Está
presente nos mais diversos textos e contextos da história, a começar pelo
Presépio de Natal, onde é figurinha carimbada.
Quando
tudo dá errado, e não há mais conserto, dizem que a
coitada foi pro brejo.
Gorda
ou magra é a quem os analistas recorrem para caracterizar os bons e os maus tempos da
economia.
Para
muitos, é sinônimo de mulher vagabunda, vadia, pilantra, sem-vergonha.
Na Índia,
entretanto, é objeto de devoção, considerada mais “pura” do que os brâmanes
(sacerdotes) pertencentes à alta casta indiana.
Vaca
e vaquinha são abundantes no Brasil. Mas nem sempre são quadrúpedes; há analogias.
O
brasileiro se acostumou a “fazer uma vaca” ou “fazer uma vaquinha”. É a forma de
arrecadar dinheiro de várias pessoas, para dividir determinada despesa: uma viagem em grupo; um conserto no carro de que todos se
utilizam; a cirurgia de um amigo necessitado; os estudos de uma criança pobre; um
jantar de confraternização; um presente coletivo; etcetera.
Fala-se
que a moda surgiu na década de 1920, envolvendo futebol e jogo do bicho. No Rio
de Janeiro daquela época, os jogadores não tinham salário fixo. Os torcedores
juntavam dinheiro e depois os gratificavam, conforme o resultado da partida.
O
valor distribuído coincidia com os números do jogo do bicho: 5, número do cachorro, correspondia a 5 mil réis (prêmio por
empate); 10, número do coelho, equivalia a 10 mil réis (vitória normal); 25,
número da vaca, valia 25 mil réis, o maior “bicho” (vitória contra adversário
mais forte ou conquista de algum título). Essa coleta junto à torcida deu
origem à famosa "vaquinha".
Vacas
ou vaquinhas são, enfim, meios de premiar ou solidarizar-se com alguém, em circunstâncias
lícitas e meritórias. Requerem
muito critério na sua execução, para evitar injustiças e efeitos indesejáveis.
Os
agentes financeiros, por exemplo, costumam proibir que perdas de Caixa sejam
rateadas entre os funcionários do Setor. Isso para impedir que algum deles simule
um prejuízo e o divida com os demais.
Compreende-se,
pois, a decepção da grande maioria dos brasileiros, diante das vaquinhas em
andamento, para pagar as milionárias multas impostas aos mensaleiros condenados
pelo Supremo Tribunal Federal.
O
ministro Gilmar Mendes, membro da Corte, não hesitou em afirmar que isso “não
passa de uma tentativa de desqualificar a decisão judicial que os condenou e
que a iniciativa terminou se transformando em um processo indevido de
‘transferência de penas’’’.
Independentemente
dessa opinião abalizada, o entendimento predominante é de que essas vaquinhas significaram
algumas deploráveis posturas dos que a elas aderiram: optaram por prestigiar
os autores, em detrimento das vítimas de grandes bandalheiras; deram sinal
verde para que outros pratiquem as mesmas falcatruas, certos de que pelo menos
as consequências financeiras de seus erros serão bancadas pelos “companheiros”;
preferiram desagravar a corrupção, a valorizar a Suprema Corte, guardiã da
Constituição Federal.
Não
são solidários com os criminosos, são seus cúmplices.
- Jornal de Domingo
- Diário do Rio Doce