Houve tempo em que o brasileiro depositava mais fé em dias melhores, em
progresso e até em salvação da pátria. Época em que instituições sérias e gente
de valor mantinham acesa a chama propulsora dessa crença. Mesmo nos momentos
adversos, existia algo ou alguém em que se pudesse apegar. Os três poderes
constituídos se valorizavam e se respeitavam mais. Caso um deles falhasse ou
exorbitasse os limites em suas ações, era improvável o que o erro passasse pelo
crivo dos demais. Uma decisão imperfeita do Legislativo, por exemplo,
dificilmente seria aceita pelo Executivo, e vice-versa. Se o fosse, o
Judiciário se incumbiria de colocar as coisas nos seus devidos lugares.
Fato é que os homens e as instituições de
outrora agiam com mais discernimento, mais retidão, mais independência e,
sobretudo, mais consciência de seus deveres.
O triste cenário que agora vemos confirma essa metamorfose, que a cada
dia se torna mais escancarada e cruel. Mergulhado numa corrupção sistêmica e
congênita, o Brasil assiste à decadência de um modelo camuflado de democracia.
E isso acontece sob o olhar perplexo e decepcionado de um povo que nele
depositou esperanças de um presente tranquilo e um futuro feliz.
Seduzidos pela ambição de poder e pelo amor ao dinheiro, muitos
políticos, graduados agentes de governo e renomados empresários se envolveram
num sórdido esquema criminoso. Tornaram-se bandidos de fraque. Um processo vergonhoso, capaz de provocar
inveja nas mais competentes e célebres organizações criminosas.
Mesmo imune a decepções do gênero, a nação, a cada momento, se defronta
com notícias bombásticas, dando conta de novos e inimagináveis delitos. O
desapontamento, quando muito, se restringe à implicação de mais figurões que,
até então, posavam de incorruptos, com ares de “acima de quaisquer suspeitas”.
Na mira ou já nas garras da lei, estão deputados, senadores,
empresários, ex-ministros, governantes e ex-governantes de todos os níveis,
inclusive o atual e os dois últimos ocupantes da Presidência da República.
Sinal de que, pelo menos em alguma instância, nossa justiça tem mostrado
serviço.
Talvez não houvesse explicação para tanta desesperança, se os poderes
constituídos agissem com a lisura, a isenção e a autonomia que deles se espera.
Mas não o fazem. Os conluios e as interferências recíprocas são recorrentes nas
suas decisões, em que a troca de interesses tem sido o algoz da ética, do bom senso
e da legalidade. Basta notar que o relacionamento entre Executivo e Legislativo
é quase todo mantido à base do “é dando que se recebe”. Agir por ideologia, nem
pensar.
O julgamento da chapa Dilma-Temer pelo
Tribunal Superior Eleitoral, com um resultado inteiramente contrário às
evidências e aos anseios populares, mostrou que nem mesmo do Judiciário convém
esperar grandes decisões corretivas. Ali ficou outra vez patente que os
magistrados não podem – ou não devem – ser recomendados pelo chefe do Executivo,
a bem da própria Justiça, pois isso compromete a credibilidade dos integrantes
da Corte. Na ocasião, os indicados de Michel Temer foram decisivos para evitar
que ele perdesse seu mandato. Mais pareciam advogados de defesa do que
magistrados. Segundo os entendidos, isso está entre os fatores que influíram
para que os acusados fossem absolvidos, por excesso de provas contra si.
Coisa ruim é arquivar perspectivas e jogar a toalha, pressentindo não
haver mais jeito. Quando a situação chega a esse ponto, costuma-se buscar
alento na velha máxima que garante ser a esperança a última que morre. O
detalhe é que a esperança brasileira está por um triz, já na UTI. Faz companhia
à paciência e à tolerância, que também lá exalam seus últimos suspiros.
Complicado, né?!
- Revista "Mais Mais PERFIL" - edição de junho/2017