sábado, 24 de março de 2012

MANOBRA INDECOROSA

            A expectativa era de que o projeto tivesse tranquila aprovação na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE). Afinal, a proposta da ex-senadora e hoje ministra-chefe da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT-PR), acabando com a mamata dos 14º e 15º salários pagos a senadores e deputados, constitui rara oportunidade de o Congresso Nacional recuperar pelo menos parte da credibilidade perdida.
            Mas, já no início da reunião, eram indisfarçáveis as manobras para que não se votasse o fim do privilégio. Na verdade, ninguém estava a fim de ser carrasco de si próprio.
Incluído na pauta como o quarto tema a ser decidido, foi jogado para o final dos trabalhos, quando no local só estavam nove dos 27 membros da CAE.
            Ficou fácil para que um indecoroso pedido de vista impedisse a votação.
            O artifício foi engendrado pelo senador Ivo Cassol (PP-RO), sob o argumento de que ele e seus pares ganham pouco. Segundo ele, “o político no Brasil é muito mal remunerado. Tem que atender o eleitor com pagamento de passagens, remédio, é convidado para patrono e tem que pagar as festas de formatura porque os jovens não têm dinheiro".
            Por ironia, Cassol é tido como um dos mais ricos entre os congressistas. Foi prefeito de Rolim de Moura e governador em Rondônia por dois mandatos. De acordo com o noticiário, possui usinas hidrelétricas em seu Estado e   diversas outras empresas fora de lá. Fala-se que sua fortuna declarada vai além de R$ 20 milhões.
            Além de ridícula, a declaração do senador rondoniense afronta ao verdadeiro trabalhador, sobretudo aquele que só recebe um mísero salário mínimo.  Mas não é de se estranhar; ela apenas retrata a forma indecorosa como o Congresso vem agindo perante a Nação.
            Mas Cassol teve, pelo menos, o mérito de alegar ser grande a hipocrisia no Senado. “Muitos políticos recebem, falam que são contra, mas não devolvem o dinheiro. Quem recebe fica quieto e faz o discurso para a platéia. Quando a imprensa aperta, eles se mijam todos”, teria esbravejado.
            Em contrapartida, cometeu o cinismo de dizer que, ao ajudar o eleitor, não o faz em troca de votos, sim por questões humanitárias.
            Esqueceu-se de que o cidadão não quer migalhas ou esmolas que sirvam de pretexto para salários extras e outras mordomias dadas aos parlamentares. Exige, entretanto, o respeito e o tratamento decente a que tem direito.