A
conversa foi mais ou menos essa:
-
Você bebe? - perguntou ela.
-
Positivo - respondeu ele, sem entender a curiosidade.
-
Quanto por dia?
-
Três uísques.
- Quanto paga por uísque?
-
Cerca de R$ 10,00.
-
Há quanto tempo você bebe?
-
Uns 20 anos.
-
Cada uísque custa R$ 10,00, e você bebe três doses diárias. Assim, gasta R$
30,00 por dia, R$ 900,00 por mês e R$ 10.800,00 por ano, certo?
-
Certíssimo!
Após
pequena pausa, com ares Miriam Leitão, ela prosseguiu:
-
Sabia que com esse dinheiro, aplicado e corrigido com juros compostos, durante
20 anos, você poderia comprar uma Ferrari?
Já
de saco cheio, o homem perguntou:
- Você bebe?
-
Não - afirmou ela, cheia de orgulho.
-
Então, cadê a p*&&+ da sua Ferrari?
A
anedota faz lembrar o “blablablá” que se instalou em torno dos vultosos gastos
com a Copa 2014.
Previsões
mais moderadas são de que eles girem em torno de R$ 33 bilhões, superando o
total desembolsado nas três últimas edições do torneio.
Grande
parte da opinião pública defende que esse dinheiro seria muito mais útil se
aplicado nas áreas de saúde, educação, segurança e infraestrutura.
De repente, surgiu
um extenso rol de prioridades, que inclui até metrô pra lua e a navegabilidade
das Cataratas do Iguaçu.
Impossível
esquecer, entretanto, que várias demandas estão reprimidas, desde a época do Império,
vítimas da indiferença, da irresponsabilidade e/ou da incapacidade de sucessivos
governos.
Depois
de 1950, ano em que pela primeira vez sediamos uma Copa, 64 anos se passaram.
Nesse longo tempo, em outros países, aconteceram 15 novos campeonatos mundiais.
Para estar em todos
eles, o Brasil arcou tão somente com os dispêndios de rotina, como os demais participantes.
Não teve que reformar ou construir estádios e aeroportos, realizar obras de
apoio e mobilidade, tampouco preocupar-se com o famoso legado que todos
reclamam. Em tese, a grana correspondente sobrou intata para reforma e
construção de hospitais, escolas, creches, presídios, estradas e tudo o mais
que a sociedade sempre esperou ter em bom nível.
Nada disso não
aconteceu!
Com ou sem Copa, o
social esteve sempre em segundo plano, exceto no que convém a interesses
políticos. Esperar outra coisa é o mesmo que acreditar na Ferrari da piada.
Mas não é hora de chorar
leite derramado, nem de misturar governo e futebol. O importante, agora, é que
somos palco da Copa 2014 e que a saibamos conquistar. Melhor aqui do que lá!
- Jornal de Domingo