sábado, 15 de junho de 2013

LEMBRANÇAS ESQUECIDAS


Por mais que se esforce, não dá pra entender o descaso de Valadares para com os personagens de sua história, todos dignos de reverência e exaltação. São numerosos, mas muitos estão relegados a um melancólico esquecimento. Outros são inteiramente desconhecidos pelas gerações que os sucederam. A persistir esse comportamento, é provável que, em futuro pouco distante, não haja figuras a relembrar, nem história para se contar.
            Dos escassos remanescentes da geração pioneira, daqueles em que a cidade se apoiou nos seus primeiros passos, ainda há quem possa falar da epopéia desbravadora e das vitórias alcançadas na luta por desenvolvimento. Pela ordem natural, entretanto, não lhes restam muito tempo e muito fôlego para dar esse testemunho, tampouco para esperar o merecido reconhecimento.
Com o passar dos anos, as baixas se tornam mais constantes, os heróis de ontem sucumbem, cedendo espaço a outras idéias e lideranças. O problema é que, ao partir, eles levam consigo preciosos conhecimentos. Não quiseram ou não tiveram oportunidade de documentar suas experiências.
            As perdas são compreensíveis. Onde quer que seja, as gerações se renovam; faz parte do ciclo humano.
            O que foge do normal é a repentina amnésia que se apossa do povo e das autoridades, a ponto de o autor e sua obra serem logo esquecidos.
            A próxima terça-feira (18) marcará o quarto aniversário das mortes de Ladislau Sales e de Hermírio Gomes da Silva, dois dos mais valorosos e ilustres valadarenses. Entre outros, tiveram o mérito de administrar o município, muito fazendo pelo crescimento da cidade e da região. Compartilharam uma fase áurea da política local e, coincidentemente, foram velados no mesmo dia.
            O primeiro, além de prefeito, foi secretário estadual de Saúde e deputado mineiro em duas legislaturas. Por razões pessoais, mudou-se para Belo Horizonte, onde encerrou os seus dias. Mas deixou realizações que lhe asseguram lugar de destaque na galeria das grandes personalidades locais.
            Quanto a Hermírio Gomes, tem méritos irrefutáveis e um histórico que dispensa adjetivos. Grande figura humana, homem de visão, perseverante e otimista, era requisitado em diferentes áreas. Suas digitais estão em quase tudo que se fez pelo desenvolvimento de Valadares. Consagrou-se como vereador, vice-prefeito, prefeito por duas vezes, presidente da Associação Comercial, diretor da Univale, fundador da Fundação Percival Farquhar, diretor da Fadivale e mais “et cétera”.
            Vitoriosos e admirados como cidadãos e homens públicos, Ladislau e Hermírio merecem todo louvor. Mas não é o que têm recebido.
            Nem mesmo no aniversário de suas mortes têm sido convenientemente lembrados. Se houve alguma homenagem nos anos anteriores, foi discreta e reservada, nada à altura de seus méritos. Situação imperdoável, que se repete em relação a outros vultos da história local.
            Ao que parece, ninguém percebe que reverenciar o passado é tão necessário quanto perseguir o futuro. Nem se dá conta de que o jovem de ontem é o idoso de hoje e o saudoso de amanhã. Por isso, os notáveis de agora se arriscam a serem os esquecidos de mais tarde, caso não aprendam e ensinem a valorização de seus antecessores.   
            Igual ao “efeito Orloff”, a ingratidão tem suas conseqüências, frutos de um insulto à memória, que sempre reage com as mesmas armas. Sem direito a apelação!
 
* Diário do Rio Doce
* Jornal de Domingo