Não
são muitas as datas históricas que o brasileiro reverencia com grande pompa.
Entre
as poucas estão o Dia de Tiradentes, o Dia da Independência e a Proclamação da República.
São
elas, de fato, ocasiões dignas de exaltação, por lembrarem importantes momentos
da biografia nacional.
Há
outras, também significativas, mas menos prestigiadas. De modo geral, são
comemoradas sem muito estardalhaço, quando não passam despercebidas. É o caso,
por exemplo, do Dia do Descobrimento e do Dia da Bandeira, lembrados apenas em
escolas, unidades militares e outros ambientes mais restritos.
Num
ponto intermediário está o Dia da Abolição da Escravatura, que, em maior ou
menor nível, é sempre marcado por solenidades públicas um pouco mais esmeradas.
Pelo
seu alcance social e, sobretudo, humanitário, a Lei Áurea, assinada pela
Princesa Isabel, em 13 de maio de 1988, está entre os maiores marcos de nossa
história. Foi ela que aboliu a
escravidão no Brasil, pondo fim a um longo período de sofrimentos.
Atualmente,
além do Código Penal Brasileiro, que cuida especificamente do assunto, há
extensa legislação criminalizando e punindo o ato de “reduzir alguém a condição
análoga à de escravo”. Nesse meio, está o preceito constitucional que manda
expropriar imóveis onde seja constatada exploração de trabalhos desse tipo.
Ainda
assim, a atrocidade persiste.
Segundo
o relatório Global Slavery Index (Índice de Escravidão Global) 2014, da
Fundação Walk Free, divulgado na última segunda-feira (17), o Brasil possui 155,3
mil pessoas submetidas ao trabalho escravo.
Ainda
que represente um decréscimo de 26% em relação à estatística do ano anterior, a
quantidade é assombrosa, coisa de fazer a Princesa Isabel exasperar-se no
túmulo.
Esses dados mostram que
não têm repercutido à altura os esforços do governo e da sociedade, no sentido
de exterminar a escravidão no Brasil.
O mais triste é
constatar que, além do trabalho forçado, os oprimidos se debatem contra vários
outros tipos de abuso.
As argolas e
correntes foram rompidas e retiradas dos que eram subjugados pela força
“persuasiva” da chibata, dos ferros de marcar e mais atrocidades. Remanesceram,
entretanto, os grilhões da ganância, da opressão, do poder econômico, da
tirania e da insensibilidade humana.
A impressão é de que
o fim da escravidão, propalado em versos e prosas, ainda está longe de ser
realidade. Por enquanto, não vai muito além de um sofisma, um “faz de conta”
destinado a impressionar o mundo, engrossar os livros de história e inspirar
artes plásticas.
Ainda assim, restam
esperanças de que, um dia, o bom senso prevaleça, e os mais fortes despertem
para uma inexorável realidade: pior
do que escravo do trabalho é ser escravo da ambição. A ficha custa a cair, mas,
quando cai, machuca!