terça-feira, 31 de outubro de 2017

PORÕES DA HIPOCRISIA

Por Etelmar Loureiro

            Os temas polêmicos estão entre os mais utilizados pelos autores de livros, filmes, peças teatrais e novelas, para despertar maior interesse por suas obras.
            Nessa prática, a novelista global Glória Perez é campeã. Em suas histórias, não hesita em expor questões melindrosas, como barriga de aluguel, tráfico de mulheres, clonagem humana e sexualidade. E o faz com naturalidade e transparência, mas sempre deixando dúvida quanto à solução ideal para o problema, frente à ética e à moral. Ela mesma admite que sua contribuição para a dramaturgia foi promover a união entre a realidade e a ficção.
            No texto produzido para a telenovela A Força do Querer, Glória Perez colocou em discussão novos e palpitantes assuntos, com ênfase para o tráfico de drogas, a transexualidade e o vício em jogos de azar.
            Apesar dos invejáveis índices de audiência alcançados pelo folhetim global, a autora não se livrou de ser “malhada” por críticos mais conservadores. Entre outras choradeiras, uns a acusam de glamorizar o crime, transformando traficantes em heróis de favela, com resultados que induzem a acreditar que o crime compensa. Outros reclamam que ela faz apologia à mudança de sexo, o que causa problemas às famílias onde haja alguém com essa propensão. E a Globo mais uma vez se transformou na vilã da história.
            Nas décadas de 1940 a 1960, quando o cinema era considerado a principal diversão, os pais eram orientados a evitar que crianças e jovens assistissem a muitos policiais e faroestes. Acreditava-se que os enredos, a violência e o uso de armas mostrados nesses filmes poderiam repercutir na formação de seus filhos. Ledo engano! Nada disso se confirmou, pelo menos não na dimensão alardeada.
            Obras de ficção sofrem influência da vida real. Mesmo quando baseadas na verdade, prevalece a ressalva de que “qualquer semelhança com fatos ou pessoas vivas ou mortas é mera coincidência”. As rejeições a seu conteúdo quase sempre derivam de princípios morais, familiares ou religiosos. Mas podem ser fruto da desinformação, da resistência em conviver com a realidade, ou da conjugação de tudo isso.
            A violência, a criminalidade, o uso e o tráfico de drogas, o envolvimento com a jogatina, os dramas familiares e outras mazelas que causam transtornos e perplexidade sempre existiram, nas ruas e nos lares.  Os transgêneros e outros seguidores de diferentes tipos de orientação sexual aparecem com desenvoltura nos mais remotos registros históricos. Dizer que são estimulados pelas novelas da Globo é uma tremenda balela. Seria o mesmo que culpar o Jornal Nacional pela existência do mensalão, do petrolão e de tantas tramoias reiteradamente praticadas por políticos, agentes públicos e empresários que não se cansam de afrontar o povo brasileiro.
            Não se trata de defender essa ou aquela emissora de televisão, tampouco a sua programação. Também não há intenção de julgar aspectos éticos, morais ou científicos das questões, grupos e comportamentos sociais aqui mencionados. Partindo do entendimento próprio de que eles são realidade, o propósito é defender que sejam discutidos abertamente, sem falsos pudores, e não deixados sob os tapetes que enfeitam os porões da hipocrisia.
              Para o próprio bem, a sociedade deve conscientizar-se de que a vida está sujeita a um processo de evolução irrefreável, em que o espaço para dogmas, tabus e “caixas pretas” é cada vez mais escasso. Não há como ficar a reboque da realidade, presos a paradigmas que o próprio tempo tem se encarregado de romper. Concordando com Mahatma Gandhi, “temos que nos tornar a mudança que queremos ver”. Enquanto há chance!

- Revista "Mais Mais PERFIL" - edição de out/2017

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

ADEUS, CHICO!

por Etelmar Loureiro

Em homenagem póstuma ao jornalista, escritor, profissional de turismo, empreendedor por excelência, exemplar chefe de família e grande amigo, Francisco Luiz Teixeira, que nos deixou no último dia 27, reproduzo o texto que honrosamente escrevi, para prefaciar o seu livro Miscelâneas do Chico (primeira edição - junho/2016):

            “Comunicador por excelência, ele está constantemente na mídia, criticando, comentando ou simplesmente noticiando algo de interesse popular. Mesmo quando censura, não descuida do bom humor, da fina ironia e da extrema sutileza que lhe garantem a fidelidade e a admiração de um apreciável grupo de leitores.
Na condição de cidadão e chefe de família, é pessoa simples, simpática, despida de vaidades, comunicativa e realizadora, muito bem aceita pela comunidade em que vive, da qual participa ativamente.
Assim é Francisco Luiz Teixeira, o araxaense popularmente conhecido como Chico Teixeira, que, ainda criança, deixou a terra de Dona Beja, em busca do crescimento. Foi tentar a vida em Goiânia e Belo Horizonte, antes de fincar raízes na mineira Governador Valadares, cidade onde se casou com Dinah Coelho Teixeira, é pai de sete filhos,  e se tornou um colecionador de sucessos.
O envolvimento de Chico Teixeira com a chamada capital do Vale do Rio Doce tem sido dos mais intensos. Desde 1950, quando chegou ao local, se fez presente nas mais diferentes áreas sociais, econômicas e políticas. Participou de entidades de classe e filantrópicas. Foi vereador, secretário da Administração Municipal e diretor da Associação Comercial.  Atuou em rádios e jornais, sendo fundador da Imparson, primeira agência de publicidade e gravadora, e do jornal Tribuna Fiel. No mundo dos negócios, criou a Altura Aliança Turismo S.A e idealizou o Ibituruna Serra Clube, duas molas propulsoras do desenvolvimento da Ibituruna, o maior ponto turístico de Governador Valadares. Atualmente, na condição de colaborador, escreve para Diário do Rio Doce, o principal matutino valadarense.
Antes de se graduar em Direito, integrando a primeira turma de formandos da Faculdade de Direito Vale do Rio Doce (Fadivale), Chico Teixeira diplomou-se como Técnico em Contabilidade, sua primeira função em Valadares. Não por acaso, tornou-se um exímio contador ... de casos e causos. Mas jornalismo e turismo foram sua dedicação preferida, mesmo sem nenhuma formação acadêmica nessas áreas.
Em “Miscelânea”, seu primeiro “best-seller”, ele reúne os melhores frutos de uma visão que transcende os fatos e se expressa na forma de importantes relatos, sutis analogias, ou anestésicas alfinetadas. Um conteúdo que pode provocar reflexões, risos ou encaixar carapuças.
Vale a pena conferir!”