domingo, 2 de outubro de 2011

“QUE PAIS É ESSE?”

            Apesar da esperança que se acalenta em torno de uma mudança de cenário, acontecimentos têm mostrado que a corrupção, as manobras escusas e o jogo de interesses ainda estão longe de se tornarem páginas viradas na política e na administração nacionais.
            Os políticos, sobretudo, não se preocupam com a queda de sua reputação, se é que ainda haja espaço para isso. Basta lembrar a decisão da Câmara dos Deputados que, no final do último agosto, por folgada maioria, rejeitou o pedido de cassação da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF). De nada adiantaram as filmagens que mostravam a parlamentar recebendo maços de dinheiro do ex-secretário Durval Barbosa, pivô do escândalo conhecido como “mensalão do DEM” do Distrito Federal.
            Atitudes reprováveis pela opinião pública, entretanto, não são exclusivas dos políticos; também acontecem no âmbito do judiciário. A mais recente partiu do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que anulou todas as provas obtidas pela operação da Polícia Federal que investigou os negócios do empresário Fernando Sarney e outros familiares do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Os ministros do tribunal entenderam que as provas foram obtidas de forma ilegal. 
            Segundo o noticiário, aliviado com essa decisão, Sarney reiterou que só deixará a vida pública sobre um carro do Corpo de Bombeiros. “A política só tem porta de entrada”, repetiu o cacique maranhense. Como os demais políticos envolvidos em denúncias, ele só conhece a via de acesso à vida pública, que entende não ter mão dupla.
            Ainda bem que a reação popular aconteceu logo a seguir, em um dos memoráveis momentos do Rock in Rio 2011. Foi quando Dinho Ouro Preto, líder e vocalista da banda Capital Inicial, dedicou às oligarquias e a José Sarney, a música “Que país é esse?”, composta pelo saudoso Renato Russo, há quase trinta anos. O grande sucesso da “Legião Urbana” contém em sua letra “Nas favelas, no Senado/ Sujeira pra todo lado/ Ninguém respeita a Constituição/ Mas todos acreditam no futuro da nação./ Que país é esse?/ Que país é esse?/ Que país é esse?”. O público cantou junto, aproveitando para protestar contra o que há de errado no panorama político nacional.
            A luta contra paradoxos, incoerências e bandalheiras é sempre árdua. O combate aos agentes do mal exige comando inteligente e alianças fortes.
            O leitor Túlio Reis Gomes, em atenciosa mensagem a esta seção, contextualizou os acontecimentos de forma lúcida e precisa. “Vejo o povo brasileiro – infelizmente me incluo nesta “manada” – extremamente passivo diante da gravidade dos fatos políticos que temos acompanhado. Daí a importância de algumas lideranças – mídia, OAB, CNBB etc. – tomarem as rédeas de um processo de combate e crítica às atuais práticas políticas que prevalecem em todos os níveis no nosso País. Se houver uma liderança, ou melhor, lideranças, a indignação do povo encontrará amparo. Sem estas lideranças a população se sente órfã e não tem forças para lutar”, disse ele. Vale reflexão.