domingo, 29 de dezembro de 2013

ESTAÇÃO DE PERIGO

            Temporada de férias, muitas festas, muitas viagens e muitas chuvas, dezembro e janeiro são também meses de grandes tragédias.
            Violência urbana, graves acidentes rodoviários, tempestades, inundações, deslizamentos de terra e outras tristes ocorrências são cada vez mais frequentes, com mortos, feridos e enormes prejuízos materiais.
            A grande corrida em busca de descanso e distração aumenta o movimento nas estradas e eleva a concentração de pessoas nas praias, estâncias hidrominerais, pousadas e outros locais aprazíveis, mas nem sempre seguros.
            Acrescente-se a isso o maior consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas, a imprudência ao volante, a má conservação das estradas, a fiscalização deficiente, o desrespeito às normas de segurança e as agressões ao meio ambiente, ingredientes perfeitos para finais melancólicos.
            Parece ser o tempo em que a natureza e as forças sobrenaturais se unem para um acerto com os humanos, atraindo-os para situações e locais onde a cobrança é coletiva, rigorosa e impiedosa. Justos e pecadores são punidos por erros próprios e de terceiros.
            Permanece na memória nacional, por exemplo, a tragédia acontecida na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, no início de 2011. Enorme quantidade de moradores e turistas ali perdeu a vida, vítima de violenta avalanche que soterrou tudo e todos que estavam em seu caminho. Os números oficiais, ainda hoje discutíveis, apontam quase mil mortes e cerca de duzentos desaparecidos, afora milhares de desabrigados.
Neste ano, até o momento, a conta está com Minas Gerais e Espírito Santo, onde fortes chuvas e o Rio Doce colocaram várias cidades em situação de emergência, inclusive Governador Valadares. Um balanço parcial da calamidade inclui dezenas de mortos e mais de 60.000 desalojados. Só na cidade mineira de Sardoá, seis pessoas da mesma família morreram soterradas. São muitos os que pagam alto preço por ocupar áreas de risco, erro quase sempre imperdoável.  
            A maior preocupação, entretanto, são os deslocamentos rodoviários.
            Nesta época o fluxo de veículos amplia consideravelmente e o número de motoristas não acostumados a estradas aumenta quase na mesma proporção. O resultado está expresso nos mais de três mil acidentes registrados no último feriado de Natal, quando o número de mortos ficou acima de duzentos e o de feridos aproximou-se de mil. Em Minas, a Polícia Militar Rodoviária estima que passe de 55 a quantidade de vítimas fatais em desastres rodoviários.
            De forma simplista, o governo não titubeou em criar um factóide, atribuindo ao motorista alcoolizado a maior culpa por esse caos. Nada mais cômodo do que arranjar um bode expiatório! Flagrado pelo bafômetro, o bebum, além da multa, pagará o pato pelas estradas obsoletas, esburacadas, mal sinalizadas, sem adequada fiscalização e congestionadas por uma frota de veículos que cresce descontroladamente.
            Sem intenção de defender os bêbados do volante, é tempo de compartilhar responsabilidades. É inconcebível que os agentes da segurança pública permaneçam livres das penalidades aplicáveis aos que, por ação ou omissão, contribuam para a ocorrência de tragédias. Devem ser rigorosamente punidos por negligência, indiferença e desrespeito à vida, tanto quanto os infratores da Lei Seca.
            A estação do lazer está aberta. Viagens de ida e vinda estarão acontecendo, chova ou faça sol. Tem gente já pensando no carnaval.
            Tudo indica que a coisa permanecerá na base do salve-se quem puder. Fatalidades são incontroláveis, mas há meios minimizar seus efeitos. Um deles é conscientizar-se de que o risco existe, por menor que seja. Faça as contas.  

Diário do Rio Doce
29.12.2013

 

 

 

 

 

 

 

 

domingo, 22 de dezembro de 2013

EFEITO ORLOFF

                Nos muitos anos que moramos em Brasília, eu e minha família enfrentamos desafios corriqueiros, mas nada fáceis de contornar.
            Um deles foi a distância. Nem tanto a da capital até Valadares, viajada com o entusiasmo dos que retornavam às origens. Difícil era fazer o sentido contrário, olhando pelo retrovisor coisas boas e muita gente querida. São cerca de 1000 quilômetros difíceis de encarar, sobretudo naquela época, pilotando veículos sem direção hidráulica, ar condicionado, kit multimídia e outros breguetes. Percurso estressante, com retas intermináveis e trechos de alto risco. Mas o jeito era pôr o carro na estrada e acelerar, rezando pra chegar.
            Durante esse tempo, a saudade foi grande e inseparável companheira. Sábia, dedicada e persistente, nunca aborreceu. Pelo contrário, foi responsável por manter vivas importantes recordações.
            Distância e lembrança instigam o desejo de reencontrar alguém ou alguma coisa.
            Nosso foco eram os pais, irmãos, outros familiares, amigos e cenários que são partes da gente.
            Tudo acontecia numa boa. Queríamos vir, eles queriam que viéssemos. O porém era a longa viagem, sempre feita sob rígidas recomendações de cautela. As mesmas hoje repassadas ao filho Rodney, que planeja vir de Brasília, para curtir conosco o réveillon, trazendo esposa e filha. Os pais têm a estranha mania de se preocuparem com a segurança de suas crias, sobretudo quando os netos estão juntos.
            Entre idas e vindas, num belo dia, eu e Marlene voltamos pra ficar. Presos a compromissos, os filhos permaneceram na sua.  Agora somos nós cá, eles lá, cada qual no seu CEP.
            O tempo passou e a carruagem andou: pais e mães nos deixaram, um irmão se foi, e alguns amigos também. Mas outros se juntaram, e por sorte temos com quem dividir emoções.
            Difíceis são “aquelas” ocasiões especiais. As que misturam agito, cachorro latindo, crianças correndo pela casa, apertos de mãos e afagos em família. Tudo a ver com o Natal. Não dá pra ficar cada um no seu canto. As redes sociais permitem o tête-à-tête virtual, não o frisson do corpo a corpo.
            Neste ano, nossa festa tende a ser meio borocoxô. Por mais que haja familiares e amigos com quem confraternizar, já sentimos a falta dos “meninos”. Sobrou-nos a difícil tarefa de segurar o vazio que outrora sufocava nossos pais, quando, esperando na janela, convenciam-se de que não iríamos chegar; ficavam a ver navios.
A ficha cai e revela que a vida é uma sucessão sucessiva de sucessões sucessivas.  Tese “sub judice”, inspirada no infalível “efeito Orloff”.
É só um papo inusitado. Nada além de fossa natalina, sinalizando que é hora de pegada, de estender a mão e abraçar apertado. Tempo de saudade e de quero colo.
 
           Feliz Natal, sem medo de chorar!

sábado, 14 de dezembro de 2013

SEIOS SEM MÁSCARAS


         As megamanifestações de junho traçaram um marco divisório na história do Brasil. A partir de então, o país inseriu-se no seleto grupo de pacatas nações tipo Síria, Egito, Iraque, Afeganistão e outras, onde as coisas só se conseguem na base de comportados protestos..., quando se conseguem.
Tudo acontecia em clima de normalidade, até que grupos de arruaceiros se infiltraram e passaram a cometer todo tipo de vandalismo. Irresponsáveis, criaram um clima de guerra, destruindo patrimônio público, depredando e incendiando veículos, lojas e agências bancárias, afora outras selvagerias. As manifestações, que se propunham ser ordeiras e civilizadas, acabaram em violentos confrontos
A grande preocupação desses baderneiros, apelidados de “black blocs”, tem sido a camuflagem.  Cobrem o rosto com camisas, gorros, máscaras e outros adereços que dificultem ou até impeçam a identificação. Sua ação nefasta e criminosa fez surgir, no Rio de Janeiro, uma lei que proíbe o uso de máscaras em protestos de rua, sejam elas de Zorro, Batman, Joaquim Barbosa, Papa Francisco, Lula, Sarney ou quem quer que seja. Protestar, só de cara limpa.
Mas a natureza humana abriga caprichos e contradições. Enquanto uns se escondem para protestar, outros protestam pelo direito de se mostrar.
No próximo sábado, 21, início da estação mais quente do ano, um "Toplessaço" deverá acontecer na orla carioca de Ipanema, em defesa da “naturalização dos corpos”. Será um topless coletivo, bolado pela atriz e produtora Ana Rios. A idéia surgiu enquanto ela participava da Marcha das Vadias, em julho último, junto com a amiga Bruna Oliveira. Durante a marcha, ambas usavam sutiãs e outras integrantes faziam topless. Aborrecidas com a repressão, decidiram promover um “Toplessaço”, prevendo-o para o primeiro dia de verão.
O plano ganhou força após a notícia de que a atriz Cristina Flores foi repreendida por policiais militares, na Praia do Arpoador (14/11), quando era fotografada sem a parte superior do biquíni.
No entender de Ana, o moralismo e o machismo são os culpados pelo espanto que o topless ainda provoca nos brasileiros. "A mulher é vista como propriedade ou objeto a ser desejado. A gente tem muita dificuldade de ser só pessoa. Acaba que os hábitos são todos só baseados nisso. [O topless] é uma coisa que já se estabeleceu no mundo. A gente não conseguiu isso no Brasil. A gente tem o culto ao corpo, mas não tem uma aceitação dos corpos como eles são", disse ela.
Divulgado no Facebook, o plano ganhou o país. Segundo Ana, manifestações semelhantes estão sendo preparadas em inúmeras outras cidades. As promessas de adesão já estão acima de 10 mil pessoas. Aposta-se em sucesso total.
A questão é indiscutível. Negar à mulher o direito de exibir o busto seria uma decisão ingrata, hipócrita e discriminatória, pra dizer o mínimo. Se o homem pode fazê-lo, por que não a mulher? E não faltam machões com mamas até mais salientes que as do belo sexo. 
Importante levar em conta, entretanto, que, os seios sempre despertaram curiosidade e desejo, sobretudo quando sensualmente guardados. Nada tão excitante quanto aquele “um pouco de você” escondido em um ousado decote ou naquela “blusa que você usava e meio confusa desabotoava” – que o diga Roberto Carlos!
Desnudos e exibidos sem pudor, podem perder o encanto, o enigma e o poder de sedução que já valorizaram outros atributos femininos hoje vulgarizados. Compensa arriscar?

- Diário do Rio Doce
- Jornal de Domingo

COMENTÁRIOS


Flatônio
23:53 (5 minutos atrás)
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para mim
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Parabéns, companheiro, você hoje se superou: a crônica está uma delícia.
Pra você e a Marlene um bom domingo.
Abraço amigo do
Flatônio










sábado, 7 de dezembro de 2013

SURPRESAS E ESPERAS

            Seja pelas características pessoais ou por influência do calor, houve gente que surpreendeu nos últimos dias.
            Um deles foi o ex-ministro José Dirceu. Já com carteira assinada, dispensou um emprego de polpudos R$ 20 mil mensais para trabalhar como gerente do luxuoso Hotel Saint Peter, em Brasília. Segundo seu advogado, sentindo-se vítima de um linchamento midiático, ele assim procedeu “para diminuir o sofrimento dos empresários que lhe fizeram a oferta". Certamente referia-se ao panamenho José Eugênio Silva Ritter, um humilde auxiliar de escritório, lavador do próprio carro, que preside a Truston International Inc, controladora do cinco estrelas. Comovente!
            Para Dirceu, entretanto, que disse querer trabalhar “por necessidade”, não haverá problema: uma cooperativa do Distrito Federal, dedicada à ressocialização de presos, já lhe ofereceu R$ 508,50 mensais, para administrar a fabricação de artefatos de concreto. A proposta, protocolada no STF, se estende a Delúbio Soares (não como tesoureiro, sim como assistente de marcenaria, salário igual ao de Dirceu) e a José Genoíno (costurar bolas de futebol, ganhando R$ 5 por unidade). Resolvido!
            O ex-presidente do PT foi também protagonista de outro episódio inusitado. Quando todos esperavam que, de punhos erguidos, fosse lutar contra um eventual processo de cassação, Genoíno renunciou ao mandato. Na carta que encaminhou à Câmara, disse que “entre a humilhação (de ser cassado) e a ilegalidade prefiro o risco da luta e renuncio ao mandato”. A luta, pelo visto, será agora por um laudo médico que lhe garanta aposentadoria por invalidez e justifique que seja mantido no regime de prisão domiciliar em que se encontra.
            O deputado Valdemar Costa Neto, outro mensaleiro condenado, resolveu imitar Genoíno. Ordenada a sua prisão, abdicou do mandato, “para não impor ao Parlamento mais um constrangimento institucional”. Um inesperado gesto de grandeza!
            Quem de fato deixou todo mundo boquiaberto foi o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo. No cenário paradisíaco da Costa do Sauípe, onde o sol escaldante pode ter-lhe afetado o neurônio, ele surfou na imaginação.
            Falando sobre os atrasos na conclusão dos estádios para a Copa de 2014, comparou isso a um casamento.
            “No Brasil há uma instituição muito respeitada, o casamento”, disse o ministro. “É uma festa para duas pessoas. Geralmente um noiva e um noivo. 100% a noiva chegou atrasada. Nunca vi uma noiva chegar na hora. Nunca vi um casamento não acontecer por isso", arrematou.
            Na fantasia de Rebelo, o Brasil seria a noiva retardatária, a Fifa o noivo de plantão, e a Copa o casamento esperado.
            Foi uma forma espirituosa de admitir que alguns estádios não serão entregues no prazo estabelecido.
            O ministro quase acertou na analogia. Faltou-lhe observar que não se trata de demora da noiva, sim da construção da igreja. Haverá casamento?

domingo, 1 de dezembro de 2013

PLANOS NA BERLINDA

            O assalariado brasileiro, sobretudo o mais modesto, não se amarra muito ao noticiário econômico. Faltam-lhe tempo para acompanhar, conhecimentos para entender e razões para acreditar no que é divulgado. Mas sabe quando está sendo lesado.
Para ele importa preservar o que é seu, sem prejudicar o equilíbrio entre o que ganha e os gastos com sustento da família, aluguel, escola, plano de saúde, transporte, serviços públicos e outros compromissos, além de exorbitantes impostos. Se pelo menos houver empate, tudo bem; do contrário, lascou-se.
            Quando, por milagre, sobra algum trocado, a tendência é abrir uma caderneta de poupança, pensando no futuro. Tornou-se a melhor alternativa, por ser uma aplicação teoricamente imexível, inclusive nos seus rendimentos.
            Mas houve momentos em que ficou o dito pelo não dito. Nos planos econômicos Bresser (1987), Verão (1989), Collor I (1990) e Collor II (1991), o governo recorreu a congelamentos que também afetaram os índices da caderneta de poupança. Meteu a mão em dinheiro alheio.
            A reação foi grande. Muitos poupadores foram à justiça, para questionar os novos cálculos. Os números são contraditórios, mas entre individuais e coletivas, existem milhares de ações tramitando nas diferentes instâncias do Judiciário.
            Há controvérsia quanto ao montante a ser pago aos poupadores, caso o Supremo Tribunal Federal (STF) decida pela inconstitucionalidade daqueles planos. Nas contas do Banco Central, ficaria em torno de R$ 150 bilhões. Mas o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor vê exagero nessa estimativa. Segundo seus cálculos, seriam pouco mais de R$ 8 bilhões.
            Durante anos, essas ações mereceram pouca atenção dos reclamados, que quase não acreditavam na possibilidade de elas prosperarem. Equivocados, e chegada a hora de a onça beber água, entraram em desespero; fazem de tudo para se livrar de uma pesada derrota.
            O medo é tanto que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, procuraram os ministros do STF, para tentar convencê-los de que uma eventual decisão favorável aos poupadores poderá acarretar graves perdas econômicas. Isso o povo está vendo e talvez até compreenda: a defesa faz parte do jogo.
Inaceitável, entretanto, é o acintoso lobby que vem acontecendo através dos meios de comunicação, com o indisfarçável propósito de confundir a opinião pública e forçar uma decisão em favor dos banqueiros.
            Jornais e revistas dos últimos dias estamparam afirmações de que uma vitória dos poupadores, se confirmada, ameaçaria o sistema financeiro, com risco de quebradeiras. Afora outros argumentos alarmantes, chegou-se ao descaramento de criticar o fato de os R$ 150 bilhões deixarem de ser lucro, para transformar-se em prejuízo dos bancos, assim descartando o recolhimento de R$ 60 bilhões de imposto de renda e outros tributos. Quanto a isso, os defensores do calote certamente desconsideram que o governo tem faturado sobre esses valores, enquanto estão em poder dos bancos. E continuará faturando, à medida que, devolvidos a seus legítimos donos, forem injetados na economia.
Outra vez o Brasil corre o risco de mostrar ser um país onde os pequenos só ganham quando perdem pouco.
Os homens do dinheiro, habituados a expressivos lucros, não podem sofrer prejuízos. Os assalariados, aposentados e outros pequenos aplicadores podem. Impossível entender, tampouco aceitar!
            Ainda bem que a questão está nas mãos do STF, onde começou a ser julgada, na última quarta-feira. Ali o presidente Joaquim Barbosa tem se mostrado implacável justiceiro. Não se curvou diante de prepotentes mensaleiros, e também não o fará perante gananciosos banqueiros. É no que se confia!

 

sábado, 23 de novembro de 2013

PARAR PRA QUÊ?

            Num setor dominado pela burocracia, onde se criam dificuldades, para vender facilidades, onde prestígio e influência são moedas fortes, perde-se muito tempo e dinheiro entre conceber e concretizar obras de interesse público.
            Nas empreitadas de grande porte é o que mais acontece, pelo fato de mobilizarem maior quantidade de grana. Políticos e empresários recorrerem a tudo que lhes possa assegurar pelo menos uma boa fatia da bolada. A eles pouco importam os atrasos e prejuízos resultantes das tramóias que praticam. Seus objetivos ficam sempre acima do que consideram “pequenos detalhes”.
A novela da duplicação da BR-381 dispensa mais exemplos: há anos idealizada, a obra até hoje não passou de promessa. Mas tem servido de plataforma política para inúmeros oportunistas e enchido os olhos de várias empreiteiras. Além de perdas materiais e econômico-financeiras, seus criminosos adiamentos já provocaram milhares de tragédias. Na iminência de sair do papel, reinava a certeza de que não mais haveria pregos a remover. Ledo engano.
De cara, o Ibama acaba de negar a autorização de sua competência, porque parte da mata atlântica existente à margem da rodovia será eliminada durante os trabalhos. Exige compensações ambientais acima das que já foram oferecidas. Pode ser uma exigência cabível, mas absolutamente extemporânea; acarretará nova e perniciosa demora.
 Após iniciada, caso constate graves irregularidades, o Tribunal de Contas da União (TCU) poderá recomendar o embargo da obra, como recentemente fez com uma série de outras. Entre essas, a construção da BR-448, na região metropolitana de Porto Alegre, recentemente visitada pela presidente Dilma Rousseff.
Na defesa de seu rincão político, ela não deixou por menos. Em claro português, disse que “eu acho um absurdo paralisar obra no Brasil. Você pode usar de vários métodos. Agora, paralisar obras é algo extremamente perigoso. Porque depois ninguém repara o custo. Se houve algum erro por parte de algum agente que resolveu paralisar, não tem quem repare, a lei não prevê".
O TCU respondeu que é seu papel constitucional fiscalizar a aplicação dos recursos públicos, apontando as irregularidades que constatar. Citou como exemplo a rodovia gaúcha defendida por Dilma, onde há indícios de superfaturamento da ordem de R$ 90 milhões. Mas ressalvou que compete ao Congresso Nacional decidir sobre a paralisação dos trabalhos.
Em sentido estrito, o ponto de vista da presidente é no mínimo plausível. Obras adormecidas, qualquer que seja o motivo, geram pesadas contas que acabam no colo do contribuinte. Veja-se a transposição do Rio São Francisco, que, pelos mais estapafúrdios pretextos, nos locais onde não está parada, anda igual tartaruga perneta. Orçada em R$ 4,8 bilhões, a obra se aproxima de R$ 10 bilhões. Não se sabe quando será concluída, nem quanto afinal custará. E há várias outras seguindo no mesmo ritmo.
Anormalidades são intoleráveis e devem ser energicamente coibidas. Precisa haver, entretanto, um meio de evitar ou mesmo impedir que elas ocorram e cresçam a ponto de justificar a paralisação de uma obra. Se acontecerem, que se penalizem os criadores, não as criações e criaturas. Aos especialistas no assunto cabe descobrir a fórmula mágica; e é bom que o façam com rapidez. Lembrando que se falta de planejamento, descontrole, superfaturamento, desvio de recursos, incompetência administrativa e outras mazelas forem motivos para interromper ações, o Brasil pode desligar as turbinas, apagar as luzes, cruzar os braços  e deixar o abacaxi nas mãos de Deus; se Ele aceitar!

domingo, 17 de novembro de 2013

MISTÉRIOS E VERDADES

            Causa, circunstância ou outros fatores, a morte de gente famosa quase sempre envolve mistério, controvérsia ou, no mínimo, alguma curiosidade.
Em visita a Dallas, em 1963, o então presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, desfilando em carro aberto, foi fatalmente atingido por dois tiros. Lee Oswald, que trabalhava em um depósito de onde partiram os disparos, foi preso e responsabilizado. Pouco depois, quando era levado para outra prisão, também acabou assassinado por Jack Ruby. Ainda há a presunção de que Kennedy não foi eliminado por Oswald, mas sim pela CIA, por ser contrário a certos tipos de operações da agência.
            A morte da Princesa Diana, em trágico acidente de carro ocorrido em Paris (agosto/1997), ainda está submersa em várias suspeitas. Fala-se em queima de arquivo, em trama muçulmana para eliminar Dodi Al-Fayed (o bilionário egípcio que a acompanhava), e até em responsabilização da Família Real inglesa. Sem contar a teoria de que Diana e Dodi estariam vivos, e que tudo não passou de um plano para que pudessem curtir a vida a dois, longe da mídia. Muitas investigações foram feitas para determinar as causas da violenta batida, mas nada foi encontrado, além de sinais de fatalidade.
             A célebre atriz Marilyn Monroe é responsável por outra dúvida. Sua morte ocorreu em agosto de 1962, enquanto dormia. Na ocasião, especulou-se que sua ligação com a família Kennedy e com o gângster Sam Giancana teria feito dela uma ameaça a segurança nacional. Isso justificaria seu assassinato. Prevalece, contudo, a versão oficial de overdose pela ingestão de barbitúricos.
            No Chile, a morte do ex-presidente Salvador Allende, registrada durante o golpe militar comandado por Augusto Pinochet, só foi esclarecida 40 anos depois.  Perícia realizada em seus restos mortais mostrou que ele não foi assassinado, cometeu suicídio.
            Já o poeta chileno Pablo Neruda morreu de câncer.  A afirmação foi dada pelo diretor do IML do Chile, no último dia 8, ao divulgar laudo unificado de legistas espanhóis, chilenos e norte-americanos sobre a “causa mortis” do Prêmio Nobel de Literatura. Até então, predominava a suspeita de que ele teria sido envenenado, em 1973, por ordem de Pinochet.
            O Brasil coleciona vários casos intrigantes.
            Um dos mais emblemáticos envolve o ex-presidente Getúlio Vargas que, segundo a história, se suicidou. Porém a atriz Virgínia Lane – para quem ”a barriguinha dele atrapalhava, mas tudo se resolvia na horizontal” – tem outra versão: “Eu estava na cama com ele. Entraram quatro mascarados e atiraram no presidente. GG mandou o (segurança) Gregório me atirar pela janela (para me proteger). Fraturei costela e braços. Vou contar isto no meu livro de memórias, que está no prelo. Eu morro, dizendo a verdade”.
            O fim do ex-presidente Juscelino Kubitscheck é outro poço de dúvidas. Até hoje não se sabe, com absoluta certeza, se o episódio em que ele perdeu vida, na Rodovia Presidente Dutra, foi acidental ou premeditado.·.
            Da mesma forma, a morte de Tancredo Neves deixou sérias indagações. As circunstâncias em que os fatos se desenrolaram, agravadas por inconcebíveis erros médicos, se transformaram em fantasmas que dificilmente serão exorcizados.
            No momento, o foco está direcionado para o ex-presidente João Goulart, deposto pelo golpe militar de 1964 e morto no exílio, em 1976. Seus restos mortais foram recentemente exumados, para exame. O objetivo é apurar a causa de seu falecimento, apontada como sendo ataque cardíaco. Suspeita-se que ele tenha sido envenenado.
 A perícia deverá estar concluída até 6 de dezembro, data da morte de Jango, quando seu corpo retornará para São Borja (RS), para novo sepultamento, agora com honras de chefe de Estado.
            Há hoje ampla tecnologia capaz de comprovar cientificamente o que de fato aconteceu. Dizem os especialistas que a margem de êxito fica bem próxima de 100%.
            A esperança é que isso estimule a busca de outras verdades, sejam elas quais forem, e doam em quem doer. A história ganhará mais credibilidade.

·          Jornal de Domingo
·          Diário do Rio Doce

domingo, 10 de novembro de 2013

NA BASE DO OTIMISMO

            Na contramão do contexto nacional, onde tudo caminha em frenéticos passos lentos, Valadares parece atravessar outra época de bons presságios, com rápidos avanços presumíveis. O horóscopo garante incertas conquistas em todas as casas do zodíaco.
            Não custa relembrar que a atual onda de otimismo surgiu com a chegada da universidade federal. A ampliação da base educacional elevou a crença em um futuro mais promissor. E essa confiança adquiriu maior dimensão depois que TCU concedeu sinal verde para que se inicie a construção do campus local da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).   
            Outro concreto empurrão na fé valadarense foi dado pelo governo mineiro, quando contemplou a cidade com um hospital regional que promete ser dos mais modernos e bem equipados. A obra evolui conforme cronograma.
            No campo das probabilidades, entretanto, se alojam velhas e grandes aspirações. Todas objeto de promessas que constantemente saem das bocas políticas, mas nunca saem do papel.
            Bons exemplos são a ampliação e modernização do Aeroporto Coronel Altino Machado e a restauração do prédio da Açucareira.  Vira e mexe entram na ordem do dia, ocupam os noticiários, criam expectativas, mas não decolam. Enquanto isso a cidade segue contabilizando prejuízos irreparáveis: perde visitantes e negócios, por não dispor de um campo de pouso à altura das exigências modernas, e elimina a chance de utilizar como atração turística, empresarial e sociocultural um espaço que integra seu patrimônio histórico.
            Motivo de muitas noites de insônia, a perspectiva em torno da duplicação da BR 381 mudou o foco. Agora é brigar para que a obra – finalmente autorizada – alcance Valadares. As lideranças locais se dizem mobilizadas nesse sentido. Tomara que os políticos “chapas-brancas” estejam juntos e de fato tenham cacife para peitar o Governo Federal!
            A inclusão do município na área de abrangência do Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Idene) deverá refletir positivamente. Mas ainda depende de aprovação da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Parece certa, porém é bom esperar o “preto no branco”.
.A esperança do momento é a vinda de uma grande empresa do setor atacadista de alimentos. Especula-se ser o Carrefour, que compraria da União Ruralista parte do Parque de Exposições José Tavares Pereira. Ali faria um investimento de R$ 30 milhões, que, já na primeira etapa, geraria 250 empregos diretos e 400 indiretos. Nem assim é dado como certo. O risco de aborto é um inusitado Projeto de Lei Complementar que tramita na Câmara Legislativa, impondo limites e exigências para execução de obras de grande porte no local cogitado.  
Amenizando a fama de que Valadares é uma cidade “amarrada” em sonhos, a Prefeitura entregará, amanhã, 151 moradias populares, construídas com recursos do Fundo de Arrendamento Familiar, ao amparo do Programa Minha Casa Minha Vida. Nada menos de 600 pessoas serão beneficiadas.
No atacado, tem gente oferecendo ovos que ainda não estão no ninho.
 Alguns receiam que tudo não passe de repetidas promessas eleitoreiras; a maioria tem certeza. É esperar, pra ver! 
           


domingo, 3 de novembro de 2013

NA HORA CERTA


A violência não é problema incomum, tampouco exclusividade de qualquer nação. Pelo contrário, é mal genérico e banal.  Com maior ou menor intensidade, acontece no mundo inteiro.
No Brasil, se alastrou de tal forma, que ficou endêmica e fora de controle. Cada vez mais pavorosos, os índices crescem com incrível velocidade, como se nada fosse capaz de interceptar seus formadores.
Nos quatro cantos do país a insegurança e o medo tomam conta da sociedade. Mulheres, idosos e crianças são as maiores vítimas.
A mídia despeja uma enxurrada diária de notícias sobre roubos, assassinatos, sequestros, estupros e outros delitos. Crimes das mais diferentes naturezas acontecem com impressionante frequência.
Repetindo John Lennon, "Vivemos num mundo onde temos que nos esconder para fazer amor, enquanto a violência é praticada à luz do dia". Nossa Constituição diz que a segurança pública é dever do Estado, mas deve ser compromisso de todos. Sob esse fundamento, fica claro que o êxito do combate à violência depende de mútua colaboração entre a sociedade e as forças oficiais.
Igual entendimento foi demonstrado pelo papa Bento XVI, no encerramento da 81ª da Assembleia Geral da Interpol (nov/2012). Naquela ocasião, Sua Santidade defendeu que "combater a violência é um compromisso que deve envolver não só as instituições e organismos, mas a sociedade como um todo, incluindo as entidades religiosas. Cada um tem a sua parcela específica de responsabilidade por um futuro de justiça e de paz".
Trocando em miúdos, na luta contra a brutalidade não bastam uma polícia de boa qualidade e um judiciário competente. Impõem-se também investimentos na saúde, educação, transporte habitação e outros serviços públicos, além de mais justa distribuição de renda e medidas geradoras de empregos. Exige sobretudo forte mudança nas políticas públicas e maior participação da comunidade nos debates e equacionamento do problema.
Dados do “Mapa da Violência 2013: Homicídios e Juventude no Brasil” deixam Minas em posição desconfortável entre os estados do Sudeste. Foi o único a registrar aumento no número de crimes. Ainda assim, o governo mineiro tem dado provas de que o combate ao mal está entre suas metas. Independentemente do que vem sendo feito em outras áreas do estado, Governador Valadares é bom exemplo dessa conduta.
Desde novembro de 2011, a cidade conta com o Programa Olho Vivo, que instalou 54 câmeras de videomonitoramento para diminuir o índice de delinquência. Tudo graças a uma profícua parceria entre a Prefeitura e o governo do Estado. O resultado foi uma queda superior a 50% no número de crimes violentos registrados nos primeiros cinco meses de 2012, em comparação com igual período do ano anterior (dados da Polícia Militar de Minas Gerais).
Outra demonstração de intolerância para com a violência aconteceu na última quarta-feira (30). A 8ª Região da PMMG, aqui localizada, recebeu 20 novas viaturas a serem utilizadas no trabalho de prevenção e repressão à criminalidade. Segundo o coronel Sérgio Henrique Soares Santos, comandante da unidade, “este é apenas o primeiro lote de viaturas recebidas. Outros 73 veículos serão entregues em 2014”.
O presente chegou em boa hora e a comunidade está grata. Mas não é suficiente para alcançar o que se pretende. O inimigo é forte e, para derrotá-lo, há necessidade de muito mais.
Tudo bem que “de grão em grão a galinha enche o papo”. Na briga contra a violência, entretanto, haja grão para tamanho papo. Aqui ou acolá.

domingo, 27 de outubro de 2013

FORA DE CONTEXTO

            Enquanto os moradores de quase todas as grandes cidades brasileiras se afogam em lixo, o carioca festeja uma limpeza urbana que foge dos padrões convencionais.
            Sem envolver milagres ou ações extraterrestres, as calçadas e praias do Rio de Janeiro vêm se apresentando cada vez mais limpas. A receita está no Programa Lixo Zero, implantado pela Prefeitura, em agosto deste ano. Trata-se de iniciativa que visa diminuir a quantidade de sujeira nas ruas, conscientizando a população e multando os “sujismundos”. Busca-se ainda reduzir os gastos com a limpeza pública, avaliados em quase R$ 100 milhões/mês.
            Estimulado por resultados positivos contabilizados em Nova York, Paris, Tóquio e outras grandes metrópoles mundiais, o prefeito Eduardo Paes resolveu adotar uma agressiva estratégia de repressão à imundície: multar o cidadão que sujar espaços públicos. O valor da canetada varia de R$ 157 a R$ 3 mil, conforme o volume do lixo descartado.
Inicialmente visto com ceticismo, o programa esta dando certo. O balanço relativo ao primeiro mês de vigência mostra que mais de duas mil pessoas foram multadas, a maioria por pequenos resíduos, tipo pontas de cigarro.
Na avaliação da Companhia Municipal de Limpeza Urbana, a cidade já ficou mais limpa.  A quantidade de resíduos no chão diminuiu 50% no Centro e 46% em Copacabana. Em Ipanema, Leblon, Lagoa, Gávea e Jardim Botânico a queda foi de 42%.
Em ritmo de evolução, o programa começou a multar também motoristas e passageiros de veículos. Qualquer descarte feito pela janela está sendo punido, desde a última quarta-feira (23/10).
Falando sobre perspectivas em relação ao comportamento das pessoas no descarte do lixo, Eduardo Paes disse que “o que a gente espera é que seja uma mudança cultural mesmo. Se não houver uma participação da sociedade, muito pouco vai poder ser feito”.
Bem sucedido, o programa tem despertado o interesse de muitas outras prefeituras. Não faltam prefeitos desejosos de adotar a mesma tática em suas localidades.
O problema é que não se pode cogitar de limpeza em áreas onde a conservação é tratada com absoluta indiferença; em que avenidas, ruas e calçadas são quase intransitáveis, devido à absurda quantidade de buracos, desníveis e outros obstáculos. Moralmente, não é justo cobrar cidadania de quem não é respeitado em seus direitos, muito menos retribuído pelos extorsivos impostos que paga.
Para ter êxito, o Lixo Zero envolve, antes de tudo, um bom acordo com pombos, pardais e outros pássaros, além das árvores, para que nada despejem no chão. Afora isso, requer que os locais públicos recebam um mínimo de atenção dos responsáveis pela sua boa qualidade. Valadares não se enquadra, pelo menos de momento.


domingo, 20 de outubro de 2013

AJUSTANDO O RELÓGIO

               Corroborando a tese de que não só as coisas boas se repetem, o horário de verão está de volta. Moradores de grande parte do território nacional acordaram sob seu comando. Preciosos 60 minutos lhes foram surrupiados, após a zero hora de hoje.
            Adotado por cerca de 30 nações, o horário de verão originou-se na Inglaterra (1907), embora o primeiro país a adotá-lo tenha sido a Alemanha (1916). Em pleno conflito mundial, a economia de energia foi considerada importante esforço de guerra, diminuindo o consumo de carvão, principal fonte energética da época.
            No Brasil foi instituído em 1931, pelo então presidente Getúlio Vargas, mas só após 1985 tem vigorado sem interrupção, nos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste (afora Tocantins, excluído a partir deste ano).
            Em 2008 estabeleceu-se que a mudança de horário – antes definida por decretos anuais – acontecerá invariavelmente no terceiro domingo de outubro e terminará no terceiro domingo de fevereiro. Se este coincidir com o carnaval, o encerramento será adiado para o domingo seguinte.
            Sempre que colocada em prática, a medida polariza as opiniões em torno de sua conveniência e eficácia. Poucos se mostram favoráveis, enquanto a grande maioria fica dividida entre os que não gostam, os que abominam e os que gostariam de “exterminar” os responsáveis por sua adoção. Há também os que anseiam por sua chegada, só pra ter a chance de festejar e soltar foguetes no seu enterro.
            Para os muitos opositores, o horário de verão só convém aos políticos, aos servidores públicos do alto escalão, aos aposentados, aos genros de sogro rico e aos malandros que não têm hora para sair da cama, entre outros.
            Os que começam a trabalhar nas primeiras horas do dia, os estudantes do turno matinal, seus pais, e os que curtem a noite mas têm obrigações na manhã seguinte, estão entre os que mais detestam a medida.
            O grande questionamento tem sido em relação ao seu custo/benefício, ou seja, se a economia de energia justifica os transtornos causados à população.
            Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) – entidade responsável pela área –, o estímulo para adoção desse instrumento no Brasil é a segurança do sistema, não predominando a economia de energia elétrica.
            No verão eleva-se o consumo, sobretudo em torno das 18 horas, quando as pessoas voltam aos seus lares e ligam luzes, televisores, chuveiros, etc., no momento em que a iluminação pública também é acionada. Esse súbito aumento da demanda pode desestabilizar o sistema elétrico.
            Com a iluminação natural ainda presente, o horário de verão permite que a entrada da iluminação pública seja retardada, de forma a não coincidir com a chegada das pessoas em casa, após o trabalho. Assim, o aumento da demanda se dá de forma mais gradual, melhorando a segurança do sistema, esclarece o ONS.
            Em termos financeiros, espera-se uma economia de R400 milhões nos quatro meses de vigência do horário, bem maior do que a obtida no último período, em torno de R$ 160 milhões.
                Nesse ponto, é inevitável um parêntesis, para observar que se trata de valor irrisório, comparado com o dinheiro despejado no ralo da corrupção nacional. Segundo estimativa da Federação das Industrias do Estado de São Paulo (Fiesp), divulgada em maio último, o rombo fica entre R$ 40 a R$ 70 bilhões por ano. Mas isso é mero comentário, que nada tem a ver com o tema sob abordagem.
Explicações à parte, o novo horário está em vigor e, gostando ou não, com ele teremos de conviver até zero hora de 16.02.2014.
            O consolo é que, segundo velho ditado, “Deus ajuda quem cedo madruga”. Que seja verdade!  

 

 

sábado, 12 de outubro de 2013

"CASA ARRUMADA"

            Depois que a presidente Dilma Rousseff disse estar numa fase de “grandes beijos” com todo o Brasil, o jeito é mudar o foco e dar um refresco ao leitor. Nada de política, políticos, corrupção, inflação e outros temas enfadonhos e cansativos.
            Pra turbinar a leveza do momento, melhor é reproduzir o poema “Casa Arrumada”, recebido como sendo de Carlos Drummond de Andrade. De ótima qualidade, seria mesmo do grande poeta. Mas no Google há registro de que a autora é a carioca Lena Gino, dona do blog Mundo Paralelo.  

“Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto.
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos... Netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar.”  

            Veio da minha filha Mônica Cristina, com essa carinhosa introdução: “Primeiro, agradeço ao pai e à mãe, que me deram, por muitos e felizes anos, uma casa com cara da gente. Sinto saudade das bagunças, das vozes, das músicas, das festas. O tempo passou rápido, mas me deixou boas lembranças. Fico feliz por ter aproveitado! As recordações estão por toda parte E estou contente porque eu e meus irmãos, Rodney e Débora, trouxemos pessoas que amamos, que trouxeram mais pessoas para enfeitar nossas festas, nossas fotos. Vivi muito, e que Deus me permita, ainda, viver por bons anos com vocês, escrevendo nossa história, que compõe nossa casa”.
Todo mundo gostou do poema e do que Mônica disse. Sobretudo eu!




COMENTÁRIOS:
From: weber torres (via gmail)
13.10.2013
 Etelmar, bom dia. Que a paz de Deus esteja com você e todos os seus. Acordei hoje com saudade. Saudade não sei de que, ou quem sabe, saudade de tudo. Do que fizemos de certo, do que fizemos errado também. O certo nada é mais que nossa obrigação, pois,  fomos criados apara isto. Porém no errado, caimos, nos machucamos, curamos as feridas e aprendemos a termos mais cuidados para não voltar a cair novamente.  

Tetel,   sua crónica de hoje me tocou muito.  Você está acostumado a falar de muitas coisas, de pessoas que passaram e você viu passar. Porém, hoje você falou de uma coisa muito preciosa. Posso, com certeza, afirmar que é a coisa mais preciosa de sua vida.Falou de seus filhos. Pelo que eu o conheço,  família para você está em primeiro lugar. "È prato que ninguém inventa", como diz o trecho do livro Arroz de Palma. E eu sinto muito feliz em poder estar muito próximo a esta família. Feliz domingo para vocês e todos os que você encontrar.

wmi 

De Flatônio José da Silva (via e-mail)
13.10.2013
Eu também gostei muito, tanto do poema quanto das inspiradas palavras da querida Mônica. Sou testemunha de que sua casa sempre foi “arrumada”, com mesa farta, cerveja gelada (muitas vezes da promoção, é verdade), boa música, festas animadas, muita gente simpática. Que Deus a converse assim.
Bom domingo, com meu abraço amigo pra você e a Marlene.
Flatônio

              De Wanderly Santos (via e-mail)
              13.10.2013
Bom dia E.L
Nao conhecia e gostei muito "CASA ARRUMADA"
" do poeta Itabirano 
 
Mas adorei  as palavras da Mõnica Cristina , parabens pelo amor e carinho, trasmitida  naquela mensagem .
 
Quero tb , se DEUS permitir , receber algo parecido de filha.
 
Parabens a Marlene , ela tb è responsável