Terremotos,
tsunamis, inundações e epidemias são realmente fatos desastrosos.
Mas há vários outros
agentes causadores de tragédias, entre eles a negligência, a imperícia, a
imprudência e a ganância do homem.
Quando elas se
mostram em toda sua intensidade, torna-se mais fácil o socorro às vítimas e a
quantificação de perdas e danos.
Difíceis
são as que acontecem sorrateiramente, tipo doenças que se instalam e evoluem sem
que sejam notadas. Não provocam ondas gigantes, desmoronamentos, naufrágios ou efeitos
especiais. Apenas sequelas abstratas, que o tempo se encarregará de tornar perceptíveis.
A essa altura, a reação será indesejável, mas por certo inevitável.
O
direito de calar-se, invariavelmente exercido pelos suspeitos de cumplicidade
no caso, tem ridicularizado a “CPI do Silêncio”, incumbida de apurar o
escândalo Cachoeira. Numa sequência afrontosa e irritante, deputados e
senadores são transformados em bobocas, enquanto o povo banca o custo da palhaçada.
A recompensa é que, de vez em quando, por lá aparecem a atual e a ex-mulher de
Cachoeira, desfilando beleza e exuberância física em que todos se ligam.
Ao
mesmo tempo, no Supremo Tribunal Federal, renomados e bem pagos advogados
ocupam a tribuna para defender os acusados de participar do “mensalão”, um dos
maiores escândalos da nossa história política. Até aí tudo bem; todos têm
direito a defesa. Mas são irritantes os ridículos argumentos e a desfaçatez com
que afrontam as evidências dos fatos e a inteligência do mais leigo observador.
Se depender desses protetores, a “quadrilha dos inocentes” sairá do STF absolvida
e canonizada.
São
demonstrações de que o Brasil está sendo devastado por um exército de
contraventores do colarinho branco, desafio a uma democracia conquistada sob
enormes sacrifícios.
Pior
é não poder confiar nas equipes de salvamento, impregnadas por elementos
suspeitos de autoria ou coparticipação nas mazelas que se pretende combater.
O
processo vem de longa data, encobrindo vergonhosa série de escândalos
milionários. Basta lembrar os sanguessugas, os anões do orçamento, o Fórum do
TRT paulista, o Banco Marka, os vampiros da saúde, entre os mais “cabeludos”.
O
resultado é essa avalanche silenciosa, provocada por mentiras, tramóias,
dissimulações, jogos de interesse e outras formas de corromper. Uma catástrofe
que sepulta esperanças de justiça, tornando cada vez mais gritantes e
acentuados nossos desníveis sociais.
Enquanto
isso, o Brasil segue empilhando mortos de raiva e arrependimento, ao lado de
feridos no bolso e na dignidade. Coisas de patropi.