quinta-feira, 2 de agosto de 2018

ROYALTIES PROVIDENCIAIS


Por Etelmar Loureiro

- Diário do Rio Doce - 02.08.2018

            O Fórum Emergencial de Saúde e Educação acontecido em Governador Valadares, no último dia 27, do qual participaram cerca de 40 prefeitos de cidades mineiras, mostrou um compartilhamento de problemas e dificuldades bem mais preocupantes do que se pensava.
O evento serviu para desnudar, em toda a sua extensão, a aflitiva situação financeira em que se encontram aqueles municípios, devido à falta de repasses por parte do Governo mineiro. A inadimplência do estado se refere a verbas garantidas pela Constituição Federal, destinadas à saúde, educação e segurança, afora outras necessidades essenciais e inadiáveis. Dados recentes mostram uma dívida superior a R$ 100 milhões, apenas para com a prefeitura valadarense. 
            Pelo que ficou demonstrado, já há cidades com serviços comprometidos e até mesmo paralisados.
            Os prefeitos optaram por reagir com medidas enérgicas, entre elas a paralisação de todas as atividades escolares, a partir de 20.08, e a proposição de uma Ação Civil Pública, caso a pendência se mantenha.
            A queda de braços envolvendo repasses do governo de Minas para os municípios não é novidade, mas se intensificou na administração atual. E não há muita esperança de que o impasse se resolva a curto prazo.
            A experiência ensina que nas situações de dificuldade é que são encontradas as melhores saídas.
            Pode ser que nem todas as prefeituras tenham conhecimento da Lei 13.540/2017, de 18.12.2017. Ela destina 15% da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), aos municípios escoadores da produção de minério de ferro, ou afetados por operações de embarque e desembarque, ou ainda para cidades onde se localizam pilhas de estéril, barragem de rejeitos e instalações de beneficiamento.
            Significa dizer que, mesmo sem possuir nem ao menos uma jazida, as localidades diretamente impactadas pela atividade mineradora passaram a ter direito a parte dos “royalties” da mineração, o que certamente aliviará os cofres municipais.
            Para que isso se tornasse possível, os municípios mineradores, que antes recebiam 65% dos royalties, ficarão com 60%. Já o Estado, que até então abocanhava 23%, terá que se satisfazer com 15%. A fatia do Governo Federal caiu de 12% para 10%.
            O presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), Julvan Lacerda, considera que esse foi um avanço muito importante. “Antes, esses vizinhos, apesar de sofrerem os impactos do transporte do minério e da presença das barragens, não ganhavam nada. Agora, vão ganhar”, festeja Lacerda.
            Alguns noticiários dizem que esse benefício foi instituído graças a uma emenda apresentada na Medida Provisória 789/17 pelo senador Roberto Rocha (PSDB-MA), para quem a vitória é de todos os prefeitos que se uniram para chegar a essa conquista. Segundo ele, “ao longo de décadas, a única coisa que os municípios maranhenses recebiam era o pó de minério e o apito do trem. Não ficava nada além disso”.
            A situação se equipara à do Vale do Rio Doce, onde há décadas enormes comboios da Vale percorrem dezenas de municípios mineiros e capixabas, transportando para o porto de Vitória milhões de toneladas de minério extraídas em Itabira. Tanto lá quanto cá, o legado é o mesmo.
            A partir de agora, essas cidades terão direito à recompensa pelos transtornos que lhes são impostos. Resta às autoridades competentes inteirar-se de seus direitos e correr atrás do prejuízo. Enquanto “seu lobo” não vem.