Por mais que se esforce, não dá pra entender o
descaso de Valadares para com os personagens de sua história, todos dignos de reverência
e exaltação. São numerosos, mas muitos estão relegados a um melancólico
esquecimento. Outros são inteiramente desconhecidos pelas gerações que os sucederam.
A persistir esse comportamento, é provável que, em futuro pouco distante, não
haja figuras a relembrar, nem história para se contar.
Dos escassos remanescentes da geração
pioneira, daqueles em que a cidade se apoiou nos seus primeiros passos, ainda
há quem possa falar da epopéia desbravadora e das vitórias alcançadas na luta
por desenvolvimento. Pela ordem natural, entretanto, não lhes restam muito
tempo e muito fôlego para dar esse testemunho, tampouco para esperar o merecido
reconhecimento.
Com o passar dos anos, as baixas se tornam mais constantes,
os heróis de ontem sucumbem, cedendo espaço a outras idéias e lideranças. O
problema é que, ao partir, eles levam consigo preciosos conhecimentos. Não
quiseram ou não tiveram oportunidade de documentar suas experiências.
As perdas são compreensíveis. Onde
quer que seja, as gerações se renovam; faz parte do ciclo humano.
O que foge do normal é a repentina
amnésia que se apossa do povo e das autoridades, a ponto de o autor e sua obra
serem logo esquecidos.
A próxima terça-feira (18) marcará o
quarto aniversário das mortes de Ladislau Sales e de Hermírio Gomes da Silva,
dois dos mais valorosos e ilustres valadarenses. Entre outros, tiveram o mérito
de administrar o município, muito fazendo pelo crescimento da cidade e da
região. Compartilharam uma fase áurea da política local e, coincidentemente, foram
velados no mesmo dia.
O primeiro, além de prefeito, foi secretário
estadual de Saúde e deputado mineiro em duas legislaturas. Por razões pessoais, mudou-se para Belo Horizonte,
onde encerrou os seus dias. Mas deixou realizações que lhe asseguram lugar de
destaque na galeria das grandes personalidades locais.
Quanto a Hermírio Gomes, tem méritos
irrefutáveis e um histórico que dispensa adjetivos. Grande figura humana, homem
de visão, perseverante e otimista, era requisitado em diferentes áreas. Suas
digitais estão em quase tudo que se fez pelo desenvolvimento de Valadares. Consagrou-se
como vereador, vice-prefeito, prefeito por duas vezes, presidente da Associação
Comercial, diretor da Univale, fundador da Fundação Percival Farquhar, diretor
da Fadivale e mais “et cétera”.
Vitoriosos e admirados como cidadãos
e homens públicos, Ladislau e Hermírio merecem todo louvor. Mas não é o que têm
recebido.
Nem mesmo no aniversário de suas
mortes têm sido convenientemente lembrados. Se houve alguma homenagem nos anos
anteriores, foi discreta e reservada, nada à altura de seus méritos. Situação
imperdoável, que se repete em relação a outros vultos da história local.
Ao que parece, ninguém percebe que
reverenciar o passado é tão necessário quanto perseguir o futuro. Nem se dá
conta de que o jovem de ontem é o idoso de hoje e o saudoso de amanhã. Por
isso, os notáveis de agora se arriscam a serem os esquecidos de mais tarde,
caso não aprendam e ensinem a valorização de seus antecessores.
Igual ao “efeito Orloff”, a
ingratidão tem suas conseqüências, frutos de um insulto à memória, que sempre
reage com as mesmas armas. Sem direito a apelação!
* Diário do Rio Doce
* Jornal de Domingo