sábado, 7 de junho de 2014

É TEMPO DE COPA

            Volta ao cartaz, agora também na internet, o interessante diálogo entre um homem e uma mulher, sobre o hábito de beber.
            A conversa foi mais ou menos essa:
            - Você bebe? - perguntou ela.
            - Positivo - respondeu ele, sem entender a curiosidade.
            - Quanto por dia?
            - Três uísques.
            - Quanto paga por uísque?
            - Cerca de R$ 10,00.
            - Há quanto tempo você bebe?
            - Uns 20 anos.
            - Cada uísque custa R$ 10,00, e você bebe três doses diárias. Assim, gasta R$ 30,00 por dia, R$ 900,00 por mês e R$ 10.800,00 por ano, certo?
            - Certíssimo!
            Após pequena pausa, com ares Miriam Leitão, ela prosseguiu:
            - Sabia que com esse dinheiro, aplicado e corrigido com juros compostos, durante 20 anos, você poderia comprar uma Ferrari?
            Já de saco cheio, o homem perguntou:
- Você bebe?
            - Não - afirmou ela, cheia de orgulho.
            - Então, cadê a p*&&+ da sua Ferrari?
            A anedota faz lembrar o “blablablá” que se instalou em torno dos vultosos gastos com a Copa 2014.
            Previsões mais moderadas são de que eles girem em torno de R$ 33 bilhões, superando o total desembolsado nas três últimas edições do torneio.
            Grande parte da opinião pública defende que esse dinheiro seria muito mais útil se aplicado nas áreas de saúde, educação, segurança e infraestrutura.
De repente, surgiu um extenso rol de prioridades, que inclui até metrô pra lua e a navegabilidade das Cataratas do Iguaçu.
            Impossível esquecer, entretanto, que várias demandas estão reprimidas, desde a época do Império, vítimas da indiferença, da irresponsabilidade e/ou da incapacidade de sucessivos governos.
            Depois de 1950, ano em que pela primeira vez sediamos uma Copa, 64 anos se passaram. Nesse longo tempo, em outros países, aconteceram 15 novos campeonatos mundiais. 
Para estar em todos eles, o Brasil arcou tão somente com os dispêndios de rotina, como os demais participantes. Não teve que reformar ou construir estádios e aeroportos, realizar obras de apoio e mobilidade, tampouco preocupar-se com o famoso legado que todos reclamam. Em tese, a grana correspondente sobrou intata para reforma e construção de hospitais, escolas, creches, presídios, estradas e tudo o mais que a sociedade sempre esperou ter em bom nível.
Nada disso não aconteceu!
Com ou sem Copa, o social esteve sempre em segundo plano, exceto no que convém a interesses políticos. Esperar outra coisa é o mesmo que acreditar na Ferrari da piada.
Mas não é hora de chorar leite derramado, nem de misturar governo e futebol. O importante, agora, é que somos palco da Copa 2014 e que a saibamos conquistar. Melhor aqui do que lá!
 
- Jornal de Domingo

 

 

domingo, 1 de junho de 2014

LOUCOS POR FIGURINHAS

             Se para elas a disputa só começará no próximo dia 12, faz tempo que as 32 seleções da Copa vêm sendo frenética e intensamente disputadas. Seus jogadores têm sofrido implacável perseguição; o Brasil e o resto do mundo estão à sua procura.
            São os colecionadores de figurinhas, que não descansarão enquanto não os capturarem, um a um.
            Incrível como certos hábitos atravessam o tempo, sem perder a magia, o encanto e o poder de seduzir.
Os cromos da Copa 2014 mobilizam gente de qualquer idade, em várias partes do planeta. Homens, mulheres, crianças, jovens, famílias inteiras se envolveram no processo. Todos se apressam para completar suas coleções, de preferência antes de o campeonato começar. Nessa corrida, valem negociações nos pontos de troca, locais de trabalho, escolas, hospitais, consultórios, festas sociais, onde quer que seja. Até em cultos e velórios surge alguém com uma listinha na mão, perguntando pelos números que lhe faltam.
Conforme pesquisa de mestrado do paulista Paulo Cezar Goulart, as primeiras figurinhas surgiram na Europa, por volta de 1870. Vinham em maços de cigarros, igual apareceram no Brasil, duas décadas depois.
Com o passar do tempo, vinham também em balas e sabonetes, na forma de promoções tipo “achou ganhou”. Encontradas, podiam ser trocadas por pequenos brindes. Foi a fase em que, nas balas “Americanas”, começaram a surgir as figurinhas de jogadores de futebol.
Inicialmente guardadas soltas, as figurinhas só passaram a ter local próprio em 1934, quando as balas “A Holandeza” lançaram o primeiro álbum.
Na metade do último século, a figurinha deixou de ser brinde, para ser vendida.
            “Craques do Campeonato Mundial de Futebol 1950” foi o primeiro álbum brasileiro que tratou apenas de futebol; os anteriores misturavam vários temas. Estranhamente, ele foi lançado meses depois que a Seleção Brasileira perdeu o título para o Uruguai, em pleno Maracanã. Ainda assim fez sucesso.
Passada a Copa, as figurinhas deverão sair de cena, deixando saudade. Poderão retornar daqui a dois anos, nos Jogos Olímpicos, ou só no Mundial de 2018.
Sempre que surgem, criam um clima contagiante. Têm o condão de mostrar o quanto é tênue o meridiano que separa crianças e adolescentes, jovens e adultos. Chega a ponto de fazer crer que essa distinção só existe na Lei, nada tendo a ver com a personalidade e as características físicas de cada geração.
Como bem ressaltou a antropóloga Cláudia Pereira, do Departamento Social de Comunicação da PUC-Rio, “a febre (de colecionar figurinhas) está maior porque as fronteiras da idade estão cada vez mais borradas por conta da expansão da idéia da juventude. Nesse contexto, é permitido acessar a infância o tempo todo”.  Ainda segundo ela, “… é uma forma de (re)viver a infância, sem vergonha de ser feliz”.
            A propósito: faltam-me as do Kaká e do Ronaldinho Gaúcho ...

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