O
fenômeno é compreensível, em se tratando de uma megarrealização que mexeu com
os nervos mundiais e, em especial, abalou não só o emocional, mas as finanças
brasileiras.
O
governo, como era de se esperar, permanece alardeando o sucesso do evento, dele
tirando o possível proveito. Os adversários, por sua vez, procuram faturar em
cima das promessas não cumpridas, aproveitando para criticar os bilionários
gastos com investimentos que só o tempo dirá se foram ou não supérfluos.
Resta
saber se a polêmica chegará aos palanques eleitorais, e até que ponto poderá
interferir no resultado do próximo pleito.
As
opiniões estão divididas, mas predomina o entendimento de que a derrota da
Seleção brasileira nada tem a ver com as eleições; uma coisa é uma coisa, outra
coisa é outra coisa.
Para
o professor de Ciência Política da FGV-SP, Cláudio Couto, “o que podia cair no
colo do governo é a organização da Copa, mas nesse sentido tudo ocorreu dentro
do razoável”.
O
consultor João Augusto Neves, da consultoria de risco político do Eurasia
Group, em Washington, também acha que "qualquer impacto da derrota terá um
efeito marginal sobre as eleições daqui a quase três meses". Segundo ele,
há fatores mais importantes em jogo nesse pleito do que a Copa, e o principal
deles é o custo crescente de uma desaceleração da economia.
Acredita-se que essa
corrente esteja apoiada em precedentes que mostram pouca ligação entre os
resultados de futebol e eleições nacionais.
No
pleito de 1998, FHC reelegeu-se no primeiro turno, logo após o Brasil ser
derrotado pela França, na final da Copa daquele ano.
A
conquista do Penta, em 2002, não evitou que José Serra, candidato do governo, perdesse
para Lula, poucos meses depois.
O
Brasil foi derrotado nas Copas de 2006 e 2010, anos em que o governo saiu
vitorioso nas urnas, com Lula e Dilma Rousseff.
A
questão é que, em todas aquelas ocasiões, os resultados de nossa Seleção foram
obtidos longe do país, em níveis até certo ponto aceitáveis, quando não merecedores
de calorosos aplausos.
Este
ano, frustrando todas as expectativas, um fracasso aconteceu em casa, sob os
olhos atônitos de milhões de brasileiros e estrangeiros que ainda hoje não
acreditam no que viram.
E
não foi um resultado qualquer. Foram duas derrotas consecutivas, uma de 7 a 1
para a Alemanha, na semifinal, outra de 3 a 0 para a Holanda, na final, “fechando
a tampa do caixão”. O maior vexame do futebol brasileiro.
Por
mais entendidos que sejam, os analistas não devem se basear em reações
passadas, para presumir o comportamento do brasileiro nas próximas eleições. Os
contextos são bastante diferentes.
Até
porque ficou difícil não associar o pífio desempenho dos atletas, treinadores e
dirigentes de nossa Seleção com a forma de agir dos políticos e governantes do
país. O pensamento dominante é que se faz necessária uma “limpa geral”. E não é
pra menos!
- Jornal de Domingo