Um
deles foi o ex-ministro José Dirceu. Já com carteira assinada, dispensou um
emprego de polpudos R$ 20 mil mensais para trabalhar como gerente do luxuoso
Hotel Saint Peter, em Brasília. Segundo seu advogado, sentindo-se vítima de um
linchamento midiático, ele assim procedeu “para diminuir o sofrimento dos empresários
que lhe fizeram a oferta". Certamente referia-se ao panamenho José Eugênio
Silva Ritter, um humilde auxiliar de escritório, lavador do próprio carro, que
preside a Truston International Inc, controladora do cinco estrelas. Comovente!
Para
Dirceu, entretanto, que disse querer trabalhar “por necessidade”, não haverá
problema: uma cooperativa do
Distrito Federal, dedicada à ressocialização de presos, já lhe ofereceu R$
508,50 mensais, para administrar a fabricação de artefatos de concreto. A proposta,
protocolada no STF, se estende a Delúbio Soares (não como tesoureiro, sim como assistente
de marcenaria, salário igual ao de Dirceu) e a José Genoíno (costurar bolas de
futebol, ganhando R$ 5 por unidade). Resolvido!
O
ex-presidente do PT foi também protagonista de outro episódio inusitado. Quando
todos esperavam que, de punhos erguidos, fosse lutar contra um eventual
processo de cassação, Genoíno renunciou ao mandato. Na carta que encaminhou à
Câmara, disse que “entre a humilhação (de ser cassado) e a ilegalidade prefiro
o risco da luta e renuncio ao mandato”. A luta, pelo visto, será agora por um
laudo médico que lhe garanta aposentadoria por invalidez e justifique que seja
mantido no regime de prisão domiciliar em que se encontra.
O
deputado Valdemar Costa Neto, outro mensaleiro condenado, resolveu imitar Genoíno.
Ordenada a sua prisão, abdicou do mandato, “para não impor ao Parlamento mais
um constrangimento institucional”. Um inesperado gesto de grandeza!
Quem
de fato deixou todo mundo boquiaberto foi o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo.
No cenário paradisíaco da Costa do Sauípe, onde o sol escaldante pode ter-lhe afetado
o neurônio, ele surfou na imaginação.
Falando
sobre os atrasos na conclusão dos estádios para a Copa de 2014, comparou isso a
um casamento.
“No Brasil há uma instituição muito respeitada, o casamento”, disse o
ministro. “É uma festa para duas pessoas. Geralmente um noiva e um noivo. 100%
a noiva chegou atrasada. Nunca vi uma noiva chegar na hora. Nunca vi um casamento
não acontecer por isso", arrematou.
Na fantasia de Rebelo, o Brasil
seria a noiva retardatária, a Fifa o noivo de plantão, e a Copa o casamento esperado.
Foi uma forma espirituosa de admitir
que alguns estádios não serão entregues no prazo estabelecido.
O ministro quase acertou na
analogia. Faltou-lhe observar que não se trata de demora da noiva, sim da
construção da igreja. Haverá casamento?