domingo, 29 de janeiro de 2012

TRIBUTO À CIVILIDADE

            As marcas permanecem nas paredes, nos móveis, nas instalações e em tudo o mais que foi atingido. O cheiro fétido de lama continua exalando em alguns locais. Os estragos estão sendo contabilizados. Mas Valadares tenta se recuperar dos traumas provocados pela última enchente, uma das maiores de sua história.
            Foi uma temporada amarga e difícil. Alguns perderam a vida, outros boa parte ou a totalidade de seus bens. Todos se sentiram emocionalmente afetados, seja como vítimas diretas, seja pelo sofrimento de amigos, conhecidos ou simples cidadãos.
            Recentes, os fatos ficaram bem próximos de mais um aniversário da cidade, ocasião que é de alguma forma celebrada.
            A vida continua, mas convenhamos que seja difícil pensar em festa nos momentos de comoção.
            Por mais que se esforce, o clima não é propício para badalações nas avenidas, ruas e praças onde, há pouquíssimo tempo, a população chorava perdas e mortos.
            Claro que a data é importante, não deve passar em branco, e não falta o que comemorar.
            Durante a enchente, o valadarense deu mais uma emocionante prova de solidariedade humana, ajudando às vítimas da tragédia. Nos momentos mais críticos, não faltaram voluntários para trabalhar na remoção de pessoas e objetos. Alimentos, roupas e medicamentos surgiram em grandes quantidades. Acomodações foram disponibilizadas aos desabrigados. Tudo conforme mandam os bons costumes.
            Nos momentos seguintes, viu-se outra mostra de garra, fibra e capacidade de superação, dada por uma comunidade que não se abateu diante do infortúnio. As mãos permaneceram entrelaçadas na reconstrução daquilo que foi danificado ou destruído. Pouco a pouco a cidade vai retornando à vida normal.
            Considerando que não foi a primeira, tampouco terá sido a última ocorrência do gênero, é confortante observar esse espírito de união comunitária.
            A alegria de um povo não está necessariamente vinculada a grandes realizações matérias. Elas são válidas, mas nem sempre acontecem ou são determinantes.
            Amanhã, quando Valadares estiver completando 74 anos de emancipação, nada mais justo que concentrar as homenagens nos heróis anônimos responsáveis por aquela exemplar demonstração de civilidade.
            Até por falta de melhor opção.