Houve
época em que os políticos tinham um pouco mais de acanhamento e pudor, na hora
de praticar atos indecorosos. De alguma forma, tentavam maquiar suas ações
nefastas, para que elas parecessem legítimas e os interesses particulares não
ficassem tão visíveis.
A
primeira grande preocupação era não “queimar o filme” com o eleitorado. A outra
era não “dar mole” para os órgãos fiscalizadores.
O cuidado e a
habilidade tinham também o objetivo de não comprometer o prestígio das
instituições que elesrepresentavam.
Naquele tempo, o brasileiro
já se sentia lesado. Mas, diante do modo ardiloso como isso acontecia, nem
sempre sobrava espaço para uma reação mais convicta. No vai-da-valsa, acabava
tudo no “vamos deixar como está, pra ver como é que fica”. E ficava por isso
mesmo ...
O Brasil desenvolveu,
impulsionado por riquezas geradoras de recursos que se acumularam nos cofres das
grandes estatais. Essas, por sua vez, cresceram e se projetaram no mercado,
comprando ou vendendo bens e serviços. Com isso, atraíram a atenção de
empreiteiros, lobistas, agentes de governo e políticos inescrupulosos, sôfregos
por dinheiro público.
A um só tempo, o país
foi tomado por um monte de partidos políticos desprovidos de qualquer idealismo.
Muitos deles sendo siglas de aluguel, meros abrigos de dirigentes e eleitos de
toda espécie, com ênfase para os mais desqualificados, moral e culturalmente.
Para formar e manter
uma base que lhe desse sustentação, o Governo se viu na obrigação de também
crescer. Aumentou o número de ministérios, criando mais cargos de confiança,
inclusive nas estatais e nas sociedades de economia mista. Era o jeito de ter
onde acomodar os políticos e seus apadrinhados, sempre na base do “é dando que
se recebe”.
Não deu outra. Formou-se
no país não uma parceria, mas, sim, uma quadrilha público-privada especializada
em roubar dinheiro do povo. No “avança”, os gananciosos começaram a meter os
pés pelas mãos. A partir de certo ponto, ninguém mais dava bolas pra ética,
honra, e outros parâmetros de bom comportamento. Independentemente de escalão, “suspeita-se”
que os aproveitadores agiam onde quer que houvesse grana à disposição.. Que o
diga o juiz Sérgio Moro!
A desfaçatez ficou de
tal forma escancarada, que hoje o comando da nação está nas mãos de gente envolvida
nas mais vergonhosas falcatruas.
Acusada de haver
infringido a Lei de Responsabilidade Fiscal, praticando as já famosas
“pedaladas” fiscais, a presidente da República enfrenta uma ameaça de
impeachment.
O presidente do
Senado, Renan Calheiros, dono de antecedentes nada lisonjeiros, é investigado
pela Procuradoria Geral da República, por suposto (nunca evidente) envolvimento
na operação Lava-Jato. Sem falar que, alertada pela Receita Federal, a PGR
também apura a participação de Calheiros numa transação imobiliária realizada
em Alagoas, que cheira a lavagem de dinheiro.
Na Câmara, o presidente
da Casa, deputado Eduardo Cunha, corre sério risco de ser cassado, por quebra
de decoro parlamentar. Apesar de suas negativas, confirmou-se que ele possui
contas secretas na Suíça, abastecidas com dinheiro desviado da Petrobrás.
Com tanta gente
graúda envolvida, Brasília é hoje um grande balcão de negócios. Na ânsia de se
livrar das acusações e preservar o poder, os ameaçados fazem de tudo. Mentem,
sofismam, negam o óbvio, chantageiam e se dispõem a qualquer tipo de conchavo.
Com um cinismo a toda
prova, tentam passar a ideia de que costuram um simples acordo de colaboração
mútua.
Mas a opinião pública,
enojada, sabe que tudo não passa de jogo rasteiro, onde uma mão suja a outra. Com
chance de lava-jato, é claro!
- Diário do Rio Doce
- www.nosrevista.com