sábado, 11 de outubro de 2014

CONTINUAR OU MUDAR, EIS A QUESTÃO

            Uma análise mais isenta e menos passional mostra que o resultado da eleição presidencial, no primeiro turno, não foi tão atípico quanto muitos insistem em propalar.
            Avaliado com frieza e naturalidade, o produto das urnas foi exatamente o esperado, desde quando os concorrentes se tornaram conhecidos.
            Por mais que os políticos falem em surpresas e decepções, estava “escrito nas estrelas” que, no segundo turno, a disputa seria entre Dilma Rousseff e Aécio Neves. As chances de Eduardo Campos eram mínimas, mesmo sendo ele a terceira via que poderia sepultar a polarização entre PT e PSDB, há 12 anos impingida aos brasileiros.
            A campanha transcorria numa malemolência digna de fazer inveja às obras de transposição do Rio São Francisco.
            De repente, a morte de Eduardo Campos e o consequente surgimento de Marina Silva agitaram a disputa. Tiveram o efeito de queda de barreira, numa pista até então tranquilamente transitável.  O jeito foi encarar trilhas tortuosas e acidentadas, próprias para “rally”, que levariam ao mesmo destino, mas sob condições muito mais difíceis. O planejamento foi pro ralo.
            Cheia de gás, e inflada pela comoção da tragédia acontecida com Campos, Marina “bombou”, logo na primeira pesquisa em que entrou no páreo. Desbancou Aécio Neves, e já apareceu como vencedora de um eventual segundo turno.
            Tudo fogo de palha. A candidata seringueira subiu como um foguete e despencou como um meteoro.
            No frigir dos ovos, prevaleceu a lógica: Dilma x Aécio; briga de “cachorro grande”.
            A tradicional e decepcionante surpresa está debitada aos institutos de pesquisa. Por incompetência ou por razões inconfessáveis, eles mais uma vez “pisaram na bola”, exibindo números irreais. Entre outros equívocos (?!), passaram todo o tempo mostrando que Dilma mantinha sobre Aécio uma vantagem bem maior do que a finalmente apurada.
            Agora, limitada a dois os candidatos, a escolha é mais fácil.
            Escaldado das demagogias e inverdades que lhe empurraram goela a baixo no primeiro turno, o eleitor adquiriu melhor condição de escolher entre a continuidade, personificada por Dilma, e a renovação, encarnada por Aécio.  
            As primeiras pesquisas publicadas nesta nova etapa mostram uma disputa equilibrada, com viés de crescimento para o candidato mineiro.
            Outros cenários, entretanto, podem e devem surgir.
            O momento é de ficar atento aos lances, em busca de dados que permitam formar juízo próprio. Lembrando que pesquisa, mesmo quando séria, só acerta quando erra pouco.
 
- Jornal de Domingo

domingo, 5 de outubro de 2014

RECEITA CASEIRA

            A força política de uma cidade não é obra do acaso, não surge num passe de mágica.
Na sua essência, é o auspicioso resultado uma conjugação de idéias e esforços, em torno de metas perseguidas pelo grupo. Ela vem no mesmo comboio em que viajam o idealismo, o respeito às tradições e o espírito de união. Onde também trafegam o orgulho de pertencer à comunidade e o saber valorizar as lideranças locais, afora outras virtudes que precisam ser cultivadas e, sobretudo, praticadas.
            Ao longo de sua história, Valadares tem ressentido de uma representatividade política mais expressiva, coesa e vigorosa o bastante para se impor e batalhar com êxito por suas aspirações.
            Várias e importantes conquistas estão contabilizadas, todas dignas de aplausos.  Muitas, entretanto, deixaram de acontecer, não por desinteresse ou falta de empenho, sim devido à insuficiência de prestígio político.
Até hoje, por exemplo, o município não conquistou a sonhada grande empresa que daria mais sustentação e dinamismo à sua economia. Também não viu a chegada do gasoduto há muito prometido, que agregaria mais atrativos ao seu perfil empresarial. Isso sem contar a carência de serviços aéreos e de um aeroporto à altura do que necessitam a comunidade e aqueles que alimentariam algum projeto em relação à cidade.
A rigor, nem mesmo a duplicação da BR-381pode ser tida como vitória consumada. Pelo menos de início, as duas raias só existirão entre Belo Horizonte e Belo Oriente. Daí pra cá, apenas melhoramentos na pista única existente, decisão absolutamente discriminatória e desrespeitosa para com Valadares. Após muita grita, há juras de que a mancada será corrigida. Se a promessa será cumprida, só o tempo e as urnas dirão.
Não é justo, porém, centrar nos homens públicos a responsabilidade por esse contexto.  Seriam eles os maiores, mas não os únicos culpados.
Também a comunidade tem muito a ver com a questão. Afinal, é ela quem sufraga seus mandatários públicos. Entre eles forasteiros, que, em época de eleições, se apresentam como guardiões dos interesses locais, prometendo mundos e fundos. Conquistam preciosos votos, depois se mandam, deixando o povo a ver navios.
O “pepino” sobra para os políticos “caseiros”, que, salvo honrosas exceções, sem grande talento, sem cacife e sem união, pouco ou nada podem fazer.
As eleições acontecem neste domingo. É a nova chance de essa lamentável situação ser revertida ou, pelo menos,  minimizada.
É verdade que o eleitor se sente cada vez mais desmotivado. Não que esteja brigado com as urnas ou renunciando ao direito de escolher seus representantes. Mas está farto de ter que optar entre o ruim e o pior, dilema cada vez mais presente nas eleições.
Valadares, porém, não parece tão atolada nesse imbróglio.
Para este pleito, há aqui bons candidatos que são da terra, por berço, adoção ou afinidade. Excluídos os “malas”, sobra muita gente boa. Gente conhecida, tradicional, séria e bem intencionada. Gente dedicada e batalhadora, que, apesar dos obstáculos, já mostrou serviços e pode fazer mais pela cidade.
Se o eleitor quiser zelar para que haja uma representação política autêntica, robusta e comprometida com os anseios valadarenses, a receita é prestigiar os “prata-da-casa”. Nada de dar boa vida a alienígenas oportunistas, que só aparecem na hora de garimpar votos.  
Repaginando o velho ditado popular, poder-se-ia dizer que Santo de casa não faz milagres, exceto alguns que só ele consegue praticar. Convém acreditar!

- Revista “Mais Mais PERFIL”