As megamanifestações de junho traçaram um marco divisório na história do Brasil. A partir de então, o país inseriu-se no seleto grupo de pacatas nações tipo Síria, Egito, Iraque, Afeganistão e outras, onde as coisas só se conseguem na base de comportados protestos..., quando se conseguem.
Tudo acontecia em
clima de normalidade, até que grupos de arruaceiros se infiltraram e passaram a
cometer todo tipo de vandalismo. Irresponsáveis, criaram um clima de guerra,
destruindo patrimônio público, depredando e incendiando veículos, lojas e
agências bancárias, afora outras selvagerias. As manifestações, que se
propunham ser ordeiras e civilizadas, acabaram em violentos confrontos
A grande preocupação desses
baderneiros, apelidados de “black blocs”, tem sido a camuflagem. Cobrem o rosto com camisas, gorros, máscaras
e outros adereços que dificultem ou até impeçam a identificação. Sua ação
nefasta e criminosa fez surgir, no Rio de Janeiro, uma lei que proíbe o uso de
máscaras em protestos de rua, sejam elas de Zorro, Batman, Joaquim Barbosa, Papa
Francisco, Lula, Sarney ou quem quer que seja. Protestar, só de cara limpa.
Mas a natureza humana
abriga caprichos e contradições. Enquanto uns se escondem para protestar,
outros protestam pelo direito de se mostrar.
No próximo sábado,
21, início da estação mais quente do ano, um "Toplessaço" deverá
acontecer na orla carioca de Ipanema, em defesa da “naturalização dos corpos”.
Será um topless coletivo, bolado pela atriz e produtora Ana Rios. A idéia
surgiu enquanto ela participava da Marcha das Vadias, em julho último, junto
com a amiga Bruna Oliveira. Durante a marcha, ambas usavam sutiãs e outras
integrantes faziam topless. Aborrecidas com a repressão, decidiram promover um
“Toplessaço”, prevendo-o para o primeiro dia de verão.
O plano ganhou força
após a notícia de que a atriz Cristina Flores foi repreendida por policiais militares,
na Praia do Arpoador (14/11), quando era fotografada sem a parte superior do
biquíni.
No entender de Ana, o
moralismo e o machismo são os culpados pelo espanto que o topless ainda provoca
nos brasileiros. "A mulher é vista como propriedade ou objeto a ser
desejado. A gente tem muita dificuldade de ser só pessoa. Acaba que os hábitos
são todos só baseados nisso. [O topless] é uma coisa que já se estabeleceu no
mundo. A gente não conseguiu isso no Brasil. A gente tem o culto ao corpo, mas
não tem uma aceitação dos corpos como eles são", disse ela.
Divulgado no Facebook,
o plano ganhou o país. Segundo Ana, manifestações semelhantes estão sendo
preparadas em inúmeras outras cidades. As promessas de adesão já estão acima de
10 mil pessoas. Aposta-se em sucesso total.
A questão é
indiscutível. Negar à mulher o direito de exibir o busto
seria uma decisão ingrata, hipócrita e discriminatória, pra dizer o mínimo. Se
o homem pode fazê-lo, por que não a mulher? E não faltam machões com mamas até mais
salientes que as do belo sexo.
Importante levar em
conta, entretanto, que, os seios sempre despertaram curiosidade e desejo,
sobretudo quando sensualmente guardados. Nada tão excitante quanto aquele “um
pouco de você” escondido em um ousado decote ou naquela “blusa que você usava e
meio confusa desabotoava” – que o diga Roberto Carlos!
Desnudos e exibidos sem
pudor, podem perder o encanto, o enigma e o poder de sedução que já valorizaram
outros atributos femininos hoje vulgarizados. Compensa arriscar?
- Diário do Rio Doce
- Jornal de Domingo
COMENTÁRIOS
|
23:53 (5 minutos atrás)
|
|
||
|
Parabéns, companheiro, você hoje se superou: a
crônica está uma delícia.
Pra você e a Marlene um bom domingo.
Abraço amigo do
Flatônio