Por Etelmar Loureiro
É inegável que, ao longo do tempo, o
Natal vem se mostrando uma festa cada vez mais mercantilista, mais consumista e
menos reflexiva.
Ficou de tal modo
condicionada à troca de presentes e a tantos símbolos, que muitos pensam estar
celebrando o aniversário de Papai Noel, não o nascer do Menino Jesus. Nessa onda,
as tradições se perdem, desfazendo sonhos e fantasias.
Saudosa época em que carrinhos
de madeira, bonecas de pano e outros brinquedos simples, às vezes produzidos
por pais, avós ou tios, faziam a felicidade da garotada. Quando a ceia natalina,
realizada quase só em família, era antecedida de uma prece de agradecimento. Tempo
místico, no qual os sentimentos de solidariedade emergiam em toda a sua grandeza,
como se quisessem pôr fim às desigualdades sociais, bem mais visíveis no
período natalino.
Da forma como a
modernidade avança, não será surpresa se, em futuro próximo, o bom velhinho pendurar
seu tradicional uniforme vermelho, aposentar o velho trenó, liberar as já extenuadas
renas e aparecer com um look de herói intergaláctico, distribuindo só presentes
eletrônicos, em uma sofisticada nave espacial.
Ainda assim, o Natal continua
sendo a mais emblemática e carismática das celebrações. Nas diversas partes do mundo, mobiliza pessoas de
todas as idades, das mais humildes às mais sofisticadas. É fenômeno universal, sempre
aguardado com ansiedade.
O clima de manjedoura
se faz sentir logo no começo de outubro, com o surgimento dos primeiros
anúncios comerciais, os primeiros “jingles” natalinos, e age como um vendaval
que se fortalece enquanto avança de forma incontrolável, levando todos de
roldão.
Quando menos se espera,
o “christmas time” entra em cena, poderoso, sedutor e envolvente.
Para milhões deadmiradores, abre-se a
temporada de esperanças, de sonhos e ideais. Chega o tempo de agradecer a Deus,
estender as mãos, pedir desculpas (hei, você aí, é consigo mesmo que estou
falando!), perdoar, chorar ou sorrir, sem contrariar o coração. É tempo de
amor, compreensão, tolerância, humildade e solidariedade. É tempo de família,
de amigos e de abraços. É tempo de ser gente!
A rigor, o Natal é um
dia como qualquer outro. A diferença é que ele oferece ao ser humano a chance
de se render ao “me engana que eu gosto”. De acreditar, pelo menos uma vez por
ano, que não há injustiças, não há violência, não há corrupção, não há fome,
não há abandono, não há sofrimentos, nem angústias, nem desamor. Só felicidade
e nada mais!
Sempre ouvi dizer que o melhor da festa esperar por
ela. Acabei convencido disso. Chega a ser excitante a expectativa de um
acontecimento que provoque ansiedade. Nisso o Natal é insuperável. Aguardá-lo,
entretanto, requer tolerância, paciência e até preparo físico. São quase três meses
de confraternizações, troca de presentes, amigos ocultos, cartinhas para Papai
Noel, mobilizações e viagens em busca da companhia querida. Na reta de chegada
as tensões se agigantam. A movimentação nas ruas, lojas, shoppings, aeroportos,
rodoviárias, ferroviárias, bares e restaurantes atinge seu ponto máximo. Cada
qual na sua, a hora é de presentear, festejar, brindar, abraçar e beijar. Tudo
faz parte desse incrível espetáculo da vida.
A grande noite bate
às portas; será do próximo domingo para segunda. Quem não curtiu a atual temporada
ainda tem até lá para entrar no clima. Depois … só no ano que vem. Que sua
expectativa seja correspondida, com um feliz Natal!
- Diário do Rio Doce - 21.12.2017