sábado, 13 de setembro de 2014

TUDO IGUAL

            Faltando três semanas para sua realização, a eleição presidencial deste ano mantém os sintomas de que será a mais disputada, desde a redemocratização do país.
            De início, parecia ser um pleito “mamão com açúcar”, em que a chapa Dilma Rousseff/Michel Temer nadaria de braçadas, com chances de se reeleger ainda no primeiro turno.
            Àquela altura, a polarização era entre o PT e o PSDB, de Aécio Neves/Aloísio Nunes, com nítida vantagem para os petistas. Na terceira colocação aparecia o PSB, de Eduardo Campos/Marina Silva, que nem de longe ameaçava.
            De um momento para outro, tudo mudou, e como mudou!
            A morte de Eduardo Campos foi a primeira e decisiva contribuição para o surgimento de um novo cenário. Literalmente, a tragédia caiu do céu, no colo de Marina Silva.  Até então simples coadjuvante, ela foi guindada à condição de candidata à Presidência, fazendo aflorar todo o seu patrimônio eleitoral. Já na primeira pesquisa em que foi avaliada como cabeça de chapa, ultrapassou Aécio e “colou no pé” de Dilma, se mostrando apta a alcançar e vencer o segundo turno.
            Pra consolidar a modificação de contexto, houve o agravamento do escândalo Petrobrás, depois da “entrega” feita pelo preso Paulo Roberto Costa, ex-diretor da estatal, a título de “delação premiada”. Apesar de praticamente focada em políticos e autoridades da base aliada ao governo, as denúncias envolveram o falecido Eduardo Campos, expondo Marina a incômodas  insinuações e cobranças.
            Pensou-se que isso favoreceria a Aécio, não citado no “Petrobrasgate”, pelo menos até agora. Ledo engano!  Por mais que se esforce, nem em Minas, seu reduto, o tucano está conseguindo liderar.
            Se isso contribuiu para acirrar a corrida em direção ao Palácio do Planalto, pouco ou nada ajudou em termos de elevar o nível da campanha.
           Melhor esquecer o medíocre Horário Eleitoral Gratuito, que, longe de estimular, serve apenas para agravar o desinteresse do eleitor para com o pleito.
            Imperdoável, entretanto, é a agressividade e a troca de ofensas que têm pautado o enfrentamento entre os três principais candidatos.
            Nos debates e nas entrevistas, nada de apresentar e discutir programas. Preferem se perder em acusações recíprocas e lavagem de roupa suja que nada contribuem para formar a opinião do eleitor. Parece até que os candidatos estão mais interessados na desconstrução de seus adversários do que na reconstrução do país.
            As últimas pesquisas demonstraram que, nesse ambiente de quebra-pau, a competição se estabilizou num empate técnico entre Dilma e Marina, permanecendo Aécio em terceiro lugar.
            Segundo os profetas apocalípticos, o panorama pode sofrer outras significativas alterações, diante de mais revelações comprometedoras que o “homem-bomba” da Petrobrás estaria propenso a fazer.
            Na verdade, essas acusações costumam abranger tanta gente, que acabam diluídas. No frigir dos ovos, sobra a desagradável constatação de que os políticos não se diferenciam, são farinha do mesmo saco. Que tristeza!

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domingo, 7 de setembro de 2014

BRASIL BRASILEIRO

            Nos enunciados da enciclopédia livre Wikipédia, "independência é a desassociação de um ser em relação a outro, do qual dependia ou era por ele dominado. É o estado de quem ou do que tem liberdade ou autonomia".
            É, sem dúvida, um grande triunfo. Mas não deve ser confundido com um ato perfeito e acabado, um troféu que se coloca na estante, para mera exibição. Bem refletido, é um processo que se forma lenta e gradualmente. Uma conquista que, para se consolidar, requer esforço, paciência, persistência e, sobretudo, disciplina e seriedade. Do contrário, o “valente” corre o risco de se transformar num “coitado”, que alcançou o livre-arbítrio, mas não detém a mínima condição de desfrutá-lo. Tipo aquele jovem arrojado, mas imprevidente, que se livra do comando dos pais e acaba submetido à autoridade do mundo.
           O Brasil não chega a tanto, mas parece que ainda está longe de alcançar a plenitude da independência proclamada em 07 de setembro de 1822.
            Conta a narrativa oficial que, naquela data, às margens do riacho Ipiranga, Dom Pedro de Alcântara de Bragança bradou "Independência ou Morte!", rompendo nossos laços com Portugal. Foi o grande momento da história nacional.
            O famoso “Grito do Ipiranga” libertou o Brasil do jugo português, porém não conseguiu livrá-lo de outras cangas que inibem a autonomia de seu povo.
            Independência pressupõe o desfrute de condições socioculturais condizentes com o pleno exercício da cidadania.
            Nesse quesito, o brasileiro permanece à espera de milagre.
            A educação, fundamental para a formação de mentes esclarecidas, capazes de agir com lucidez e autonomia, deixa muito a desejar, haja vista nossa pífia posição no ranking mundial. 
            Em termos de saúde, o quadro é dos mais lastimáveis. A insuficiência e o mau aparelhamento das unidades prestadoras de serviços oficiais, a falta de médicos e de medicamentos, o preço abusivo dos planos de saúde e a impossibilidade financeira de recorrer aos meios privados     são causas de muito sofrimento e incontáveis mortes. Cenário em que ninguém se sente liberto.
            Outro redutor de independência é a insegurança pública, que abre espaço para a absurda criminalidade registrada no país. Aqui, o número de mortos supera o contabilizado nas apavorantes guerras atuais. A violência urbana, alimentada por intenso tráfico de drogas e pelo desarmamento das pessoas de bem, invadiu as ruas, tolhendo a autonomia da sociedade. Os bandidos e o crime organizado subjugam mais do que os opressores do Brasil Colônia.
            Some-se a esses fatores a desbragada corrupção que há muito devasta o país. Mal que consome expressiva parte dos recursos que poderiam ser aplicados no saneamento dos males que comprometem a independência nacional.
            Nos 192 anos de emancipação que hoje são celebrados, o Brasil avançou, conquistou importantes vitórias e se impôs soberano no contexto internacional.
            Se perante os de fora essa independência é total, sobram razões para que também o seja no âmbito interno.
Tudo bem que o brasileiro é engajado no “ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil”. Mas não precisa andar sempre no fio da navalha, entre o “Independência ou Morte!”.

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