduzir o país. Se conseguir, será também um herói.
Claro que não será
fácil levar a cabo tão ambicioso projeto, sobretudo num contexto onde, além dos
entraves legais, a arraigada polarização entre vencedor e vencidos ficou longe
de ser eliminada pelo resultado das urnas. Remanesceu uma oposição que
promete ser vigorosa, liderada por alto número de lulopetistas, que não
hesitará em complicar a vida do capitão.
De outra parte,
certo de que nem tudo são flores, o povo não esconde algum temor em relação às
medidas “um pouco amargas” mencionadas mas ainda não inteiramente reveladas por Bolsonaro.
Lembrando-se de Fernando Collor, que no primeiro dia de seu governo confiscou
os depósitos bancários, inclusive as cadernetas de poupança dos brasileiros,
não falta quem esteja com um pé atrás. Afinal, um sábio ditado ensina que “cão
mordido por cobra tem medo de linguiça”.
Mas a hora é de
acreditar, ainda que não convenha colocar todas as fichas numa mesma jogada.
Vale a pena reservar algumas, para, se houver chance, arriscar de novo.
Excelente.No princípio jah vivia os sonhos de um brasil maravilhoso.Acima, " um governo decente" sem trocas de cartas.Mas, no final do texto somos obrigados a cair na realidade de que forças opositores irão atazanar,muito embora ficamos com a esperança.
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