sábado, 4 de agosto de 2012

EFEITO SUPREMO


            O clima brasiliense mudou inteiramente.
            Nada a ver com as condições meteorológicas. Sob esse aspecto, a atmosfera permanece seca como o semblante da Presidente e árida como o desempenho do Congresso Nacional. O que modificou é a atmosfera sócioeconômica, atipicamente agitada, num período de habitual calmaria.
            Com as atenções voltadas para o Supremo Tribunal Federal, Brasília está antenada no que chamam “julgamento do século”.
            Na verdade, esse envolvimento não abrange aqueles que protagonizam o cotidiano da cidade. O povão acompanha o assunto, mas a distância. No primeiro dia de julgamento, o vazio na Praça dos Três Poderes foi a ponto de tornar ridículo o aparato de segurança ali montado. Havia mais guardas do que curiosos.
            Entretanto, enquanto a opinião pública está mais ligada nas Olimpíadas de Londres, o comércio do Distrito Federal vive temporada de vacas gordas. A expectativa de incremento nos negócios gira em torno de trinta por cento.
            O mensalão transformou-se em acontecimento econômico, festejado pelos donos de hotéis, restaurantes, lanchonetes, barzinhos, camelôs e outros prestadores de serviços.
Alguns chegam a oferecer abatimento para advogados que atuem nos processos. Cardápios de alimentação incluem iguarias com nomes que fazem lembrar fatos ou personagens do escândalo. O Bar do Zevan, por exemplo, um “point” da Capital, está servindo “salsichão ao supremo”, acompanhado de  ovos “prensados na corte”.
Sempre confundidos com políticos e magistrados, os pizzaiolos nadam de braçadas. Suas lojas são tomadas por mensaleiros ávidos por pizza à moda perdão.
Entre os mais beneficiados situam-se os taxistas que, além de aumentar o faturamento, não raro têm o privilégio de ouvir fofocas de bastidores, feitas pelos advogados que transportam.
Até os assaltantes e trombadinhas encontram no evento a oportunidade de ampliar sua clientela.
A previsão oficial é de que o julgamento seja concluído em cerca de trinta dias. Os empresários do DF acreditam nisso tanto quanto na possibilidade de Felipe Massa sagrar-se campeão mundial de Fórmula Um. Confiam em que Márcio Thomaz Bastos e outros brilhantes defensores dos acusados utilizarão todos os meios para protelar o apito final. Tempo necessário para que o mercado se mantenha ativo e lucrativo, enquanto aguarda a Copa das Confederações (2013) e a Copa do Mundo de 2014.
            Brasília tem sido palco de muitos acontecimentos que contribuíram para alavancar sua economia. O julgamento do mensalão vem sendo apontado como um dos mais importantes, se não o maior deles. Um fato que atraiu uma infinidade de profissionais de diversas áreas e visitantes esperançosos de assistir de perto à aplicação da lei.
Que o palco não se transforme em picadeiro!    

domingo, 29 de julho de 2012

HORA E VEZ DO MENSALÃO


          Se escândalo indicasse desenvolvimento, o Brasil estaria entre os países mais adiantados do mundo. Se a classificação fosse em função dos casos mal resolvidos, abafados ou guardados sob tapetes, o primeiro lugar seria conquistado na moleza.
          Grande parte já caiu no esquecimento. Algumas maracutaias, entretanto, teimam em tirar o sono de seus responsáveis, sempre temerosos de uma punição improvável, mas não impossível.
          Por incrível que pareça, há casos em que o julgamento tarda mas acaba acontecendo, ainda que para salvar aparências e nem sempre fazer justiça.
          Na próxima quinta-feira (02), o Supremo Federal (STF) começa a julgar o famoso “mensalão’, esquema de compra de votos de parlamentares denunciado em 2005 pelo ex-deputado Roberto Jefferson, que também será julgado. 
          Após muita espera, chegou o momento de o ex-ministro José Dirceu e outros 37 denunciados responderem por suposta participação no plano.
          Entre os acusados estão o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, o empresário Marcos Valério, o publicitário Duda Mendonça, o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, os ex-ministros Luiz Gushiken e Anderson Adauto, mais outras estrelas da constelação petista.
          Desapontado com os resultados quase sempre inócuos de casos precedentes, e conhecendo o poder de influência desse grupo e do partido político em que se apoia, o povo não alimenta grandes expectativas em relação ao evento.
          A corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, chegou a dizer que o STF terá “o seu grande julgamento ao julgar o mensalão”.
          Respondendo pela presidência da Corte, o ministro Marco Aurélio Mello reagiu de imediato. Afirmou que “o Supremo Tribunal Federal não é julgado. O Supremo julga e tem a última palavra. É uma visão equivocada da ministra Eliana. Não estamos preocupados em formar a minoria ou a maioria no julgamento”.
          Ainda assim, caso prevaleçam algumas teses de defesa já reveladas, não se deve apostar em muitas punições. Não será surpresa se, absolvido, alguém sair do Tribunal pleiteando indenização por danos morais e invasão de privacidade.
          Na Praça dos Três Poderes, exala incômodo cheiro de pizza. Ninguém se arrisca a apontar sua origem, até porque, na mesma área, acontece a CPI Cachoeira.
          Apesar desse ceticismo, a esperança é de que o Judiciário julgue com isenção e serenidade, assegurando aos réus ampla defesa e não permitindo linchamentos sumários.
          Grata, a democracia sairá fortalecida.