Por
Etelmar Loureiro
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Diário do Rio Doce – 09.05.2019 –
O
brasileiro ainda não se habituou ao estilo Jair Bolsonaro. Diferente de todos
que o antecederam na história recente do país, o presidente se mostra cada vez
mais atirado, imprevisível, impulsivo, arrojado e, sobretudo, independente na
forma de agir. Em contrapartida, não hesita em admitir falhas e reconsiderar
suas decisões, quando necessário. No seu pouco tempo de governo, fez
declarações e adotou medidas polêmicas, que revolucionaram os meios
político-administrativos e financeiros, deixando perplexos até alguns dos seus aliados.
Logo
de cara, a surpresa ficou por conta da flexibilização da posse de armas de fogo.
Embora isso fosse uma promessa de campanha, poucos acreditavam que acontecesse
tão rapidamente. E, na última terça-feira (07), Bolsonaro foi além: assinou um
decreto que facilita as coisas para várias categorias, como as de proprietários
rurais, colecionadores, atiradores desportivos, caçadores e praças das Forças
Armadas, nas condições estabelecidas. Com certeza, muitos aplausos vão se
misturar a choros e ranger de dentes. Mas a decisão está tomada, pelo menos até
segunda ordem.
A suspensão do
polêmico horário de verão foi outra resolução inesperada, que alguns
criticaram, mas a maioria aplaudiu.
Duas
intervenções do capitão, entretanto, merecem uma análise mais profunda. A
primeira ocorreu no início
de abril, quando ele mandou a Petrobras sustar um aumento no preço do óleo diesel. Não foi equívoco ou
mal-entendido. O próprio presidente admitiu haver ligado para o presidente da
Petrobrás, ao se surpreender com o percentual do reajuste cogitado. Os
consumidores aplaudiram, mas as ações da empresa despencaram, seus acionistas perderam,
e o mercado financeiro bronqueou. As autoridades econômicas se apressaram em
dizer que que tudo não passou de uma decisão pontual do presidente, sem implicar
mudança na política de preços da petroleira. Desnecessário dizer que o aumento
acabou ocorrendo.
O outro “pitaco” aconteceu no
último dia 29, na abertura da Agrishow, feira de agronegócios realizada em
Ribeirão Preto. Na ocasião, dirigindo-se
a Rubem Novaes, presidente do Banco do Brasil, Bolsonaro, em tom de brincadeira,
disse: “Eu apenas apelo para o seu coração, para o seu patriotismo, para que
esses juros, tendo em vista você parecer ser um cristão de verdade, caiam um
pouquinho mais”.
Apesar
de informais, as palavras do presidente foram mal
recebidas pelos investidores, e os papéis do BB ensaiaram uma queda logo debelada.
Na opinião de seus assessores, o desejo de Bolsonaro pode até ser sincero e
compreensível, já que as taxas de juros no Brasil ainda são elevadas. Segundo
eles, entretanto, o presidente não deveria "nem de brincadeira" pedir
publicamente ao presidente do BB para reduzir os juros cobrados pela
instituição. Esses mesmos auxiliares entendem que assunto até poderia ser
discutido internamente no governo, pois é um direito do presidente. Mas
abordá-lo publicamente dá a ideia de que o governo estaria intervindo no modo
de agir dos bancos públicos.
Em ambos os episódios, ficou clara
uma preocupante submissão do governo a um mercado financeiro que não poupa
sequer as empresas públicas, quando se trata de remunerar capitais
especulativos. Tudo bem que se preserve a liberdade de atuação das instituições
financeiras privadas. Mas em um mercado onde as forças concorrentes não se equivalem,
onde o consumidor está quase sempre em desvantagem, esse livre-arbítrio tem que
ser no mínimo monitorado, para que não haja excessos. É inconcebível que nem
mesmo o Chefe da Nação tenha o direito de interferir para conter custos que lhe
pareçam exorbitantes, pelo menos quando praticados por agentes sob controle
oficial. Antes de garantir os lucros de seus investidores, as estatais devem
zelar, sobretudo, pelos interesses do país. Que Bolsonaro permaneça atento e
atuante!