sábado, 31 de dezembro de 2011

BALADA DOS EXCLUÍDOS

            Em meio a tantas confraternizações de fim de ano, não poderia faltar uma que reunisse os ministros defenestrados por Dilma Rousseff. Sem deixar de fora, claro, os auxiliares que com eles “se ferraram”, os empreiteiros comprometidos – que certamente pagariam a conta – e alguns outros comparsas mais chegados. Afinal, já formam uma numerosa confraria, que tende a aumentar. Compreensível, pois, a intenção de tirá-los do ostracismo, promovendo-se um reencontro para matar saudade dos regabofes oficiais a que se acostumaram.
            Essa a empreitada a que teria se dedicado renomada editora. Uma forma de retribuir o farto noticiário que aquela turma produziu durante o ano, turbinando a circulação e o faturamento de sua revista semanal.
            A ideia inicial seria um farto jantar, em luxuosa casa de festas brasiliense, com “jingle bells”, Papai Noel e o tradicional amigo oculto.
           Segundo relato de um “promoter”, que não quis se identificar, nem todos aceitaram o convite.
            O primeiro “tô fora” veio de Nelson Jobim. Com “finesse” gaúcha e sem rodeios, o ex-ministro da Defesa disse que não queria correr o risco de casual encontro com as ministras Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann, nem na Missa do Galo.
           Mais jeitosos, Antonio Palocci e Alfredo Nascimento alegaram compromissos religiosos para não vir. O ex-chefe da Casa Civil argumentou que passaria o período natalino em um mosteiro, agradecendo a Deus e orando pelos amigos – também ocultos – a que deu consultoria e que contribuíram para o robusto aumento de sua fortuna. Na mesma linha, o demitido ministro dos Transportes justificou que estava recolhido e abstêmio. Tudo em retribuição ao milagre que, segundo noticiado, elevou em mais de 85.000% o patrimônio de seu filho Gustavo.
           Com tantas abstenções, o evento foi transferido para a virada do ano. Seria aquele "réveillon", capaz de fazer Dilma Rousseff arrepender-se de haver chutado fundilhos tão importantes e delicados.
           Mas aí foram outros os impossibilitados de comparecer.
           O ex-ministro do Turismo Pedro Novais alegou que estava escalado para comandar um “comes e bebe” num motel em São Luís (MA); tudo por conta da “viúva”. De lá só poderia sair após o apito final, quando já teria papado muita coisa boa. A essa altura, não aguentaria mais nada.
            Ainda inconformado porque seu amor não foi correspondido, Carlos Lupi, ex-comandante do Trabalho, também se disse impedido de marcar presença; não mais conseguia carona em aviões de empresários.
            Inusitada era a situação de Orlando Silva, ex-titular dos Esportes: só poderia curtir o Segundo Tempo da confraternização, depois que o policial militar João Dias, estopim de sua demissão e igualmente convidado, batesse em retirada.      
            Havia a possibilidade de a Polícia Federal, sem convite, dar uma de “penetra”. A vantagem é que alguns poderiam beber à vontade, sem se preocupar com dirigir depois.
            Para tristeza dos disponíveis, a balada foi novamente adiada.
           Não havendo outros contratempos, poderá acontecer daqui a seis meses, talvez em Minas, no castelo do deputado Edmar Moreira. Estima-se que o número de faxinados seja ainda maior, concorrendo para uma bela festança junina. No cardápio, além de fogueiras e batatas quentes, a famosa “quadrilha”, que, para esse grupo, dispensa ensaios; todos são especialistas. Até lá, feliz ano novo!

sábado, 24 de dezembro de 2011

CONSCIÊNCIA NATALINA

            O tempo passa, a mente evolui, as coisas se modificam e, nessa corrida desenfreada, as tradições se enfraquecem, abalando sonhos e imaginações.
O Natal está se tornando uma data cada vez mais mercantil, mais consumista, menos introspectiva e de quase nenhuma reflexão.
Está tão ligado à troca de presentes e a uma enorme quantidade de símbolos, que muitos imaginam estar comemorando o “niver” de Papai Noel, não o nascimento do Menino Jesus.
Isso desperta uma saudosa lembrança da época em que os artigos encontrados no comércio eram mais simples e escassos, exigindo criatividade e imaginação de quem queria presentear.
Bonecas de pano, carrinhos de madeira e outros brinquedos feitos pelos pais e avós figuravam entre os objetos de desejo que a meninada relacionava em suas cartas e pedidos ao Bom Velhinho.
Com pouco dinheiro e lojas que não ofereciam maiores opções, procurava-se juntar o útil ao agradável, dando-se também roupas, calçados, materiais escolares e outras utilidades que teriam de mais tarde ser compradas.
A ceia natalina, mesmo farta e saborosa, era mais modesta, sem grandes iguarias, quase restrita a familiares e invariavelmente antecedida de uma prece de gratidão.
Mais ingênuas, as crianças colocavam seus sapatos nas janelas e iam cedo para a cama. Dormiam certos de que Papai Noel, a bordo de seu trenó puxado por renas, viria deixar as surpresas das quais se apossariam no dia seguinte.
Tempo romântico, de grande misticismo, em que o sentimentalismo tomava conta de todos e a solidariedade era mais presente na luta contra as desigualdades sociais, mais nítidas e cruéis no período natalino.
Ainda bem que alguns bons costumes não se perderam.
O Natal ainda é o grande motivo para a reunião familiar e para a confraternização entre amigos, colegas de trabalho, fornecedores, seus clientes e tantos outros. A ajuda ao próximo permanece sendo a preocupação das pessoas mais sensatas e de muitas instituições. A fé segue movendo um grande número de indivíduos.
Nada contra dar ou receber presentes, nem que isso concorra para alavancar o comércio. Faz parte do jogo e até merece estímulo. Mas não deve se sobrepor à essência da celebração.
O ideal é converter as práticas natalinas em ações desenvolvidas ao longo do ano. Para que o Natal deixe de ser um tempo de polarização social, em que uns têm em abundância e outros são absolutamente carentes. Ocasião onde os abastados vivem momentos iluminados e felizes, enquanto, os pobres mergulham na tristeza e na mais solitária escuridão.
É a chance de cada um voltar a atenção para os humildes e necessitados, assumindo sua cota de participação na arte de inclusão social. Só assim haverá consciência tranquila para dizer e ouvir Feliz Natal. 

domingo, 18 de dezembro de 2011

ESTRELAS NO CHÃO

            Assim como um bife de hambúrguer, o brasileiro vive prensado entre corruptos, políticos e governantes “desincompetentes”, mistura de desonestos com incompetentes.
            Nesse contexto acontecem absurdos capazes de causar revolta e perplexidade no mais tolerante e precavido dos mortais.
            Quase nada é feito com a devida seriedade.
            Recorre-se a todo tipo de maquiagem e aos mais descarados artifícios para dissimular a realidade.
           Ações dolosas e sua comprovada autoria são negadas com o maior cinismo, mostrando que se errar é humano, negar o erro é próprio dos governantes.
            Assim que surgem os primeiros indícios de mudanças positivas, novas trapalhadas, outras decepções, mais bandalheiras vêm à tona, fazendo desmoronar todo um arcabouço de esperanças.
            Basta lembrar a impressionante sequência de ministros que em menos de um ano saíram do governo Dilma Rousseff, pela prática de atos delituosos. E a faxina está em curso, independentemente do olho em que o “pimentel” vai arder.
            Enquanto isso, a nação vive à espera de leis e reformas que a possam tornar mais viável, justa e respeitada. Decisões que exorcizem a afirmação de que não somos um país sério, há muito feita pelo francês Charles De Gaulle.
            Alheio à responsabilidade que lhe cabe, o Congresso Nacional mantém engavetados importantes projetos de lei que tratam do combate aos criminosos do colarinho branco, do controle das ONGs e de outros relevantes temas.  Alguns lá estão há mais de 15 anos, como é o caso dos anticorrupção.
            Entretanto, como se a pauta estivesse em dia no tocante às matérias de relevante interesse nacional, a Câmara Federal acaba de estafar-se na aprovação do projeto de lei que proíbe os pais de baterem nos filhos, a já popular Lei da Palmada.
            Sem entrar no mérito da proposta – que ainda está sujeita à aprovação do Senado – a atitude de nossos deputados federais afronta a paciência popular e dá mostra de que eles não sabem eleger ou estão nada preocupados com as prioridades nacionais.
            Depois dessa, já se assimila como natural a possibilidade de Fernando Collor suceder José Sarney na presidência do Senado.
           Parafraseando Orestes Barbosa e Silvio Caldas, o país continua sendo um palco iluminado, onde o povo é o palhaço das perdidas ilusões. E a porta do cofre está sem trinco! 
           

sábado, 10 de dezembro de 2011

"PUB.STADIUM"

             Não só praças esportivas, aeroportos, meios de transporte, hotéis, motéis, bares e restaurantes estão sendo modificados em função dos grandes eventos esportivos que o Brasil sediará nos próximos anos. Tudo e todos se movimentam no mesmo sentido.
            Figuras do cotidiano estão empenhadas em modificar hábitos, costumes e a própria identidade, para melhor se aproveitarem da onda.
            Prostitutas tomam aulas de glamour, etiqueta e preferem se apresentar como “agentes do sexo”. Cafetões e cafetinas só atendem sob o codinome de “consultores do prazer”. Mendigos se organizam em associações e se transformam em “solicitantes de aportes”. Assaltantes estudam línguas estrangeiras e fazem cursos de boas maneiras, para se tornarem “parceiros do patrimônio alheio”. O importante é ficar bem nas fotos.
            Isso acaba exigindo mudanças nas regras e princípios que regulam o comportamento social.
           Já é quase certa, por exemplo, a liberação da venda de bebida alcoólica nos estádios, durante a Copa. A generosidade consta do relatório que o deputado Vicente Cândido (PT-SP) apresentou à comissão que vai decidir sobre o Projeto de Lei que trata das normas negociadas com a FIFA e institui a Lei Geral da Copa.
           De início, a bancada de abstêmios teria batido pé, exigindo que a liberalidade só durasse enquanto a seleção brasileira permanecesse na disputa. Pelo que se vê atualmente, esse tempo seria muito curto, não justificando o empenho. Segundo as más línguas, a idéia só não abortou graças à pronta interferência da Budweise, patrocinadora do evento, que com “habilidade” conseguiu harmonizar os interesses.
           Outro empecilho teria sido a intenção de só se permitir a venda de bebidas de baixo teor alcoólico, excluídas, pois, a tradicional “marvada” e outras destiladas. Lula teria entrado em ação para resguardar interesses e liberar geral.
           No momento, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, declarou-se “totalmente contra”. Mas Aldo Rebelo, ministro do Esporte, perguntou: “No estádio não pode ter bebida e no show da Madonna pode?” Pra aquecer a discussão, ironizou dizendo que “daqui a pouco, pela marcha da posição de certas corporações, vamos terminar banindo a bebida alcoólica do carnaval”.
           O fato é que a polêmica se instalou e a votação na Câmara poderá ocorrer nesta semana. Se aprovada, a venda de bebida será autorizada já a partir da sanção da lei.
           Entusiasmados, os adeptos do “pub.stadium” já estão pensando em uma forma de conseguir o recolhimento dos “bafômetros”, nos dias de jogos, pelo menos até as Olimpíadas de 2016.  Projeto de Lei nesse sentido seria em breve apresentado, com apoio dos experientes Romário e Aécio Neves, para tramitar em regime de urgência. Há chances de aprovação.
 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

AJUSTE DE CONDUTA

            A corrupção brasileira tornou-se epidêmica, está em toda parte. No executivo, no legislativo, no judiciário, no esporte, na educação, no transporte, nas religiões, em qualquer lugar há sempre alguém metendo a mão no dinheiro do povo.
            Historiadores “genéricos” não têm dúvida em afirmar que se trata de mal congênito, provocado por um vírus que chegou ao Brasil no descobrimento, a bordo da esquadra de Cabral.
            Especula-se que já naquela época teria acontecido o primeiro caso de desvio de recursos, por parte da ONG “Parceiros do Tesouro”, incumbida de administrar o programa “Minha Tribo, Minha Vida”.
            Sem falar na descoberta de que uma das caravelas lusitanas havia sido comprada por preço inferior ao de mercado. Até hoje, único caso em que a fraude aconteceu por subfaturamento do bem adquirido. Coisa da terrinha...
            Daí ao “mensalão” do PT foi só questão de tempo, mas sem perda de tempo.  A roubalheira avançou no mesmo ritmo da história: célere e implacável.
            Segundo conclusão da revista Veja, “a cada ano, a corrupção rouba dos cofres públicos brasileiros a exorbitante quantia de 85 bilhões de reais. Esse montante seria suficiente para resolver os principais problemas do país e acelerar seu desenvolvimento”. 
            Chegou-se a ponto de ações preventivas e punitivas perderem eficácia. Descarados e confiantes na impunidade, os corruptos avançam ferozes e impiedosos.
           Um velho ditado ensina que “se não puder vencer o inimigo, junte-se a ele”. Por analogia, talvez fizesse sentido imaginar que “se não puder eliminar o mal, aproveite-se dele”.
           Não se trata de aliar-se aos corruptos, tampouco de receptar algo do que costumam abocanhar.
           O plano consistiria em estabelecer com eles um “ajuste de conduta” que tornasse mais fácil a apuração e minimizasse os efeitos de suas ações.
            A primeira providência seria a formação do Cadastro Geral de Corruptos (CGC) com foto, identidade, CPF, endereço e demais dados dos profissionais da área. Dessa forma, haveria condições de emitir-se nota fiscal, recibo ou outro documento que, quando necessário, comprovasse o ilícito. Acabaria essa história de roubar e depois negar.
           Paralelamente, instituir-se-ia o Imposto Sobre Valores Desviados (ISVD), incidente sobre quaisquer quantias surrupiadas dos cofres públicos.
           Para efeito de tributação, os corruptos seriam classificados em micro, pequenos, médios e grandes, cada um com seu “limite operacional” e campo de atuação definido.
           Ninguém poderia agir em mais de uma “frente”, ou seja: se, por exemplo, roubou na área da saúde, não poderia fazer o mesmo em outro setor.
           O percentual do imposto variaria conforme o valor do desfalque. Quanto maior o furto, maior a alíquota.
           A cobrança alcançaria individualmente corruptos ativos e passivos, nas mesmas bases.
           Como toda obrigação gera direitos, os corruptos passariam a ter, entre outros, os benefícios do Fundo de Incentivo à Corrupção (FIC) e do Programa de Amparo à Corrupção (PAC). O primeiro destinado à capacitação da “classe”; o outro incumbido de dar assistência ao contraventor e à sua família, nos casos de demissão do cargo, aposentadoria, invalidez, prisão ou morte (preferência pelos dois últimos).
           Na temporada de obras relacionadas com a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, está todo mundo de olho nos recursos financeiros que sairão dos caixas oficiais. O campo tornou-se mais propício a tramoias e falcatruas. Muito dinheiro escoará pelos ralos da corrupção.
           Necessário, pois, encontrar um meio, mesmo bizarro, de regular esse processo, na tentativa de salvar pelo menos parte do que os fraudadores insistem em furtar. Melhor que nada.
           A taxação dos valores roubados é alternativa sujeita a análise e aperfeiçoamento. Em tão curto espaço, seria impossível concebê-la perfeita.  Tem tudo pra dar certo, desde que o lançamento do tributo não fique a cargo do contribuinte que se quer alcançar. Aí seria bicorrupção!


Texto publicado na revista
"Mais Mais PERFIL Mulher"
Edição de Dezembro/2011

sábado, 3 de dezembro de 2011

DEVOÇÕES DE FINAL

            Encerra-se hoje o que está sendo considerado um dos mais bem disputados campeonatos brasileiros de todos os tempos.
            Após inúmeras rodadas, chega-se a uma final inédita e emocionante: em todos os dez jogos, um dos times dependerá da vitória para alcançar determinado objetivo na tabela de classificação. Além do título de campeão e da fuga do rebaixamento, a disputa pelas últimas vagas na Copa Libertadores promete mexer com os nervos de grandes torcidas.
            O que mais interessa, entretanto, é o desfecho nas duas pontas do torneio. De um lado a conquista da taça, do que se aproximam Corinthians e Vasco. Do outro a sustentação na elite do futebol brasileiro, perseguida por Cruzeiro, Ceará e Bahia.
            Na busca desses objetivos, qualquer recurso é válido. Possuir bom time e contar com numerosa torcida são fatores fundamentais, mas não suficientes  para liquidar a fatura. Sorte, mandingas, simpatias, “malas multicores” e outras armações também ajudam, e muito!
            Segundo os mais entendidos, o fator determinante é a confiança nos "pés divinos". O problema é que, em sendo único, Deus poderá ter dificuldades para satisfazer o egoísmo de devotos adversários.
            Como a fé remove montanhas e retrancas, os torcedores de cada time acham que, mesmo protegendo a todos, Deus observa jurisdições que Lhe permitem preferências.
            Os vascaínos, por exemplo, não têm dúvida quanto a serem os “escolhidos”, pois a cruz em que Ele morreu é o símbolo da Cruz de Malta. Além disso, é no Rio que está o Cristo Redentor, de braços abertos para “agasalhar o caneco”. Mas sabem que os “diabos” rubro-negros vão lhes dar muito calor.
            No nordeste, o time do Ceará acredita cegamente em que Deus, sob a influência do milagroso Padre Cícero, o ajudará a vencer o Bahia, mesmo que por lá apareça a sedutora “mala azul”.
            Enquanto o Cruzeiro, amargando a síndrome da segundona, entrará em campo confiante não só na mineirice do Galo, mas sobretudo na igualdade entre suas cores e o azul do céu, onde mora o Criador.
            Situação mais cômoda, entretanto, parece ser a do Corinthians. Nem tanto pela liderança que ocupa na tabela. Tampouco em razão de o verde palmeirense despertar no adversário esperança de vitória. O que tranqüiliza o alvinegro paulista, além de sua fé no Senhor, é ter como torcedor Luiz Inácio Lula da Silva, um pé frio que se considera Deus.
            O jeito é aguardar a bola rolar ... 
 

sábado, 26 de novembro de 2011

CULPA DIVIDIDA

            Nunca antes nesse país a artilharia esteve tão voltada para os motoristas alcoolizados.
          Nas blitzes, cada vez mais freqüentes, incertas e rigorosas, não há distinções. Qualquer um pode ser parado, independente de prestígio.
          Os meios de comunicação têm dado grande destaque aos acidentes em que se envolvem pilotos bêbados, expondo toda a crueldade dos ferimentos e mortes por eles provocados.
          Ainda assim, confiantes na sorte, muitos permanecem na contramão da lei, praticando verdadeira roleta russa. Pagam pra ver!
          Acreditam em que, no caso de uma abordagem, poderão se recusar a soprar o bafômetro e, na sequência, com a ajuda de um bom advogado ou por “outros” meios, se livrarem de punição.
          Mas os “bebuns” do volante acabam de sofrer dois duros golpes.
          Por recente decisão do Supremo Tribunal Federal, quem dirigir alcoolizado, mesmo sem provocar danos, estará cometendo delito.
         Segundo o relator da matéria, ministro Ricardo Lewandowski, o crime de guiar embriagado “é como o porte de armas. Não é preciso que alguém pratique efetivamente um ilícito com emprego da arma. O simples porte constitui crime de perigo abstrato porque outros bens estão em jogo”.
          Na mesma linha, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou projeto de lei que prevê tolerância zero para motorista “chapado”. Conduzir um veículo sob efeito de qualquer teor de álcool transformar-se-á em crime, com penas elevadas para os infratores. A embriaguez poderá ser comprovada por outras formas, dispensada a obrigatoriedade de teste do bafômetro.
          Achando que o país vive uma “epidemia” de violência no trânsito, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), autor do projeto, ressaltou que o consumo de álcool responde por 40% dos acidentes motorizados registrados no país.
          Por lógica dedução, não só motoristas bêbados dão causas às tragédias que se busca evitar. Há uma interminável lista de outros motivos para o maior percentual de episódios restante. Entre eles, claro, a negligência, a imperícia e a imprudência.
           Grande parte dos desastres, entretanto, se deve à precariedade de nossas vias, com estradas, avenidas e ruas mal planejadas, pessimamente sinalizadas e sem conservação. Some-se a deficiente fiscalização e a ausência de uma política voltada para a educação de motoristas e pedestres. Sem falar na falta de transportes coletivos à altura das necessidades populares e que permitam ao cidadão deixar seus veículos nas garagens. Falhas crônicas e causadoras de inúmeras tragédias, retrato de vergonhosa omissão do poder público.
            Que sejam, pois, também punidos os responsáveis por esse cenário revoltante, tão criminosos quanto os beberrões focados pela lei.
            Só assim o brasileiro poderá acalentar a esperança de um trânsito menos violento e mais civilizado.

domingo, 20 de novembro de 2011

CONSCIÊNCIA DISTORCIDA

          Na definição da Wikpedia, “consciência é uma qualidade psíquica, isto é, que pertence à esfera da psique humana, por isso diz-se também que ela é um atributo do espírito, da mente, ou do pensamento humano”.
         Sob esse conceito, a consciência se nivela ao amor, o ódio, a alegria, a tristeza, o tesão, a frigidez, a dor, o prazer, a admiração, a aversão, a fé, a desilusão e tantos outros sentimentos que não têm cor, têm intensidade.
          Difícil, pois, atribuir matiz à consciência que se ocupa dos afrodescendentes.
         Tudo bem que sejam homenageados os que aqui chegaram e trabalharam para consolidar a nação brasileira. Heróis e vilões indígenas, portugueses, africanos, espanhóis, franceses e de outras origens que contribuíram para as conquistas hoje festejadas. Não há uma bandeira predominante. Maximizar ou minimizar a participação de quem quer que seja seria negar a teoria que valoriza o esforço conjunto.
          Distingui-los pelo físico, pela inteligência, pela religião, pela cor ou por qualquer outra característica própria é incorrer em imperdoável discriminação. Uma visão distorcida, injusta e contrária à tese de igualdade humana.
          O diplomata Paulo Roberto de Almeida, Ph.D. em Ciências Sociais, em seu blog “Diplomatizzando” (17/11), disse achar “curiosa essa insistência na "consciência" negra, na "dignidade" negra, em qualquer coisa "negra", ou afrodescendente e seus equivalentes funcionais, com toda a carga de racismo implícito embutido nos programas oficiais do governo”. Entre outros questionamentos sobre o que se pretende, ele indaga se não seria essa a forma de “criar uma nação, uma cultura, uma sociedade apartada das correntes nacionais miscigenadoras e "misturadoras" de todos os brasileiros”.
          Sob o rótulo de Dia Nacional da Consciência Negra, o 20 de novembro é reservado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. A data foi escolhida por coincidir com a da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695.
          Nada contra a que se reverencie a comunidade negra e o grande herói brasileiro que, por vários anos, comandou um movimento de resistência à  escravidão.
          O que muitos questionam é a indisfarçável conotação racista desse tributo.
          Na essência, brancos, negros e mulatos, formamos um único povo, uma mesma nação. Seres humanos se distinguem por seu caráter e dignidade, não pela cor.
          Se a intenção for homenagear uma raça, melhor que isso se faça com isenção e através de ações voltadas para a educação, saúde, segurança, moradia, inserção no mercado de trabalho e outras medidas que proporcionem o bem-estar social de seus integrantes. Afora isso, as iniciativas podem resultar inócuas, não passando de maquiagem incapaz de ocultar enorme falta de consciência.

domingo, 13 de novembro de 2011

"DESAGROPECUARIZAÇÃO"

            A valorização do real frente ao dólar fez nascer uma síndrome de “desindustrialização” do país, provocada pela perda de competitividade da indústria nacional diante de similares importados. Uma das preocupações é o desemprego que poderia resultar do fechamento de empresas, mudança ou terceirização do processo produtivo em outros países.
            O temor alcançou o agronegócio nacional, na medida em que vem crescendo a importação de gêneros aqui produzidos em abundância.
            Nos últimos quatro anos, café, cebola, laranja, mandioca, folhas de fumo e outros itens nos quais somos autossuficientes tiveram sua entrada normatizada pelo governo. Até a reabertura do mercado para a banana do Equador está na iminência de acontecer.
            Nem sempre o intercâmbio comercial ocorre em igualdade de condições.
            No término do governo Lula, por exemplo, uma negociação abriu o mercado brasileiro à importação ilimitada de lácteos produzidos no Uruguai. Em contrapartida, o Brasil ficou autorizado a exportar para aquele país uma determinada cota anual de carne de frango. Para um lado, liberdade total; para o outro, danosa limitação
            A abertura do mercado brasileiro ao alho chinês, nos anos 90, também deu mostra de como a produção interna pode ser afetada pela importação de produtos obtidos em diferentes condições de competitividade. Naquela época, o produto nacional supria a quase totalidade do consumo interno. Em 2010, de acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Alho, mais de 60% representaram importações.
            O tema foi abordado em recente artigo assinado por Roberto Simões, presidente da Federação da agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG), sob o título “A desagropecuarização silenciosa do Brasil”.
            Segundo ele, apesar da logística cara e ineficiente, da proibitiva carga tributária, dos juros e prazos de pagamento incompatíveis com a atividade e de inúmeros outros entraves a que são submetidos, os produtores brasileiros fazem a mais importante e eficiente agropecuária tropical do planeta. Mas os pequenos e médios não estão preparados para uma competição internacional sob condições desiguais.
            Na conclusão, Simões esclarece que “não se trata de pedir protecionismo, contra o qual lutamos nos principais mercados para os quais exportamos. Trata-se de pedir condições iguais de competição, sob pena de termos à mesa apenas alho chinês, banana equatoriana e leite argentino e uruguaio”.
            Técnica e setorial, a questão, em princípio, não despertaria interesse comum. Não é bem assim: se o setor se lascar, as conseqüências recairão sobre toda a sociedade que, como sempre, será chamada a pagar a conta.
            O comando é do governo, de quem se espera menos ganância, mais competência e um mínimo de visão mercadológica. Haja paciência!
 

 

domingo, 6 de novembro de 2011

SEM ESPAÇO PARA LUTAR

                O simples desejo de estreitar laços de amizade e alavancar o comércio bilateral já justifica que governantes e empresários atravessem fronteiras, em busca de alternativas.
                O contato direto com autoridades e grandes corporações econômicas estrangeiras é fundamental para o estabelecimento de parcerias capazes de satisfazer a interesses recíprocos.
                Salutar em épocas normais, a iniciativa cresce de importância em temporadas de crise. Nesse contexto, todos têm que se virar. Uns em busca de compradores, outros procurando vendedores, ambos à cata de negócios capazes de alavancar a economia e gerar empregos.
                Antenado, o governador de Minas Gerais não dorme no ponto.
                Com pouco mais de seis meses de mandato, fez as malas e se mandou para o Japão, para vender o seu “tutu à mineira”.
                Mal retornou, organizou nova expedição, dessa feita destinada à Índia, com escala na Suíça.
                Como ele próprio disse, “o objetivo é sempre o mesmo: mostrar as oportunidades, os incentivos e as facilidades que Minas Gerais oferece aos investidores para gerar riqueza e empregos aqui, para termos produtos de maior valor agregado em nosso Estado”.
                Em ambas as ocasiões, Anastasia levou consigo vários empresários mineiros, dando-lhes oportunidade de divulgar seus produtos e dialogar com grandes corporações. Só na última viagem, foram mais de sessenta.
                Até aí, tudo bem. Incursões desse tipo normalmente requerem trabalho de equipe, onde governo e classe empresarial se unem em torno de interesses comuns.
                Também é compreensível que, na escolha dos companheiros de viagem, a preferência recaia sobre empresários mais representativos, que mais têm a oferecer.
                Lamentável, em tudo isso, é a ausência de pelo menos um emissário valadarense no grupo.
                Por falta de convite, desinteresse, desinformação ou por qualquer outro motivo, esta cidade continua perdendo ocasiões de mostrar suas qualidades, exibir seu potencial para negócios e assim atrair os investimentos de que tanto necessita. Situação inadmissível.
                As viagens de Anastasia certamente não se encerraram. Ambicioso e irrequieto, ele não vai se acomodar.
                Há chances, pois, de Valadares recuperar o tempo perdido. Basta ligar-se nos acontecimentos, impor seus valores, exigir espaço onde possa lutar por seus anseios e usufruir das oportunidades a que também tem direito.   O que não será difícil, se nossos políticos e empresários assumirem postura condizente com a posição que ocupam e à altura das esperanças de que são depositários.
                Chega de a comunidade ser “prestigiada” apenas em época de eleições.

domingo, 30 de outubro de 2011

A VERDADEIRA HERANÇA

                No contexto governamental, quando se fala em herança maldita, a impressão é de que se faz referência a grandes dívidas financeiras, obras inacabadas, estruturas sucateadas, serviços deficientes, desorganização e outros pepinos oriundos da administração anterior.
                De fato, hoje se observa que quase tudo faz parte do espólio recebido por Dilma Rousseff.
                Além de um débito bilionário, o governo Lula deixou, entre outros, graves problemas nas áreas de saúde, educação, transporte, além de uma folha de pagamento das mais onerosas e a responsabilidade pela execução das obras exigidas pela Copa/2014 e a Olimpíada/2016
                Mas isso faz parte do jogo político administrativo e quem se dispõe à condição de sucessor deve estar preparado para encarar dificuldades.
                No caso de Dilma, entretanto, as coisas estão ultrapassando o limite da razoabilidade.
                Mais do que cumprir uma agenda de trabalho própria de qualquer presidente, sua principal tarefa tem sido combater a corrupção que se instalou em sua administração, provocando estragos de toda ordem.
                Antes de completar um ano de mandato, ela já foi obrigada a trocar seis de seus mais importantes ministros, cinco dos quais por razões explícitas de malversação de dinheiro público. Em qualquer país razoavelmente sério, isso seria inadmissível. No mínimo, exigiria uma imediata reforma ministerial ampla, geral e irrestrita.
                O mais preocupante é que todos os ministros mandados pra rua foram herdados de Lula.
                Esta, sim, seria a verdadeira herança maldita.
               Muitos discordam da terminologia, entendendo que Dilma é também responsável. O deputado ACM Neto, por exemplo, disse que “não dá para afastar a responsabilidade e acho até que ela tem uma postura melhor do que Lula. Mas ela era ministra da Casa Civil de Lula, sabia o que estava acontecendo e mesmo assim nomeou os ministros”.
               A esta altura, não adianta discutir o tipo do legado. O importante é que o expurgo dos malfeitores tenha continuidade. Pelo visto, a bola da vez já dá sinais de vida; que sua"matada" não dê Trabalho.

domingo, 23 de outubro de 2011

A APULGA

            O recente episódio envolvendo o ministro do Esporte, Orlando Silva, voltou a despertar a pulga que está alojada atrás da orelha do brasileiro. A mesma pulga que o incomodou quando caíram os ministros Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura) e Pedro Novais (Turismo), todos patrocinados pelo ex-presidente Lula.
            A curiosidade nem tanto se relaciona com o grau de participação desses indivíduos nos acontecimentos censurados. Também não há grande interesse em relação ao o que a eles aconteceria uma vez comprovada sua culpa. A dificuldade tem sido entender como grandes falcatruas, tipo as denunciadas pelo policial João Dias, apenas são conhecidas através de revistas, jornais e  televisões, nunca por meio de informações oficiais.
            São ocorrências gravíssimas, às vezes crônicas, que os noticiários descrevem nos seus mínimos detalhes. De deduzir que os meios de comunicação possuem informações privilegiadas, uma capacidade investigativa muito superior à dos órgãos legalmente incumbidos dessa tarefa, ou ambos.
            Depois da onça abatida, não falta quem lhe queira pisar a cabeça. Uma vez no domínio público, logo surgem porta vozes e notas oficiais dizendo que a questão já vinha sendo acompanhada e que medidas cabíveis estão sendo adotadas.
            Segue-se o conhecido script. O titular do órgão nega envolvimento, jura inocência, recebe voto de confiança da presidente, recorre aos padrinhos políticos, mas acaba ejetado do cargo, felizmente!
            Encerrado o jogo de cena, promete-se que os atos de corrupção serão rigorosamente apurados e os culpados punidos.
            Não são necessários muitos dias para que tudo caia no esquecimento.
Hoje, por exemplo, só os mais chegados sabem onde estão e o que fazem Palocci, Nascimento, Rossi ou Novais. Indiferente ao que com eles aconteceu, o povão está mais preocupado com a colocação do seu time no campeonato brasileiro, com Natal que se aproxima e em conseguir grana para viajar de férias. O resto deixa pra lá.
            A essa altura, o melhor é sintonizar nos sites de humor, sempre bons analistas da realidade.
            O Eramos6, por exemplo, no correr da semana, entendeu que “... o Ministério da Dilma tá virando campeão em maracutaia. São tantos ministros enrolados, que daqui a pouco a Dilma vai ficar com tendinite de tanto dar pé na bunda para demitir os caras. E aí, não vai dar pra tirar mais ninguém. Vai ficar engessada.”.
            Seria apenas cômico, se não fosse verdade.

domingo, 16 de outubro de 2011

FAMA INDESEJÁVEL

             Não faz muito tempo, Valadares destacou-se na mídia, “ostentando” o segundo lugar entre os vinte municípios brasileiros onde os adolescentes com idade entre 12 e 18 anos correm mais riscos de serem assassinados.
           A possibilidade foi medida em 2006, pelo Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), que nesta cidade atingiu 8,5.
Significa que, num período de sete anos, aqui se podia esperar 327 mortes de indivíduos naquela faixa etária.
           Condição pior só a de Foz do Iguaçu (PR) que, com um IHA de 9,7, tinha "chance" de contabilizar 446 assassinatos do tipo, no mesmo espaço de tempo.
          Ainda perplexa diante dessa assustadora estimativa, a comunidade volta às manchetes, com a notícia de que tem o maior índice de homicídios em Minas Gerais.
          Segundo reportagem do jornal “Hoje em Dia”, análise da Polícia Civil mostra que, neste ano, 106 pessoas foram aqui assassinadas, até o fim da última segunda-feira.
          Situação das mais preocupantes, sobretudo porque a maioria dessas mortes está relacionada com o comércio de drogas, evidência de que a cidade está impregnada de traficantes e usuários do produto.
          As autoridades dizem que essa onda de violência tem sofrido combate enérgico, implacável e sem trégua. Mas, pelo visto, os criminosos estão bem organizados e dispostos ao confronto.
          O mesmo noticiário registra que, em Juiz de Fora, o coronel Ronaldo Nazareth, comandante da 4ª Região Militar, apontou alguns fatores que têm contribuído para reduzir os coeficientes de criminalidade. Entre eles a melhoria do nível cultural da população. Aquela autoridade  acredita, contudo, ser mais importante a integração dos setores de inteligência da PM, Polícia Civil, Guarda Municipal, Polícia Federal e Exército que, pelo menos mensalmente, se reúnem para trocar informações e traçar estratégias conjuntas de combate à violência.          
           Na visão de Ricardo Balestri, ex-secretário Nacional de Segurança Pública, “não há transformação social que não seja alcançada pela participação dos agentes de saúde, dos agentes de segurança e dos educadores, pois estes agentes inspiram a formação moral dos agentes coletivos”.        
          Diagnósticos à parte, o clamor social pelo fim da violência e da criminalidade tem dimensões cada vez maiores.
          E Valadares não pode seguir encabeçando filas humilhantes e comprometedoras.
          Chega de colecionar troféus que só servem para ornamentar uma já extensa galeria de destaques abomináveis. A cidade merece mais!

domingo, 9 de outubro de 2011

A VEZ DO AEROPORTO

             A comunidade valadarense está exultante com a notícia de que o Aeroporto Cel. Altino Machado será finalmente contemplado com melhorias.
            A reação é compreensível, pois se trata de providência reclamada há muitos anos e que, uma vez adotada, poderá trazer outros ganhos para a cidade.
            Os mais antigos se recordam do quanto Valadares vem se debatendo para ter um aeroporto à altura de sua importância e representatividade. A luta é desde quando isso era privilégio das capitais e de poucas grandes cidades.
          Aqui existia nada mais que modesto campo de aviação, situado numa posição diagonal à Rua Marechal Floriano, ocupando grande parte do Bairro de Lourdes.
           Era uma estação de passageiro até simpática e acolhedora, construída em madeira, e uma pista de terra compactada em que operavam pequenos aviões e os então famosos DC-3 da Panair, Nacional e Real Transportes Aéreos. Para os padrões da época, a cidade era relativamente bem servida em transportes aéreos.
            Foi nesse local, onde seu avião aterrissou em janeiro de 1960, que o candidato Jânio Quadros prometeu, se eleito Presidente, construir o sonhado aeroporto de Governador Valadares e muitos outros.
            Jânio se elegeu, mas renunciou antes de cumprir a promessa.
            A cidade teve que esperar até 1966, quando foi inaugurado o Aeroporto Cel. Altino Machado de Oliveira.
            Mais moderno, com melhores condições técnicas, o novo terminal chegou a ser considerado um dos maiores do estado.
            Na verdade, entretanto, nunca funcionou plenamente. Sempre faltou alguma coisa, como se fosse uma sinfonia inacabada.
            No último mandato do prefeito Bonifácio Mourão, sua pista foi ampliada em 300 metros, adquirindo capacidade para pouso e decolagem de aeronaves de até 100 passageiros. Os investimentos foram da ordem de R$ 20 milhões, incluindo melhorias na área de taxiamento e balizamento noturno.
            Anuncia-se a promessa de que mais R$ 4,5 milhões serão investidos no terminal, priorizando-se sua ampliação e modernização. O objetivo é dar mais conforto e segurança aos passageiros, além de despertar o interesse de outras empresas aéreas pelo mercado local. Demorou, mas parece que agora é pra valer.
            Segundo o noticiário, a Infraero pretende investir R$ 7,1 bilhões em aeroportos de todo o país, dentro do PAC 2.     Diante dessa cifra, e considerado o tempo pelo qual Valadares permanece na fila, o valor que se promete aplicar no Altino Machado é bem modesto. É provável que não baste para sanear todas as deficiências do aeroporto.
            Mas se reveste de grandeza, por representar uma conquista em busca da qual se juntaram Prefeitura e empresários da cidade. Resultado auspicioso e sugestivo de que em Valadares a falta de união está se tornando coisa obsoleta.
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domingo, 2 de outubro de 2011

“QUE PAIS É ESSE?”

            Apesar da esperança que se acalenta em torno de uma mudança de cenário, acontecimentos têm mostrado que a corrupção, as manobras escusas e o jogo de interesses ainda estão longe de se tornarem páginas viradas na política e na administração nacionais.
            Os políticos, sobretudo, não se preocupam com a queda de sua reputação, se é que ainda haja espaço para isso. Basta lembrar a decisão da Câmara dos Deputados que, no final do último agosto, por folgada maioria, rejeitou o pedido de cassação da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF). De nada adiantaram as filmagens que mostravam a parlamentar recebendo maços de dinheiro do ex-secretário Durval Barbosa, pivô do escândalo conhecido como “mensalão do DEM” do Distrito Federal.
            Atitudes reprováveis pela opinião pública, entretanto, não são exclusivas dos políticos; também acontecem no âmbito do judiciário. A mais recente partiu do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que anulou todas as provas obtidas pela operação da Polícia Federal que investigou os negócios do empresário Fernando Sarney e outros familiares do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Os ministros do tribunal entenderam que as provas foram obtidas de forma ilegal. 
            Segundo o noticiário, aliviado com essa decisão, Sarney reiterou que só deixará a vida pública sobre um carro do Corpo de Bombeiros. “A política só tem porta de entrada”, repetiu o cacique maranhense. Como os demais políticos envolvidos em denúncias, ele só conhece a via de acesso à vida pública, que entende não ter mão dupla.
            Ainda bem que a reação popular aconteceu logo a seguir, em um dos memoráveis momentos do Rock in Rio 2011. Foi quando Dinho Ouro Preto, líder e vocalista da banda Capital Inicial, dedicou às oligarquias e a José Sarney, a música “Que país é esse?”, composta pelo saudoso Renato Russo, há quase trinta anos. O grande sucesso da “Legião Urbana” contém em sua letra “Nas favelas, no Senado/ Sujeira pra todo lado/ Ninguém respeita a Constituição/ Mas todos acreditam no futuro da nação./ Que país é esse?/ Que país é esse?/ Que país é esse?”. O público cantou junto, aproveitando para protestar contra o que há de errado no panorama político nacional.
            A luta contra paradoxos, incoerências e bandalheiras é sempre árdua. O combate aos agentes do mal exige comando inteligente e alianças fortes.
            O leitor Túlio Reis Gomes, em atenciosa mensagem a esta seção, contextualizou os acontecimentos de forma lúcida e precisa. “Vejo o povo brasileiro – infelizmente me incluo nesta “manada” – extremamente passivo diante da gravidade dos fatos políticos que temos acompanhado. Daí a importância de algumas lideranças – mídia, OAB, CNBB etc. – tomarem as rédeas de um processo de combate e crítica às atuais práticas políticas que prevalecem em todos os níveis no nosso País. Se houver uma liderança, ou melhor, lideranças, a indignação do povo encontrará amparo. Sem estas lideranças a população se sente órfã e não tem forças para lutar”, disse ele. Vale reflexão.
           

sábado, 24 de setembro de 2011

DESAFIO Á CORRUPÇÃO

            A insatisfação é crônica, vem de longa data, mas permanecia adormecida no íntimo de cada cidadão.
          Apesar de amplamente divulgados pelos meios de comunicação, os escândalos republicanos já não despertavam tanta atenção. Desiludido com a falta de punição dos culpados, o brasileiro deixava o barco correr solto, assumindo o papel de mero espectador dos fatos.
          De um momento para outro, aconteceu o despertar. Desafiar e combater a corrupção tornou-se questão de honra, tarefa de todos.
         Demonstração nesse sentido foi dada nas recentes comemorações do Dia da Independência.
          Em Brasília, e em várias outras importantes cidades, manifestantes foram às ruas protestar contra a corrupção e clamar pelas melhorias e reformas de que o país necessita.
Interessante foi o caráter apartidário desses movimentos, sem espaço para que fossem utilizados como palanque de políticos ou líderes classistas. Até a presença de jovens aconteceu sem a demonstração de vínculos com a União Nacional dos Estudantes ou quaisquer outras entidades estudantis.
          A mobilização for convocada através das redes sociais, que se transformaram em excelente meio de congraçamento e difusão de idéias.
          Na última quarta-feira, também combinada via internet, outra manifestação de protesto aconteceu na Cinelândia, Rio de Janeiro. Quase três mil pessoas ali se reuniram, portando faixas e cartazes com dizeres contrários a qualquer tipo de corrupção. Vassouras retornaram à cena, simbolizando a limpeza que o povo espera seja feita no meio político.
          No Distrito Federal, a Federação do Comércio acaba de lançar manifesto onde prega que lutar contra a corrupção é hoje imperativo para todos os brasileiros.
          “Combater o roubo de recursos públicos é essencial para que o Brasil cresça com justiça social, elevação de renda e da qualidade de vida, redução das desigualdades, extinção da miséria e verdadeira democracia”, diz o documento.
          Na avaliação da Fecomércio-DF, “a corrupção mina a sociedade, destrói valores éticos e morais, dissemina a violência e as práticas ilícitas. Corruptos e corruptores são inimigos públicos, e assim devem ser tratados”.
          Representativo, mas ainda tímido, o movimento tende a crescer. Espera-se que seja cada vez maior o engajamento de pessoas e entidades interessadas em extirpar um mal que contamina os poderes públicos, em todos os níveis da Federação.
          A campanha requer vontade, persistência, coesão e patriotismo de um povo exausto de ser esbulhado.
          Não é fácil, mas o caráter do brasileiro faz acreditar que a tarefa será cumprida.

domingo, 18 de setembro de 2011

AGÊNCIAS ENFERMAS

            Onde a prepotência de grupos ambiciosos faz a diferença, a população só ganha quando perde pouco.
            Enquanto os salários e os proventos de aposentadoria acumulam crescentes perdas, os preços dos bens e serviços essenciais sofrem reajustes iguais ou superiores aos índices de inflação. Basta observar o crescimento dos gastos com água, luz, telefone, combustíveis, cesta básica, moradia, anuidades escolares, planos de saúde, transportes e outros itens fundamentais, afora impostos.
            Esperava-se que esse descompasso fosse refreado pelas agências reguladoras.
Criadas para fiscalizar a prestação de serviços públicos praticados pela iniciativa privada, sua missão é promover a defesa do interesse do povo.  Mas não parece.
           Tem sido comum esses órgãos caminharem na contramão de sua finalidade, priorizando e até defendendo empresas cuja ganância deveriam comedir.
            Os planos de saúde corroboram esse raciocínio.  Além do atendimento ruim reclamado por seus usuários, são extremamente onerosos. Com raras exceções, preocupam-se mais com a própria saúde.
            “Todos os reajustes foram e permanecerão acima da inflação. Isso acontece em qualquer lugar do mundo”. A declaração foi ouvida em recente audiência pública na Câmara dos Deputados, onde se debatia a qualidade do atendimento dos planos.
             Se feita por representante das operadoras, a afirmação teria provocado indignação, mas acabaria compreendida e relevada. É normal que cada um puxe a farinha para o seu saco.
            Entretanto, para frustração geral, as palavras foram ditas por Eduardo Sales, diretor de Fiscalização da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a quem caberia desestimular ações desse tipo.
            Como justificativa, disse que o setor depende de equipamentos e insumos hospitalares importados.
            No lado oposto, Cid Célio Carvalho, presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), criticou a atuação da ANS. Segundo ele, a agência falha na fiscalização das empresas, permitindo que escondam os verdadeiros números do setor, a pretexto de sigilo. 
            Visto como defensor das administradoras de planos, Sales não perdeu a oportunidade de perguntar “como conciliar ótimo atendimento com menor preço e ótima remuneração para os prestadores de serviços?”
           A tarefa não é fácil, mas certamente inclui a necessidade de as operadoras reinvestirem na atividade os expressivos lucros dela obtidos.
            Difícil, mesmo, é explicar o quadro atual, em que o alto preço torna imperdoável o mau atendimento e a péssima remuneração dos prestadores de serviços.
            Distorção que talvez seja eliminada, se a ANS concentrar em seus quadros elementos mais identificados com o interesse público.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

INTIMIDAÇÃO TRIBUTÁRIA

            Com justa razão, o brasileiro está preocupado e revoltado com a nova ameaça de retorno da CPMF, travestida de Contribuição Social para a Saúde.
            Diante de tantas licitações fraudulentas, dos superfaturamentos de obras e outras formas de desvios do dinheiro público, ninguém admite que seja necessário o aumento da carga tributária, para suprir as necessidades da Saúde. A solução estaria no rigoroso combate à corrupção que assola o país, para que os recursos financeiros fossem corretamente aplicados.
            No acumulado de janeiro a julho deste exercício, segundo informações oficiais, a arrecadação federal aproximou-se de R$ 556 bilhões, valor recorde para os sete primeiros meses de um ano. Só em julho, foram arrecadados R$ 90,2 bilhões.
            Para Duarte Nogueira, líder do PSDB na Câmara, o governo já tem dinheiro suficiente e precisa gastar melhor. "A sociedade não aguenta pagar mais carga tributaria, mais impostos, principalmente as pessoas que menos podem", disse ele.
            O próprio líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), manifestou o entendimento de que a conjuntura econômica dificulta a criação de um imposto para financiar a saúde.
            Quinze governadores se juntaram à presidente Dilma Rousseff na defesa da criação de novas fontes de financiamento para a saúde pública. Mas ninguém quer assumir o desgaste político de defender mais tributos.
            Exceto o governador do Rio de Janeiro, que acha ter sido “uma covardia a extinção da CPMF”.
  Para ele, o fim do tributo fez muito mal não ao governo do ex-presidente Lula, mas ao povo brasileiro. Afirmou que assinará a carta dos governadores à presidente Dilma, pedindo novas fontes de financiamento da Saúde, ou seja, a criação de um tributo que seria destinado à área.
            Sérgio Cabral certamente desconsiderou que o cancelamento daquela malfadada contribuição foi compensado com o aumento do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF). Também não levou em conta que, logo em seguida, o ex-presidente Lula reconheceu a plena compatibilidade entre os valores resultantes dessa elevação e os que eram gerados pela CPMF. Não houve, pois, perda para o Tesouro. Resta saber se o IOF voltará à sua taxa original, caso seja instituído um novo imposto para a Saúde.
            Essa posição tem valido a Cabral duras críticas. Como a que aparece no Blog do Noblat, onde um blogueiro comentou: “Covardia é aumentar tributos de um povo que trabalha quase meio ano para pagá-los e ver seu dinheiro mal aplicado, quando não roubado. (É) deixar as pessoas morrerem nas filas dos hospitais, nos acidentes de bondes por falta de manutenção, enquanto os poderosos passeiam nos jatinhos de empresários "amigos", com todas as mordomias”.  Ferino!       
  
 

domingo, 4 de setembro de 2011

DIGNAS ASSINATURAS

          As comunidades têm seus sonhos, suas aspirações, seus ideais. Sabem o que querem e o que rejeitam, na forma e na hora certas.
          Por timidez, pudor, comodismo e até por negligência, às vezes escondem suas tendências; deixam o barco correr.
Mas no momento em que são afrontadas, feridas no seu orgulho, na sua dignidade e no seu modo de existir, reagem pronta e energicamente.
Relativamente nova e sem grandes tradições, Valadares costuma ser vista como um paraíso de aventureiros e aproveitadores, onde impera o “salve-se quem puder”. Pode parecer, mas não chega a tanto.
Quando é preciso, o valadarense sabe se unir e brigar pelo interesse comum. Já deu provas disso em memoráveis ocasiões, como em março de 1964. Naquela época, grupos opostos, mas coesos, promoveram intensa mobilização político-ideológica em torno das Reformas de Base pretendidas pelo então presidente João Goulart.
Esse modo de agir está agora se repetindo, na forma de protesto contra o aumento do número de vereadores aprovado pela Câmara Municipal.
Entidades de classe valadarenses lançaram campanha com o objetivo de recolher cerca de dez mil assinaturas de eleitores locais, que permitirão seja apresentado à Câmara um projeto popular reduzindo de 21 para 13 o número de cadeiras no legislativo municipal. No entendimento dessas entidades, quando elevou de 14 para 21 a quantidade de vereadores, a Câmara contrariou a vontade popular.
Como acontece na grande maioria dos municípios onde idêntica decisão foi adotada, a comunidade valadarense mostra-se indignada, sobretudo por não ter sido previamente consultada. Além disso, é quase unânime o entendimento de que não foram levadas em conta as dificuldades financeiras por que passa o município. A maioria das pessoas acha que as deficiências locais nas áreas de saúde, educação, segurança e infraestrutura desaconselham qualquer aumento dos gastos públicos, mesmo hipotéticos.
É grande a expectativa de que seja alcançada e até superada a quantidade necessária de assinaturas. O prazo para adesão ao movimento encerra-se amanhã.
Nos termos em que a questão está sendo colocada, é importante que o eleitor valadarense não se omita.
         Ainda que não venham a ter resultados práticos, as assinaturas conseguidas certamente repercutirão em termos morais e políticos. Servirão para mostrar que os vereadores desrespeitaram os anseios de seus eleitores. Incentivo para que, nas próximas eleições, se inevitável a eleição de 21 edis, seja feita a renovação total dos integrantes da Câmara, sem chances de reeleições

domingo, 28 de agosto de 2011

PROMESSAS DE ANASTASIA

             A rigor, a assinatura da ordem de serviço para início das obras de asfaltamento da “estrada do Paca” não merecia o destaque que lhe foi dado. 
            Afinal, envolve projeto relativamente pequeno e de baixo custo, comparado às megarealizações do governo mineiro.
             Uma estrada de 30 quilômetros, menor que algumas avenidas, ao custo de R$ 17 milhões, é café pequeno para um Estado que, em 2010, teve arrecadação total superior a R$ 32 bilhões.
            Por outro lado, só mesmo o “antes tarde do que nunca” pode justificar o aplauso de uma população que, por tantos anos, ouviu falsas promessas e sofreu as conseqüências do descaso administrativo.
            Segundo moradores da área, essa obra foi anteriormente aprovada, licitada, mas desviada para outra região.  “A vida inteira só ouvimos promessas. Não dá mais para confiar”, enfatizou um deles.
            Como bem lembrou o deputado Bonifácio Mourão, trata-se de uma benfeitoria que foi reivindicada por mais de duas décadas. “Vivemos um momento histórico. Essa pavimentação é um sonho de mais de 20 anos”, disse ele.
            O silêncio seria a reação mais calorosa.
            Mas se foi ruim para os que se utilizam e dependem da Rodovia Vitorino Ceccato, o atraso acabou sendo bom para Antonio Anastasia.
            Em Valadares, durante a Expoagro/2010, ele anunciou que a estrada de terra tinha seus dias contados.
            O que para os incrédulos ou adversários pode ter parecido mais uma falácia política está se tornando realidade.
            Por menor que seja a expressão material do empreendimento, sua importância é enorme para realçar o comprometimento e a seriedade que fazem a diferença em Anastasia.
            Conduta que aumenta a expectativa do valadarense em relação à vinda do gasoduto e de recursos para a construção de um novo terminal aeroviário.
           Através do secretário estadual de Transportes e Obras Públicas, Carlos Melles, o governo mineiro prometeu empenhar-se por essas metas. Não há motivos para duvidar!

domingo, 21 de agosto de 2011

VISÃO NEBULOSA

            Seria exagero dizer que o aposentado é um pobre coitado, um abandonado pela sorte.
            Por pior que seja, sua situação é melhor do que a de muitos. Pelo menos em tese, leva vantagem sobre os l6,2 milhões de brasileiros que sobrevivem com até setenta reais mensais, em condições desumanas e de extrema pobreza.
            Isso sem falar nos políticos, magistrados e outros privilegiados. Esses, visando à própria aposentadoria, sempre conseguem uma forma de adequar os benefícios à sua ganância, independentemente de crises internas ou externas, de políticas de contenção de gastos ou das dificuldades financeiras por que passem os cofres públicos. Ainda que sob outros rótulos, conseguem manter regalias de que desfrutavam quando na ativa e, em alguns casos, repassá-las a seus sucessores.
            Os aposentados que recebem um salário mínimo mensal talvez sejam os mais resignados. Não acalentam grandes nem pequenos sonhos e conseguem operar verdadeiros milagres orçamentários. Mas, pelo menos, têm assegurados reajustes, sempre e nas mesmas bases em que é corrigido o piso salarial. Não esperam mais do que isso.
            Aborrecidos e decepcionados estão os quase nove milhões de aposentados e pensionistas que ganham acima do salário mínimo. Há muito seus proventos vêm sendo achatados, apesar das promessas de reposição feitas em épocas de campanha.
            A presidente Dilma Rousseff acaba agravar esse descontentamento, vetando regra que previa reajuste acima da inflação, em 2012, incluída na Lei de Diretrizes Orçamentárias aprovada pelo Congresso. O argumento foi necessidade de conter o aumento dos gastos públicos, já que o Brasil precisa se proteger de efeitos mais pesados da crise mundial.
            Os fatos mostram que nossas perdas financeiras estão intimamente relacionadas com desvios de recursos, superfaturamento de obras e outras falcatruas. Inaceitável, pois, que se tente incluir aposentados e pensionistas entre os causadores de desequilíbrio orçamentário.
            Isso só acontece porque eles são a parte mais frágil do sistema, com um poder de pressão que vai pouco além do voto. Alguém já viu greve de aposentado?!
            Enquanto os indefesos são afrontosamente contrariados em suas pretensões, os fortes e espertalhões se locupletam à vontade. Coisa típica de país onde quem vê o maquinista não enxerga a locomotiva.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

AUMENTO INDIGESTO

            Os protestos populares estão se mostrando cada vez mais constantes, intensos e contundentes.
            Em várias partes do mundo, grupos se organizam e reagem diante de  ações ou omissões governamentais contrárias a interesses próprios ou comunitários.
            Trabalhadores, estudantes, profissionais liberais, aposentados, homossexuais e outras classes ocupam as ruas para mostrar seus aborrecimentos ou anseios.
            No Brasil, a grande indignação segue motivada pelos vergonhosos escândalos registrados nos altos escalões do governo federal. A qualquer momento a “bomba” pode explodir.
            Não menos revoltante é o aumento do número de vagas para vereadores, que ameaça acontecer. Cerca de oito mil  novos assentos poderão ser criados nos plenários das câmaras municipais de todo o país, a partir das eleições do próximo ano.
            O mestre em Gestão Pública, Will Ferreira Lacerda, entende que “constitui-se em falácia os argumentos de que o aumento no número de vereadores causará aumento de despesa pública”. Isso porque, segundo ele, os repasses de recursos às Casas legislativas não estão atrelados ao número de edis e sim à população domunicípio.
            A questão, entre outras, é que, no final do exercício, algumas câmaras costumam devolver aos cofres municipais sobras dos recursos que a elas foram entregues. Isso, com certeza, dificilmente acontecerá após o inchaço da máquina legislativa. Não havendo elevação no repasse, as câmaras ficarão obrigadas calçar um pé gigante, num sapato de Cinderela. Evidentemente, isso acabará tendo um preço, a ser pago pelo contribuinte.
            O fato é que amaioria dos municípios está assustada e seus cidadãos indignados.
            É o caso de Valadares, onde o número de vereadores poderá passar de quatorze para vinte e um.
           Reagindo de modo até certo ponto surpreendente, a comunidade está mobilizada contra a medida. Meios tradicionais de comunicação, internet, mensagens telefônicas, conversas de péde ouvido, tudo está sendo utilizado com o objetivo de abortar a ideia.
          Recente texto colocado na mídia denuncia que “a cidade está com grandes dificuldades financeiras. Os postos de saúde estão sem médicos, remédios, etc. O Hospital Municipal está com doentes nos corredores. As ruas estão todas esburacadas. A Prefeitura está com milhões de pagamentos em atraso e querem ainda os 14 vereadores aumentar mais ainda as despesas do município”.
           Os articulistas JoséAltino Machado e Helton Geraldo Barros, com a competência de sempre, abordaram o assunto de forma tão abalizada que quase nada se pode acrescentar. Quando muito, reforçar a crença de que os atuais vereadores são suficientemente inteligentes para entender o recado de seus eleitores, lembrando-se de que, na Câmara ou onde quer que seja, importa a qualidade, não a quantidade.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

COLCHA DE RETALHOS


            Até aliados estão preocupados com as constantes substituições e revezamentos registrados no alto escalão da administração federal.
            O que mais tem causado apreensão é o fato de essas movimentações envolverem figuras que participaram ativamente do planejamento governamental. Nas suas áreas, eram tidas como “imexíveis” e indispensáveis para o alcance das metas estabelecidas.
            Com pouco mais de seis meses no cargo, o primeiro a sair foi Antonio Palocci, denunciado por surpreendente evolução patrimonial. Era o braço direito da Presidente, espécie de primeiro-ministro pelo qual passavam as mais importantes decisões do Planalto. Para substituí-lo, veio a pouco conhecida senadora Gleisi Hoffmann.
            Na mesma ocasião, Luiz Sérgio Nóbrega de Oliveira, que não satisfazia como Secretário de Relações Institucionais, trocou de lugar com Ideli Salvatti, Ministra da Pesca.
            Mal refeita do impacto dessas alterações, Dilma teve de se livrar de Alfredo Nascimento, titular do Ministério dos Transportes, desde o governo anterior. Nascimento vinha sendo responsabilizado por superfaturamento em obras e outras irregularidades denunciadas pela imprensa. Com sua saída, instalou-se no órgão a operação “faxina”, que já acarretou cerca de 20 demissões, inclusive do diretor-geral do DNIT.
            A última baixa aconteceu no Ministério da Defesa, onde Nelson Jobim, outro nome de peso, caiu por supostas inconfidências. Além de revelar que “eu votei no Serra em 2010”, disse que Ideli Salvatti é “fraquinha” e a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann “nem sequer conhece Brasília”. Em seu lugar entra  Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores que não deixou saudade.
            Segundo Marco Maia (PT/RS), presidente da Câmara, com as recentes mudanças ministeriais Dilma sinalizou que “não será conivente com a malversação de dinheiro público”. Mostrou também que “não se pode ser tolerante com quem desagregue a equipe”.
            Substituições e trocas de comando fazem parte da rotina de qualquer administração. Mas é incomum a frequência e intensidade com que se deram, em apenas oito meses de governo.
            Justificativas à parte, a equipe palaciana vai se transformando numa colcha de retalhos. Notáveis estão cedendo lugar a “reservas” que nem estavam no banco, tampouco demonstram possuir maior experiência e bagagem para levar a bom termo sua missão.
            Nada indica que a temporada de mudanças esteja encerrada. Mas cautela e caldo de galinha nunca estiveram tão em alta.
 

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O CHICOTE CONTRA O CRIME

            Em sua edição de 18/07, a revista ÉPOCA publicou interessante entrevista com o americano Peter Moskos, ex-oficial de polícia, professor de Direito e Ph.D. em sociologia pela Universidade de Harvard.
            Para acabar com a superlotação das cadeias, ele defende o uso de chibatadas. Aos condenados por crimes mais leves seria dada a chance de escolher entre a prisão e o castigo físico.
           Uma chicotada equivaleria a seis meses de prisão. O condenado poderia trocar cada ano por dois açoites, até o limite tolerável de 25 golpes.
           A tese de Moskos está fundamentada no entendimento de que nas celas há violência física, sexual, psicológica e outras punições informais. Segundo ele, “as prisões têm sido um erro e sempre serão”, pois à margem da sociedade e forçado a conviver com as ameaças de outros criminosos, o preso sai do cárcere pior do que entrou. “O melhor que podemos fazer aos criminosos, para evitar que piorem, é mantê-los fora da cadeia, longe de outros criminosos”, disse.
          O sociólogo reconhece a existência de delinqüentes perigosos que devem ser encarcerados, mantidos longe da sociedade.   Mas para os autores de crimes isolados, sem a tendência de praticá-los novamente, entende que “a punição física seria uma alternativa”.   Na guerra contra drogas, por exemplo, acha que enjaular os viciados não é uma boa solução.
           Lembrando que, nos Estados Unidos, um ano de cárcere custa em média US$ 30 mil, aponta a vantagem de o açoite ser mais barato, além de “menos cruel e mais honesto sobre seu grau de punição”.
          Sob a forma enxuta de entrevista, a idéia de retomar uma prática medieval, há muito abandonada, pode parecer exibicionista e fora de contexto. Mas em seu livro “In defense of flogging” (Em defesa do chicoteamento), ainda longe de nossas livrarias, pode ser que Moskos tenha sido mais convincente.
          De qualquer forma, a hipótese merece ser, no mínimo, analisada.
         O crescimento da população carcerária é problema mundial. Na tentativa de solucioná-lo, os países têm recorrido a tudo, inclusive a métodos pouco ortodoxos, não raro questionáveis. Veja-se o Brasil, onde lei recentemente sancionada poderá livrar das grades um sem número de responsáveis por delitos de menor gravidade.  Versão “light” da fórmula Moskos, sem chicotadas ou chineladas. Tudo à moda brasileira.

domingo, 24 de julho de 2011

FIM DE COPA

          A Copa América se encerra hoje, com a mesma falta de brilho que marcou sua realização.
          Havia a expectativa de grandes jogos, mas o bom futebol não aconteceu. Apenas a partida em que o Uruguai eliminou a Argentina foi destaque.
          Dos três grandes favoritos, só o Uruguai justificou essa condição. Brasil e Argentina, mesmo com sua força máxima, tiveram desempenho medíocre e caíram nas quartas de final.  
          O jogo de hoje, entre Uruguai e Paraguai, poderá empolgar, mas não há por que apostar nisso.
          É visível o desequilíbrio entre as duas seleções, e o time paraguaio já considera de bom tamanho o que conseguiu até agora.
         Melhor ficar de olho no duelo entre as modelos paraguaias Larissa Riquelme e Patty Orue, que disputam a preferência da torcida e prometem “maravilhas” se sua seleção for a vencedora.
         Aos brasileiros restará o consolo de ver a partida apitada pelo conterrâneo Sálvio Spinola Fagundes Filho, filiado à Federação Paulista de Futebol.
         No balanço geral, entretanto, é preocupante a passividade e a indiferença com que foi aceito o mau desempenho da seleção canarinho no torneio. Poucos minutos após a partida, o indefectível Faustão já fazia esquecer as quatro penalidades absurdamente perdidas pelos nossos “craques”. Repeteco do que aconteceu em 2010, quando a “seledunga”, de triste memória, deixou a Copa do Mundo com a viola no saco.
         Parece que a torcida está perdendo a empolgação de outras épocas.
        Depois de sucessivas decepções, de assistir a tantas demonstrações de incompetência, a estrelismos e modismos que nada têm a ver com o futebol, o povo dá sinais de cansaço.
        O tempo dirá se esse é um processo natural ou se vem sendo propositalmente induzido, com vista à Copa de 2014.
       Consciente de que um insucesso, dentro de casa, provocaria reações incontroláveis, pode ser que a CBF esteja mais preocupada em preparar a torcida para uma nova frustração. Se for isso, Ricardo Teixeira e sua turma estão no caminho certo.

domingo, 17 de julho de 2011

OPINIÕES OPOSTAS

            Mostrando que está refeito do acidente sofrido em uma cavalgada, Aécio Neves retornou ao Senado, na última segunda-feira (11), disparando com artilharia pesada contra o governo federal.
            Na tribuna da Casa, disse que, independentemente das suas posições políticas, “a realidade nos convoca a constatar que em quase nada avançamos nestes primeiros seis meses de governo do PT”.
 Segundo ele, “... poucas vezes, na nossa História recente, um governo começou de forma tão desarticulada”.
            Após censurar o aparelhamento partidário da administração federal e a falta de uma agenda de trabalho, apontou para o alvo, dizendo que “o imobilismo, senhora presidente, só pode ser explicado por duas premissas: incompetência do planejamento administrativo e inapetência do Executivo para tocar o governo. Estamos institucionalizando no Brasil o improviso”.
            A opinião do senador tucano não bate com a dos políticos que participaram do coquetel que Dilma Rousseff ofereceu a parlamentares e ministros, na quarta-feira (13), para celebrar os resultados do seis primeiros meses de governo. Segundo a presidente, apesar das crises por que passou, “o governo está num bom momento”. Os convidados concordaram e aplaudiram.
            Pontos de vista diferentes fazem parte e tornam fascinante o regime democrático. Ideal seria, entretanto, que as opiniões fossem mais bem fundamentadas.
            Discursos não bastam, exigem fatos e exemplos que comprovem sua procedência.
            Dizer que as coisas estão ruins é tão vago quanto afirmar que tudo vai bem.
            Em meio a essa polarização, o povo fica pressionado entre a visão dos que querem recuperar e dos que não abrem mão do poder. O que tem sido o alicerce do jogo político, infelizmente!

domingo, 10 de julho de 2011

DE MAL A PIOR

            Aquilatar um mandato de quatro anos, em função do que aconteceu nos primeiros seis meses, é tão precipitado quanto avaliar uma equipe de futebol, pelo seu desempenho no começo da partida.
            O início é compreensivamente vagaroso, porque reservado ao reconhecimento do terreno, às mudanças e às adaptações que nem sempre são prontamente viáveis ou prudentes. Daí a necessidade de paciência e tolerância.
            Quando Dilma Rousseff assumiu o Palácio do Planalto, todos tinham conhecimento ou pelo menos faziam idéia dos problemas que iria enfrentar. Quem mais sabia, aliás, era a própria Presidente, ativa e íntima participante do governo anterior. Nem por isso a ela foi negada a tradicional carência dos cem dias, normalmente suficiente para que novos governantes “arrumem a casa” a seu modo.
            No princípio, tinha-se a impressão de que o país seria gerenciado de forma dinâmica, austera e transparente. Mesmo sem maior experiência política, Dilma chegou com a fama de competente administradora, capaz de grandes realizações. Rotulada de durona, inflexível e intransigente na cobrança de resultados, transformou-se na esperança de que grandes sonhos logo se tornariam realidade.
            Passados duzentos dias, quase nada aconteceu para justificar esse conceito.
            Pelo contrário, assessorada por uma equipe ministerial de discutível competência, a Presidente não tem conseguido sequer manter em dia o andamento de várias obras de responsabilidade do governo federal. Muitos projetos estão com o cronograma atrasado ou nem saíram do papel, inclusive alguns relacionados com a Copa/ 2014 e as Olimpíadas/2016.
            No campo político, a frustração popular nunca antes atingiu o nível em que se encontra. O país está assombrado com a quantidade de trapalhadas e bandalhices praticadas por políticos, ministros e outros graduados integrantes do governo. Mais perplexo, ainda, com a impunidade que se instala diante da cínica negativa de autoria a que sempre recorrem os contraventores de colarinho branco.
            Em meio a tantos escândalos, a Presidente não tem feito mais do que administrar as crises provocadas por gananciosos aliados e desonestos assessores.
            É cedo para um julgamento conclusivo, mas o que se vê até o momento desperta preocupação. Os sintomas são de que o governo não vai bem, com tendência de piorar.
            Dilma precisa ter cuidado, sob pena de transformar-se na primeira presidente quebra-galho, eleita com a missão precípua de segurar o trono para o retorno seu antecessor. Se chegar até lá!