sábado, 29 de junho de 2013

NADAR É PRECISO

                Contrariando prognósticos de que teriam vida curta, e azucrinando a vida dos analistas políticos que tentam diagnosticar suas origens, os protestos políticos continuam acontecendo e se multiplicando pelo país, como um incêndio que se alastra de forma incontrolável.
            Há muito ignorada por uma minoria privilegiada, formada por políticos irresponsáveis e pretensiosos, a voz do povo só se fazia ouvir em estádios de futebol, folias carnavalescas, shows musicais e outros eventos de lazer. De um momento para outro, ela transformou-se no grito de guerra de uma gigantesca massa popular rebelada contra o descaso e as bandalheiras oficiais de que tem sido vítima.
            A pauta de reclamações e reivindicações é extensa. Começou com o alto preço das passagens de ônibus, mas logo se estendeu ao aumento do custo de vida, à má qualidade da educação, saúde e transportes, sem deixar de fora os gastos com a Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil.
            Na sua maioria jovens, os manifestantes hoje criticam qualquer coisa que lhes pareça errada. O rol é tão grande e difuso, que, ao invés de ensejar respostas concretas, às vezes abre espaço para as habituais promessas enganosas. Além disso, não raro alguém é flagrado protestando contra algo que desconhece. Caso daquele que portava um cartaz com dizeres desfavoráveis à PEC 37. Perguntado sobre o que se tratava, disse não ter certeza, mas sabia que 37 era um preço muito caro; tinha de baixar.
A mobilização, entretanto, já rendeu alguns ganhos importantes.
Despertados de longo e preguiçoso sono, políticos e autoridades começaram a se mexer.
De cara, muitos aumentos nas tarifas de transporte urbano foram revogados.
Percebendo que a bronca é pra valer, a Câmara Federal apressou-se em sepultar a Proposta de Emenda Constitucional que restringia o poder de investigação do Ministério Público, a famigerada PEC 37. Também votou o projeto que destina os royalties do petróleo para educação (75%) e saúde (25%) e já trabalha pelo o fim do voto secreto em certas cassações de mandatos.
Sob a mesma pressão popular, o Senado desenterrou e aprovou o projeto de lei que torna hediondos os crimes de corrupção ativa, passiva e concussão (extorsão praticada por servidor público). E o presidente da Casa – ele mesmo, Renan Calheiros – garante outras medidas moralizadoras.
Coincidentemente, numa decisão inédita desde a Constituição vigente, o Supremo Tribunal Federal ignorou recurso protelatório e determinou a prisão imediata do deputado Natan Donadom (PMDB-RO), punido por formação de quadrilha e peculato. O fato provocou imediato distúrbio metabólico nos mensaleiros condenados à cadeia, lacrando o que têm de mais íntimo.
Enquanto isso, no Planalto, a presidente Dilma Rousseff tirou do fundo do baú a ideia de reforma política, que agora promete levar avante.
Pra completar o ciclo de inusitadas atitudes, o ex-presidente Lula reuniu-se com jovens que lideram movimentos sociais próximos de seu partido, para  afirmar ser este o momento de “ir pra rua”.
Fica assim indisfarçável o oportunismo de nossos políticos e governantes, que só agem na base da pressão. Bastou o povo ir às ruas, para que eles se movimentassem.   
            Isso faz lembrar uma frase chula que circula na internet, ensinando que "quando a merda bate no queixo, todo mundo aprende a nadar". Irretocável!
 
* Jornal de Domingo
* Diáriodo Rio Doce
* NósRevista (Portugal)