domingo, 1 de novembro de 2015

BUCHICHOS E BARRACOS

            O intenso bate-boca entre o senador Ronaldo Caiado (GO) e o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB-AM), na última quinta-feira (29), foi dos mais indecorosos já acontecidos em uma audiência pública no Senado.
 Ao vivo e a cores, os dois trocaram gritos de "safado" e "bandido".
            Durante o quebra-pau, Caiado chegou a desafiar o ministro para "resolver a questão" fora do plenário. Precisou ser “acalmado” por outros parlamentares.
            Os “barracos” são comuns em ocasiões que envolvem debates, formação de opiniões e decisões que nem sempre – ou quase nunca - refletem consenso de grupo.
            De modo geral, surgem em julgamentos de escolas de samba, programas de auditório, assembleias, “reality shows” e em tantos outros locais onde haja conflitos de interesse.
            Têm chance de ocorrer até no colégio de cardeais da Igreja Católica incumbido de eleger o papa.
            É nas casas legislativas, entretanto, que são inevitáveis e altamente recorrentes. As câmaras municipais, assembleias legislativas e o Congresso Nacional são seus palcos prediletos.
Até em países mais civilizados que o nosso, os políticos são campeões em brigas verbais que, não raro, chegam às vias de fato.
No Brasil, os antecedentes são abundantes.
Um bom exemplo é a famosa troca de ofensas entre os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Tasso Jereissati (PSCB-CE), em 06 de agosto de 2009, sob o uso de expressões como “coronel” e “cangaceiro”. Naquela ocasião, Jereissati pretendia que certa pessoa, fosse retirada do recinto, por estar fazendo manifestações “impróprias”. Ao discordar, Renan, apontando para o colega, afirmou que ele era “minoria com complexo de maioria”. Aos gritos, Jereissati revidou, dizendo: “Senador Renan, não aponte esse dedo sujo pra cima de mim”. Na réplica, Renan afirmou que “o dedo sujo, infelizmente, é o de Vossa Excelência”, acrescentando que “você não é coronel de nada”. Exaltado, Jereissati chamou Renan de “cangaceiro de terceira categoria” e, ainda mais irado, teria acrescentado “seu merda”.
Outro caso que não foge da memória é a pancadaria que dominou o Senado, em 12 de setembro de 2007, quando deputados trocaram empurrões, socos e pontapés com os seguranças que tentavam impedir sua entrada na sessão em que seria julgado o senador e então presidente da Casa, Renan Calheiros, à época sob o risco de cassação. Os deputados possuíam autorização do STF para entrar, mas os senadores queriam que a sessão fosse secreta. O pau cantou, mas o sortudo Renan acabou absolvido.
Como se vê, o buchicho entre Ronaldo Caiado e Eduardo Braga não foge aos padrões de serenidade, cordialidade, educação e respeito mútuo, que há muito “dignificam” nossos congressistas.
O que mais chamou a atenção, nesse caso, foi a expressão Vossa Excelência, que eles empregaram no tratamento recíproco, apesar do baixo calão dos adjetivos que vinham na sequência.
Isso despertou a curiosidade dos responsáveis por zelar pela ética e pelo decoro nas duas casas do Congresso Nacional, deixando-os preocupados em definir se o tratamento “Vossa Excelência” deve ser entendido como uma reverência ou um insulto a quem o recebe.
Mas a preocupação se desfez, logo que o encarregado de decodificar a gravação do diálogo concluiu que estava tudo errado. O elevado tom da áspera discussão deu margem a um imperdoável equivoco. Em verdade, ninguém pronunciou “Vossa Excelência” é um safado ou “Vossa Excelência” é um bandido. Uma escuta mais atenta e apurada teria mostrado que “Vossa Excrescência” foi o axiônimo mal compreendido. Enfim, o nexo!

- Diário do Rio Doce
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