A facilidade com que o Brasil elege seus heróis
e vilões é diretamente proporcional à rapidez com que esses conceitos se
revezam na opinião popular. Talvez esteja
nisso a razão de o país ser tão vítima de lideranças passageiras.
Até
o momento em que caiu em desgraça, o senador Demóstenes Torres desfrutava de grande
idolatria. Por sua atuação parlamentar, era visto como mosqueteiro da ética,
paladino da lei e da moralidade. O escândalo Cachoeira, contudo, revelou seu mau-caratismo,
exibindo-o como abominável contraventor, capaz de iludir os mais experientes
observadores. Sua imediata transformação em vilão foi outra mostra de que não
se deve precipitar na entronização de ídolos, por melhores que sejam as
aparências.
Mas
o brasileiro é tão pródigo em boa fé, quanto carente de lideranças. Em meio à
corrupção e à impunidade que assolam o país, qualquer gesto de honestidade ou
de cumprimento do dever logo é visto como heroísmo digno de tributo.
Nem sempre os
responsáveis por boas atitudes cobram reconhecimento, mas a raridade com que aparecem
os torna alvos de especial reverência.
É
o caso do ministro Joaquim Barbosa, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF).
Audacioso e destemido, Barbosa foi destaque
em 2009, num acalorado “bate-boca” com o ministro Gilmar Mendes, então
presidente do STF. À época, reagindo a uma admoestação de Mendes, não hesitou
em retrucar que ele estava “destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro”.
Em seguida, cobrando respeito, bradou que “Vossa Excelência, quando se dirige a
mim, não está falando com seus capangas do Mato Grosso”.
Esse
o personagem que voltou às manchetes, na condição de relator do processo
“mensalão”, sob julgamento no STF.
Seu
desempenho na Alta Corte, enérgico e contundente, tem lhe valido os mais calorosos
aplausos, transformando-o na grande esperança de punição dos culpados.
Na
sua simplicidade, Barbosa já se mostra constrangido diante dos elogios, preferindo
declinar da fama de herói e dizer-se mero “barnabé” da famigerada ação.
Ele sabe não estar praticando nenhuma bravura;
apenas cumpre sua obrigação. De especial, só o fato de ser o primeiro a
condenar criminosos de colarinho branco.
Em
terra de escassas virtudes, Barbosa terá esta e muitas outras ocasiões de expor
suas boas qualidades, sem precisar de pedestais.
A
forma como tem se comportado afasta dele as nuanças de herói de época, enquanto
lhe sobram predicados capazes de colocá-lo na galeria dos consagrados vultos
nacionais. No momento certo!