Por Etelmar Loureiro
- Diário do Rio Doce - 30.08.2018
Faltando
pouco mais de um mês para o seu primeiro turno, não há lembrança de uma eleição
tão prestigiada pelo desinteresse
popular. Como se fosse uma retrospectiva de campanhas, só se vê a repetição de chavões
e promessas surradas, feitas por candidatos também desgastados ou incapazes de gerar
qualquer esperança de renovação.
Há
nada menos de 13 aspirantes à Presidência da República. Alguns são velhos
conhecidos, figurinhas carimbadas. Nem mesmo com a ajuda de hábeis e onerosos
marqueteiros, conseguem fugir da mesmice que torna ridículas as suas exposições.
Os neófitos também não causam empolgação,
inclusive quando acenam com metas arrojadas, pois não indicam a origem dos
recursos que lhes permitirão executá-las.
Sempre
depositei nas pesquisas eleitorais a inabalável confiança que tenho nos
horóscopos sentimentais. Dessa vez, entretanto, elas estão se superando em
termos de eficiência: entre tantos concorrentes, conseguem passar a ideia de
que não há mais do que uma acirrada disputa entre dois candidatos, um de
esquerda, outro de direita, cada um tentando se impor como o mais legítimo
representante de sua tendência. Os demais pretendentes, com índices
inexpressivos, não passam de coadjuvantes, ou meros figurantes, pelo menos por
enquanto.
De
um lado está um militar da reserva, 63 anos, paulista, que cumpre atualmente
seu sétimo mandato de deputado federal, o mais votado do Rio de Janeiro, nas
eleições de 2014, hoje filiado ao Partido Social Liberal.
Esse é Jair
Bolsonaro, político franco, polêmico, não raro irreverente, célebre por seu
perfil populista e de extrema-direita, simpatizante do movimento militar de
l964, contrário aos direitos LGBT, apologista do combate enérgico à
criminalidade, defensor intransigente dos princípios familiares, e conhecido por
muitas afirmações controversas que já lhe renderam várias dores de cabeça
judiciais. Em resumo, é um misto de Silas Malafáia, Capitão Nascimento e Papa
Francisco, que, dado o seu estilo diferenciado, a cada dia conquista mais
seguidores.
Na
outra ponta, aparece a surreal candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, 72 anos, que, mesmo na condição de presidiário, se mantém líder nas
pesquisas.
Nada ofusca o
indiscutível prestígio popular do maior líder petista. Por mais que lhe façam
acusações, seus apoiadores se multiplicam, crendo ser ele vítima de injustiça e
perseguição. Mas, dentro do seu próprio PT, não faltam os que reconhecem ser
esse um quadro que só se sustenta graças a muita “mágica” no sentido de manter
em evidência o nome mais representativo da agremiação. Mesmo conscientes de que
se trata de caso praticamente perdido, admitem não haver outro meio de o
partido preservar-se e sair menos chamuscado do próximo pleito.
Caso Lula seja
alijado do processo, e não consiga transferir maior parte de seus votos para o
seu substituto, ou para os demais candidatos, haverá a possibilidade de Bolsonaro
liquidar a fatura no primeiro turno. Se assim considerada, ainda que improvável,
mas não impossível, a zebra já estaria no bolso.
Começa amanhã (31) a
propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Por tradição, sensíveis
mudanças poderão ocorrer no cenário aqui comentado, contribuindo para que a
disputa fique mais competitiva e empolgante.
O sábio e saudoso
político mineiro Magalhães Pinto certa vez sentenciou que "Política é
como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já muda".
A meteorologia está prevendo céu de muitas nuvens, até as eleições. Sinal de
que poderão ocorrer chuvas e trovoadas.