domingo, 3 de abril de 2011

PARTIDO INFELIZ

            Torna-se cada vez mais veemente o clamor pelas reformas de que o Brasil necessita para corrigir erros, enfrentar desafios e trilhar com êxito os caminhos do desenvolvimento.
            A nação tem emitido nítidos sinais de que não mais suporta os sacrifícios que lhe têm sido impostos sob o manto de uma legislação defasada e ineficiente. Regras que mais protegem interesses individuais, abrindo brechas para que os espertalhões exerçam suas habilidades com total desenvoltura.
            No campo político, assiste-se ao desenrolar de mais uma trama que bem caracteriza esse cenário.
            Sem espaço na legenda (DEM) pela qual foi eleito, o prefeito de São Paulo resolveu fazer renascer o Partido Social Democrático (PSD).
            Segundo os analistas, foi a forma encontrada por Gilberto Kassab para escapar da lei que proíbe o troca-troca de partidos. O agora ex-Democrata se valeu de uma abertura na legislação, que permite ao político ir para uma nova legenda, sem perder o mandato.
O nome inicial – Partido da Democracia Brasileira (PDB) – foi descartado, depois que os adversários o ridicularizaram, desdobrando a sigla em “partido da boquinha”.
Optou-se, então, por PSD, nome da histórica legenda que existiu entre 1945 e 1964, pela qual Juscelino Kubitscheck se elegeu presidente da República, em 1955.
Pensando em assegurar um grande patrono, o grupo que participa da criação do novo partido chegou a registrar na internet o site http://www.jk.org.br/.
Mas a filha de JK, Maria Estela, negou ter dado qualquer autorização nesse sentido, afirmando que a memória do pai “não pode ser usada para fins menores da política”. Taxativa, disse esperar que Kassab poupe a família de iniciar ação judicial “com objetivo de preservar a sua memória, impedindo a utilização de seu nome por partidos e pessoas cujas trajetórias políticas não guardam qualquer afinidade com a vida e os ideais de JK”.
De acordo com declarações de Kassab, seu partido não é de direita, de esquerda, nem de centro.             Também lhe faltam programa, ideologia e outros requisitos que sustentam um verdadeiro partido.
Como disse o sociólogo Marcos Coimbra, o novo PSD “não expressa a vontade de lideranças à procura de identidade política. Ao contrário, é ele que está a cata de adesões”.
Questionado sobre a nova sigla, o presidente do Senado, José Sarney, falou que a reforma política é o caminho para evitar a criação de "partidos ocasionais".
            Na condição de líder do DEM na Câmara, o deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto preferiu ironizar as iniciais do novo PSD, dizendo que “nasceu o partido sem decência, o partido sem dignidade”.
            Pelo que se nota, criação do PSD já teve, no mínimo, o mérito de mostrar o quanto o país precisa de uma reforma política capaz de coibir outras iniciativas da espécie. Nisso todos concordam.