Como se não bastassem
para monopolizar as atenções, estão agora agravados por descontrolada inflação
e uma grave crise cambial, que aumentam a preocupação dos brasileiros.
Pode ser que isso
explique – embora não justifique – o melancólico transcurso de algumas datas nacionais
de histórica relevância.
Nada a ver com o Dia do
Soldado, que hoje se comemora, instituído em homenagem a Luiz Alves de Lima e
Silva, o Duque de Caxias, nascido em 25 de agosto de 1803. Um marco sempre
celebrado, quando nada nos ambientes militares.
Mas há descasos
imperdoáveis, como o acontecido ontem, em vários pontos do país, quando se
completaram 59 anos da morte do ex-presidente Getúlio Vargas.
Grande personagem de
uma época da qual ainda restam muitas testemunhas, Vargas é apontado como o mais
importante chefe político brasileiro do último século.
Gaúcho de São Borja-RS,
presidiu o Brasil por duas ocasiões. A primeira de 1930 a 1945, conhecida como
Era Vargas. Um marco na história brasileira, quando inúmeras alterações
socioeconômicas aconteceram no país. A segunda de 1951 a 1954, eleito por voto
direto.
Entre outras grandes iniciativas,
criou a Justiça do Trabalho, instituiu o salário mínimo e a Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT). Direitos trabalhistas, como carteira profissional,
semana de trabalho de 48 horas e férias remuneradas também são frutos de seu
governo.
Mesmo quando ditador foi um presidente que se destacou
por importantes realizações como a criação da Cia. Siderúrgica Nacional, da
Cia. Vale do Rio Doce e da Hidrelétrica Vale do São Francisco. Em 1953 criou a
Petrobrás, resultado da campanha popular que começou em 1946, com o histórico
slogan "O petróleo é nosso".
Assim como todo grande líder, tinha características
próprias: foi o precursor do marketing pessoal em ampla escala, direitista convicto
e populista ao extremo. Pelos admiradores era conhecido como “pai dos pobres”,
por haver, em sua primeira passagem pelo poder, praticado uma abrangente
política de direitos sociais e trabalhistas, atendendo a antigas reivindicações
populares. Essas realizações foram amplamente divulgadas por um aparato publicitário
que provocou verdadeiro "culto à personalidade" do então ditador.
No segundo mandato, iniciado em 1950, Getúlio
manteve uma política nacionalista. Mas seu governo foi minado por várias
crises.
Em 1954 a atmosfera política no Brasil tornou-se tensa
e conturbada. Os últimos dias de governo foram marcados por forte pressão
política feita pela imprensa e pelos militares. O povo estava insatisfeito com
a situação econômica do país. Exigia-se a renúncia do presidente.
Vargas optou por ele próprio decidir seu destino. Cometeu
suicídio no dia 24 de agosto de 1954, com um tiro no coração, em seu quarto, no
Palácio do Catete, Rio de Janeiro, então capital federal.
Na sua carta-testamento escreveu: “Saio da vida para entrar na história”.
Levou consigo as qualidades de um grande estadista, figura inigualável a que o
Brasil deve total reverência.
* Jornal de Domingo
* Diário do Rio Doce