domingo, 19 de junho de 2011

SEGREDOS DO PODER

SEGREDOS DO PODER

            Quem acalentava a esperança de, em breve, ter acesso a informações e documentos que se encontram nas “caixas pretas” do Estado, pode sentar-se e esperar, com paciência.
            A abertura dos chamados arquivos secretos foi aprovada pela Câmara dos Deputados, mas empacou no Senado, graças à interferência dos senadores José Sarney e Fernando Collor. Logo eles que, na condição de ex-presidentes da República, deveriam se emprenhar na mais breve tramitação da matéria. Ao contrário, sob o pretexto de resguardar a soberania e segurança do país, defendem "proteção eterna sobre a informação secreta e confidencial do Governo".
            Da dupla não se poderia esperar outra coisa.
            De memória recente, vale lembrar como Sarney procedeu quando foi acusado de autorizar atos secretos na Mesa Diretora do Senado para uma série de contratações, inclusive de parentes. Valendo-se de seu prestígio político, negou, sofismou, arvorou-se defensor da democracia, afirmou ter prestado “muitos serviços ao país” e ... ficou o dito pelo não dito; nada lhe aconteceu. Em seguida, depois de classificar o impeachment de Collor como um “acidente da História”, tentou excluir esse episódio do painel do Túnel do Tempo do Senado. Só voltou atrás sob forte pressão da opinião pública.
            Quanto a Fernando Collor, as razões de sua cassação tornam compreensivo seu esforço para que  atos de  governo sejam mantidos sob sigilo. Em se tratando dele, nada é surpresa.
            Refletindo o descontentamento popular, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcanti, rebateu as alegações de Sarney de que “o fim do sigilo eterno pode abrir feridas”. Disse que “a história precisa ser conhecida e não tenho dúvidas de que quem perderá com isso tudo será a cidadania desse país, que terá vetada a possibilidade de acessar a sua história”.
            O próprio Lula, autor do projeto de lei que contempla a matéria, sem receio de contrariar o governo, reafirmou que “o público tem o direito de saber o que aconteceu nos bastidores dos governos, com ressalvas apenas para as questões de soberania do país”.
            Essa decisão, pelo visto, ficará no “vinagrete”. Até porque o Senado já foi chamado a votar a Medida Provisória que autoriza sejam mantidos em segredo os orçamentos prévios para as obras da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016.
            A opinião pública é contrária, mas as empreiteiras aplaudem a idéia. Sarney e Collor ainda coçam a cabeça. Diante dos antecedentes, é melhor não os perder de vista!