domingo, 25 de agosto de 2013

GRANDE GETÚLIO

            Ninguém consegue se desligar dos desmandos políticos, da corrupção, da retração industrial, do desemprego, da precariedade do sistema de saúde oficial, das deficiências da rede pública escolar e de outros problemas que assolam o país. Por mais rotineiros que sejam, sempre provocam sobressaltos e intranqüilidade.
            Como se não bastassem para monopolizar as atenções, estão agora agravados por descontrolada inflação e uma grave crise cambial, que aumentam a preocupação dos brasileiros.
            Pode ser que isso explique – embora não justifique – o melancólico transcurso de algumas datas nacionais de histórica relevância.
            Nada a ver com o Dia do Soldado, que hoje se comemora, instituído em homenagem a Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, nascido em 25 de agosto de 1803. Um marco sempre celebrado, quando nada nos ambientes militares.
            Mas há descasos imperdoáveis, como o acontecido ontem, em vários pontos do país, quando se completaram 59 anos da morte do ex-presidente Getúlio Vargas.
            Grande personagem de uma época da qual ainda restam muitas testemunhas, Vargas é apontado como o mais importante chefe político brasileiro do último século.
            Gaúcho de São Borja-RS, presidiu o Brasil por duas ocasiões. A primeira de 1930 a 1945, conhecida como Era Vargas. Um marco na história brasileira, quando inúmeras alterações socioeconômicas aconteceram no país. A segunda de 1951 a 1954, eleito por voto direto.
            Entre outras grandes iniciativas, criou a Justiça do Trabalho, instituiu o salário mínimo e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Direitos trabalhistas, como carteira profissional, semana de trabalho de 48 horas e férias remuneradas também são frutos de seu governo.
Mesmo quando ditador foi um presidente que se destacou por importantes realizações como a criação da Cia. Siderúrgica Nacional, da Cia. Vale do Rio Doce e da Hidrelétrica Vale do São Francisco. Em 1953 criou a Petrobrás, resultado da campanha popular que começou em 1946, com o histórico slogan "O petróleo é nosso".
Assim como todo grande líder, tinha características próprias: foi o precursor do marketing pessoal em ampla escala, direitista convicto e populista ao extremo. Pelos admiradores era conhecido como “pai dos pobres”, por haver, em sua primeira passagem pelo poder, praticado uma abrangente política de direitos sociais e trabalhistas, atendendo a antigas reivindicações populares. Essas realizações foram amplamente divulgadas por um aparato publicitário que provocou verdadeiro "culto à personalidade" do então ditador.
No segundo mandato, iniciado em 1950, Getúlio manteve uma política nacionalista. Mas seu governo foi minado por várias crises.
Em 1954 a atmosfera política no Brasil tornou-se tensa e conturbada. Os últimos dias de governo foram marcados por forte pressão política feita pela imprensa e pelos militares. O povo estava insatisfeito com a situação econômica do país. Exigia-se a renúncia do presidente.
Vargas optou por ele próprio decidir seu destino. Cometeu suicídio no dia 24 de agosto de 1954, com um tiro no coração, em seu quarto, no Palácio do Catete, Rio de Janeiro, então capital federal.
Na sua carta-testamento escreveu:Saio da vida para entrar na história”. Levou consigo as qualidades de um grande estadista, figura inigualável a que o Brasil deve total reverência.
 
* Jornal de Domingo
* Diário do Rio Doce