sábado, 13 de abril de 2013

LEITURA OBRIGATÓRIA


Se alguém duvidava da coragem e da disposição de enfrentamento do ministro Joaquim Barbosa, essa dúvida acabou no último dia 8, durante a reunião que ele manteve com os dirigentes da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra).
O primeiro sinal de que o homem é bravo foi dado logo no início do encontro, quando os juízes disseram trazer propostas para fortalecimento do Estado Democrático de Direito. Sem hesitar, o presidente do Supremo Tribunal Federal repeliu: "o senhor acha que o Estado (Democrático) de Direito no Brasil está enfraquecido? Temos seguramente a democracia mais sólida da América Latina. Me causa estranheza pedido para que não haja enfraquecimento".
Outra pregada aconteceu no momento em que Barbosa criticou a tática de usar os meios de comunicação para atacá-lo. "Quando tiverem algo a acrescentar, antes de irem à imprensa, dirijam documento à minha assessoria, não vão primeiro à imprensa para criar clima desagradável", declarou ele, acrescentando que as associações "não podem fazer só o que interessa à classe, mas o que interessa a todo o País".
O clima ficou mais tenso quando a conversa descambou para a criação de quatro novos tribunais federais no Brasil, projeto do qual a Ajufe foi a grande articuladora. Sem meias palavras, Barbosa declarou que as entidades agiram de forma “sorrateira” ao apoiar a aprovação da medida pelo Congresso Nacional. Para ele, o Legislativo foi induzido a erro, pois nenhum órgão do Estado foi ouvido e não houve estudo sério sobre o impacto financeiro da medida, algo em torno de R$ 8 bilhões. Em tom de ironia, alfinetou que os novos tribunais servirão para dar mais empregos aos advogados e que suas sedes seriam instaladas "em resorts, à beira de alguma praia”, pois não terão qualquer utilidade para o país.
           Durante acalorado bate-boca, Barbosa chegou a impor que o representante da Ajufe abaixasse o tom de voz e só falasse quando autorizado.
A reação dessas associações foi incontinenti. No dia seguinte, divulgaram nota acusando ministro de se comportar de forma "desrespeitosa, premeditadamente agressiva, grosseira e inadequada para o cargo que ocupa". Receberam a solidariedade da OAB, que, em outra nota, chamou de “impertinentes e ofensivas” as palavras do magistrado.
De modo geral, entretanto, a sociedade gostou do Barbozão. As redes sociais foram tomadas por manifestações de apoio e aplausos à sua postura.
Este é um país onde diplomacia, polidez, tolerância e boas maneiras não têm bastado para inibir as ações nefastas perpetradas contra o povo. É bom, pois, ver alguém procurando colocar ordem na casa, mesmo na base da pancada. Há erros que só se corrigem dessa forma.
O ministro Joaquim Barbosa até pode estar escrevendo certo, por linhas tortas. Mas todos o leem, com muita atenção. Ai de quem não o fizer!

domingo, 7 de abril de 2013

O BAFO DO DRAGÃO

            Por mais que Dilma Rousseff tenha se explicado, ainda repercutem as declarações que fez em Durban, África do Sul, onde participava da 5ª Cúpula de Líderes do Brics, grupo constituído por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
           Em coletiva concedida no encerramento do encontro, falou que "eu não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a questão do crescimento econômico, até porque temos uma contraprova dada pela realidade: tivemos um baixo crescimento no ano passado e um aumento da inflação, porque houve um choque de oferta devido à crise e fatores externos".
           Disse não apoiar políticas de controle inflacionário que sacrifiquem o crescimento. “Esse receituário que quer matar o doente em vez de curar a doença é complicado, entende? Eu vou acabar com o crescimento do país? Isso daí está datado, isso eu acho que é uma política superada”, sentenciou.
A presidente ressalvou, entretanto, que o governo está vigilante, acompanhando diuturnamente a conduta da inflação. Segundo ela, “nós não achamos que a inflação está fora de controle, pelo contrário, achamos que ela está controlada e o que há são alterações e flutuações conjunturais. Mas nós estaremos sempre atentos.”
As palavras de Dilma foram entendidas como sinal de que a inflação não será contida na base de aumento da taxa juros, pelo menos por enquanto. Para os analistas especializados, isso mostrou um BACEN fragilizado, sem autonomia para atuar no controle da inflação. As consequências foram desastrosas, refletindo na Bovespa, na BM&F e em outros ambientes do  mercado financeiro.
Na contraofensiva, a presidente declarou que seus comentários tiveram interpretação equivocada. “Foi uma manipulação inadmissível de minha fala. O combate à inflação é um valor em si mesmo e permanente do meu governo”, afiançou.
Se Dilma falou ou deixou de falar, se foi mal interpretada, se distorceram  suas palavras, isso é irrelevante para o povão. A esse interessa a realidade dos fatos, a forma como os preços estão se comportando; o resto é balela.
Na sua maioria, os brasileiros são assalariados. Vivem sob regime contingenciado, onde o que ganham quase munca é suficiente para fazer face às necessidades próprias e familiares. Quaisquer aumentos de despesas provocam sérios desequilíbrios orçamentários.
Os índices divulgados mostram inflação em torno de sete por cento, nos últimos doze meses. Mas quem tira a grana do próprio bolso, sem usufruir das mordomias oficiais, sabe que isso não é verdade. Alimentação e transporte, habitação, vestuário, educação, planos de saúde, medicamentos, despesas pessoais, serviços públicos essenciais, impostos e outros itens imprescindíveis subiram muito mais que os salários. Basta observar os preços de hortaliças e legumes, com alta média de 80%, a maior desde 1999.
Não adianta, pois, o governo insistir na tentativa de escamotear o crescimento inflacionário, como se quisesse tapar o sol com peneira. Mesmo sem colocar todas as patas nos ombros de suas vítimas, o “velho dragão” já exala um hálito inconfundível e insuportável.
Caso a presidente Dilma queira de fato conciliar desenvolvimento com inflação baixa, o jeito é tornar o governo mais eficiente, gastar menos e melhor aplicar os extorsivos impostos que arrecada. E com austeridade incutir nos brasileiros a idéia defendida pelo mestre Mário Henrique Simonsen, segundo a qual  "toda sociedade tem a inflação que merece". Fechado!
 
Jornal de Domingo e Diário do Rio Doce de 07.04.2013