Por Etelmar Loureiro
- Diário do Rio Doce – 26.09.2019
As
atenções mundiais estão novamente voltadas para a Assembleia Geral das Nações
Unidas (AGNU), que se instalou na última terça feira, 24, na sede da ONU, em
Nova York.
A
primeira sessão da AGNU aconteceu em Londres, aos 10 de janeiro de 1946, no
Westminster Central Hall. A segunda foi em Nova York e a terceira em Paris. A fixação
na sede das Nações Unidas deu-se em 14 de outubro de 1952.
Quando
de sua instalação, a Assembleia contava com 51 membros. Hoje são 193, cada qual
com direito a um voto.
Historicamente,
o discurso de abertura do evento é feito pelo representante do Brasil, tradição
que vem sendo mantida desde a sessão da cúpula em 1955. A deferência não
decorre de qualquer dispositivo estatutário da ONU. Estaria relacionada com o fato
de o Brasil ter sido o primeiro país a aderir à Organização, sendo, pois, um de
seus fundadores. Ademais, o brasileiro Osvaldo Aranha, então ministro de
Relações Exteriores do governo Getúlio Vargas, se destacou na história da
entidade, tendo presidido a primeira sessão especial e a segunda sessão
ordinária da mesma, nas quais foi aprovada a criação do Estado de Israel, com apoio
do Brasil.
Este ano não foi
diferente. Coube a Jair Bolsonaro a honrosa tarefa. E o nosso presidente não
“fugiu do pau”. Mesmo ainda convalescendo de uma cirurgia, lá foi ele dar o seu
recado. E o fez bem ao seu estilo.
Com
um discurso objetivo, contundente e desafiador, por muitos considerado
agressivo, Bolsonaro abriu a 74ª Assembleia Geral da ONU criticando os governos
da França, Venezuela e Cuba, o socialismo e o ambientalismo. Apontou ações que considera
ameaças à soberania do Brasil.
Ao falar da Amazônia,
ele rotulou como "falácia" a ideia de que a floresta é um patrimônio
da humanidade. Não chegou a mencionar a França diretamente, mas se referiu à
nação presidida por Emmanuel Macron como “um país” que seguiu a “mídia
sensacionalista” e ousou “sugerir a aplicação de sanções contra o Brasil” no
episódio dos incêndios na Amazônia. Macron disse que estava “na correria” e não
ouviu o discurso de Jair Bolsonaro.
O
próprio Bolsonaro usou o Twitter para avaliar sua estreia na reunião: “Na ONU,
levei a palavra firme do Brasil, dando voz aos verdadeiros anseios e valores de
nosso amado povo. Estamos construindo um país mais próspero, onde a liberdade,
a inviolabilidade da nossa soberania e a vontade dos brasileiros são os três
alicerces que nos darão sustentação”, disse ele.
No
campo político, não existe meio-termo, nem meia verdade; cada um fala aquilo
que politicamente lhe convém.
Dentro
do esperado, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman, disse que “o discurso
de Bolsonaro foi vazio como ele. Não trouxe nada de concreto e se resumiu a uma
guerra ideológica contra governos, ONG’s, militantes e a imprensa. Um completo
vexame”.
Já o ministro Onyx
Lorenzoni, da Casa Civil, achou que "o presidente Jair Bolsonaro fez
discurso altivo, corajoso, verdadeiro e soberano, reafirmou seu compromisso com
valores e princípios, tais como a liberdade, democracia, família e liberdade
religiosa. Honrou a tradição brasileira na ONU".
Apontado por
Bolsonaro como um “símbolo” do país, o ministro da Justiça, Sergio Moro, emitiu
a opinião que até agora me parece a mais racional: “Discurso assertivo na ONU.
Pontos essenciais: soberania, liberdade, democracia, abertura econômica,
preservação da Amazônia, oportunidades e desenvolvimento para a população
brasileira”.
Uma coisa é certa:
marcada por palavras cordiais, às vezes enfadonhas e meramente protocolares, a
abertura da Assembleia Geral da ONU dificilmente será a mesma, depois do pronunciamento
de Bolsonaro. Quem sobreviver verá!