domingo, 3 de agosto de 2014

SANTANDILMA

            Na falta de temas consistentes, capazes de despertar interesse popular, questões de menor importância são colocadas na ordem do dia, com o intuito de manter em evidência os personagens centrais das próximas eleições.
            Qualquer assunto, mesmo banal, é amplamente explorado, desde que isso traga benefício próprio e, se possível, leve prejuízo aos adversários.
            As atenções ainda estão voltadas para o buchicho entre Dilma Rousseff e o Banco Santander.
            Alguns inoportunos analistas do Banco resolveram dar uma de “anjos da guarda”. Na base do “sem querer, querendo”, incorreram na imprudente cautela de dizer aos seus clientes de alta renda que o eventual sucesso eleitoral da presidente poderia piorar a economia do país. Segundo a nota por eles distribuída, a subida ou estabilização de Dilma nas pesquisas provocaria alta de juros, desvalorização do câmbio e queda na Bolsa. A intenção foi boa, mas esqueceram-se de que bobagem se fala, mas não se escreve; sobretudo quando a bobagem não é tão bobagem.
            Naturalmente, Dilma e seu partido se aborreceram com o comentário.
            Para Rui Falcão, presidente do PT, foi um “terrorismo eleitoral”. Indignado, o ex-presidente Lula, discursando na CUT, falou que o autor do documento “não entende p* nenhuma de Brasil”, e exigiu sua demissão. A presidente disse ser “inadmissível para qualquer país” a interferência de integrantes do sistema financeiro no processo político-eleitoral.
            Assustado com a reação, o Santander apressou-se em pedir desculpas, e divulgou nota afirmando que o texto distribuído a seus correntistas “não reflete, de forma alguma, o posicionamento da instituição”.
            Tolerante e compreensiva, Dilma considerou que “esse pedido de desculpas foi bastante protocolar”. Para ela não adiantam arrependimentos formais. Os “pecadores” terão que ser costurados na boca do sapo.
            A opinião pública, entretanto, entende que os analistas do Santander apenas retrataram uma realidade de mercado, há muito percebida. Também acha inconcebível que o governo pressione uma empresa privada, cerceando seu direito de opinar sobre a situação econômica do país. Ainda mais quando se trata de um Banco, que tem por dever orientar sua clientela quanto à melhor e mais segura forma de aplicar seus capitais.
            Pelo sim, pelo não, o Santander tornou público que já demitiu o funcionário redator do malfadado documento.
            Mas o “affair” Santander/Dilma não termina nisso.
            Na mesma ocasião, em sabatina a que foi submetida pelo UOL e outros órgãos da mídia, a presidente revelou que guarda “em casa” cerca de R$ 150 mil. Foi o bastante para que outro “esperto” captador do Santander ligasse diretamente para ela, perguntando:
- Vossa Excelência não gostaria de aplicar conosco essa modesta quantia?!
Conta-se que o bancário, ufanista nato, desses que comemoram até martelada no dedo e cabeçada em quina de janela, ficou extremamente lisonjeado com a resposta recebida. Tanto assim que já comprou um GPS, para ver se encontra o local para onde foi direcionado. E vai feliz.
 
- Jornal de Domingo
- www.nosrevista.com.br