quinta-feira, 30 de agosto de 2018

ZEBRA NO BOLSO


Por Etelmar Loureiro

- Diário do Rio Doce - 30.08.2018

            Faltando pouco mais de um mês para o seu primeiro turno, não há lembrança de uma eleição tão prestigiada pelo desinteresse popular. Como se fosse uma retrospectiva de campanhas, só se vê a repetição de chavões e promessas surradas, feitas por candidatos também desgastados ou incapazes de gerar qualquer esperança de renovação.
            Há nada menos de 13 aspirantes à Presidência da República. Alguns são velhos conhecidos, figurinhas carimbadas. Nem mesmo com a ajuda de hábeis e onerosos marqueteiros, conseguem fugir da mesmice que torna ridículas as suas exposições.  Os neófitos também não causam empolgação, inclusive quando acenam com metas arrojadas, pois não indicam a origem dos recursos que lhes permitirão executá-las.
            Sempre depositei nas pesquisas eleitorais a inabalável confiança que tenho nos horóscopos sentimentais. Dessa vez, entretanto, elas estão se superando em termos de eficiência: entre tantos concorrentes, conseguem passar a ideia de que não há mais do que uma acirrada disputa entre dois candidatos, um de esquerda, outro de direita, cada um tentando se impor como o mais legítimo representante de sua tendência. Os demais pretendentes, com índices inexpressivos, não passam de coadjuvantes, ou meros figurantes, pelo menos por enquanto.
            De um lado está um militar da reserva, 63 anos, paulista, que cumpre atualmente seu sétimo mandato de deputado federal, o mais votado do Rio de Janeiro, nas eleições de 2014, hoje filiado ao Partido Social Liberal.
Esse é Jair Bolsonaro, político franco, polêmico, não raro irreverente, célebre por seu perfil populista e de extrema-direita, simpatizante do movimento militar de l964, contrário aos direitos LGBT, apologista do combate enérgico à criminalidade, defensor intransigente dos princípios familiares, e conhecido por muitas afirmações controversas que já lhe renderam várias dores de cabeça judiciais. Em resumo, é um misto de Silas Malafáia, Capitão Nascimento e Papa Francisco, que, dado o seu estilo diferenciado, a cada dia conquista mais seguidores.
            Na outra ponta, aparece a surreal candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 72 anos, que, mesmo na condição de presidiário, se mantém líder nas pesquisas.
Nada ofusca o indiscutível prestígio popular do maior líder petista. Por mais que lhe façam acusações, seus apoiadores se multiplicam, crendo ser ele vítima de injustiça e perseguição. Mas, dentro do seu próprio PT, não faltam os que reconhecem ser esse um quadro que só se sustenta graças a muita “mágica” no sentido de manter em evidência o nome mais representativo da agremiação. Mesmo conscientes de que se trata de caso praticamente perdido, admitem não haver outro meio de o partido preservar-se e sair menos chamuscado do próximo pleito.
Caso Lula seja alijado do processo, e não consiga transferir maior parte de seus votos para o seu substituto, ou para os demais candidatos, haverá a possibilidade de Bolsonaro liquidar a fatura no primeiro turno. Se assim considerada, ainda que improvável, mas não impossível, a zebra já estaria no bolso.
Começa amanhã (31) a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Por tradição, sensíveis mudanças poderão ocorrer no cenário aqui comentado, contribuindo para que a disputa fique mais competitiva e empolgante.
O sábio e saudoso político mineiro Magalhães Pinto certa vez sentenciou que "Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já muda". A meteorologia está prevendo céu de muitas nuvens, até as eleições. Sinal de que poderão ocorrer chuvas e trovoadas.