O
intenso bate-boca entre o senador Ronaldo Caiado (GO) e o ministro de Minas e
Energia, Eduardo Braga (PMDB-AM), na última quinta-feira (29), foi dos mais
indecorosos já acontecidos em uma audiência pública no Senado.
Ao vivo e a cores, os dois trocaram gritos de
"safado" e "bandido".
Durante o quebra-pau, Caiado chegou a
desafiar o ministro para "resolver a questão" fora do plenário.
Precisou ser “acalmado” por outros parlamentares.
Os
“barracos” são comuns em ocasiões que envolvem debates, formação de opiniões e decisões
que nem sempre – ou quase nunca - refletem consenso de grupo.
De
modo geral, surgem em julgamentos de escolas de samba, programas de auditório, assembleias,
“reality shows” e em tantos outros locais onde haja conflitos de interesse.
Têm
chance de ocorrer até no colégio de cardeais da Igreja Católica incumbido de eleger
o papa.
É
nas casas legislativas, entretanto, que são inevitáveis e altamente
recorrentes. As câmaras municipais, assembleias legislativas e o Congresso
Nacional são seus palcos prediletos.
Até em países mais
civilizados que o nosso, os políticos são campeões em brigas verbais que, não
raro, chegam às vias de fato.
No Brasil, os
antecedentes são abundantes.
Um bom exemplo é a famosa
troca de ofensas entre os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Tasso
Jereissati (PSCB-CE), em 06 de agosto de 2009, sob o uso de expressões como
“coronel” e “cangaceiro”. Naquela ocasião, Jereissati pretendia que certa
pessoa, fosse retirada do recinto, por estar fazendo manifestações “impróprias”.
Ao discordar, Renan, apontando para o colega, afirmou que ele era “minoria com
complexo de maioria”. Aos gritos, Jereissati revidou, dizendo: “Senador Renan, não aponte esse dedo
sujo pra cima de mim”. Na réplica, Renan afirmou que “o dedo sujo,
infelizmente, é o de Vossa Excelência”, acrescentando que “você não é coronel
de nada”. Exaltado, Jereissati chamou Renan de “cangaceiro de terceira categoria”
e, ainda mais irado, teria acrescentado “seu merda”.
Outro caso que não
foge da memória é a pancadaria que dominou o Senado, em 12 de setembro de 2007,
quando deputados trocaram empurrões, socos e pontapés com os seguranças que
tentavam impedir sua entrada na sessão em que seria julgado o senador e então
presidente da Casa, Renan Calheiros, à época sob o risco de cassação. Os
deputados possuíam autorização do STF para entrar, mas os senadores queriam que
a sessão fosse secreta. O pau cantou, mas o sortudo Renan acabou absolvido.
Como se vê, o
buchicho entre Ronaldo Caiado e Eduardo Braga não foge aos padrões de serenidade,
cordialidade, educação e respeito mútuo, que há muito “dignificam” nossos
congressistas.
O que mais chamou a
atenção, nesse caso, foi a expressão Vossa
Excelência, que eles empregaram no tratamento recíproco, apesar do baixo
calão dos adjetivos que vinham na sequência.
Isso despertou a curiosidade
dos responsáveis por zelar pela ética e pelo decoro nas duas casas do Congresso
Nacional, deixando-os preocupados em definir se o tratamento “Vossa Excelência” deve ser entendido
como uma reverência ou um insulto a quem o recebe.
Mas a preocupação se
desfez, logo que o encarregado de decodificar a gravação do diálogo concluiu
que estava tudo errado. O elevado tom da áspera discussão deu margem a um
imperdoável equivoco. Em verdade, ninguém pronunciou “Vossa Excelência” é um safado ou “Vossa Excelência” é um bandido. Uma escuta mais atenta e apurada teria
mostrado que “Vossa Excrescência” foi
o axiônimo mal compreendido. Enfim, o nexo!
- Diário do Rio Doce
- www.nosrevista.com.br