sábado, 23 de junho de 2012

LEMBRANÇAS ESQUECIDAS

           Não dá pra entender o descaso de Valadares para com os personagens de sua história. A continuar assim, é bem provável que, no futuro, não haja personagens nem história.
            Dos poucos remanescentes da safra de pioneiros, ainda há quem possa falar sobre as emoções da epopéia desbravadora e dos avanços na luta por desenvolvimento. Mas, pela ordem natural, não lhes resta muito tempo para esse testemunho, tampouco para aguardar reconhecimento.
Com o andar da carruagem, as baixas se tornam mais frequentes. E os que partem levam consigo preciosos conhecimentos nem sempre documentados. 
            Até aí, tudo bem. As gerações se renovam, onde quer que seja; faz parte do jogo.
            Anormal é a repentina amnésia que se apossa do povo e das autoridades, a ponto de o autor e sua obra serem logo esquecidos.
            A última segunda-feira (18) assinalou o terceiro aniversário da morte de Ladislau Sales e de Hermírio Gomes da Silva, dois dos mais ilustres valadarenses. Entre outros créditos, foram prefeitos municipais e muito fizeram pelo crescimento da cidade e da região.
            O primeiro, por razões pessoais, mudou-se para Belo Horizonte, onde encerrou os seus dias. Mas deixou realizações que lhe asseguram lugar de destaque na galeria das grandes personalidades locais.
            Quanto a Hermírio Gomes, tem méritos indiscutíveis e um histórico que dispensa adjetivos. Pontificou como vereador, vice-prefeito, prefeito por duas vezes, presidente da Associação Comercial, diretor da Univale, fundador da Fundação Percival Farquhar, diretor da Fadivale e muitos “et cétera”.
            Vitoriosos e admirados como cidadãos e homens públicos, Ladislau e Hermírio são dignos de todo louvor.
            Nem assim foram convenientemente lembrados pela comunidade. Se houve alguma homenagem, foi discreta e reservada, nada à altura de suas importâncias. Situação imperdoável, que tem se repetido em relação a outros vultos da biografia local.
            Ao que parece, ninguém nota que reverenciar o passado é tão necessário quanto perseguir o futuro. Nem percebe que o jovem de ontem é o idoso de hoje e o saudoso de amanhã.  Por isso, os notáveis de agora se arriscam a ser os esquecidos de mais tarde, caso não aprendam e ensinem a valorização de seus antecessores.
            Igual ao “efeito Orloff”, a ingratidão tem suas conseqüências, frutos de um insulto à memória, que sempre reage com as mesmas armas.  Sem direito a choro!

domingo, 17 de junho de 2012

PROMESSAS DE OCASIÃO

            Iniciada a temporada de caça aos votos, começam a ser vistos os frutos da estação.
O fenômeno se repete a cada dois anos, na esteira das eleições que acontecem com a mesma periodicidade.
É quando os candidatos e seus padrinhos se reapresentam como antigos e intransigentes defensores dos interesses populares, repetindo promessas desgastadas, mas jurando que “desta vez é pra valer”.
O café requentado é servido sem acanhamento, com cinismo capaz de provocar inveja no mais autêntico cara de pau.
Ainda assim, os espertalhões quase sempre conseguem sensibilizar seus incautos seguidores, para os quais a esperança é imortal.
Não é necessário muito esforço de memória para relembrar os inúmeros compromissos de campanha nunca honrados.
Candidatos e governantes armam seus palanques eleitorais nas áreas de educação, saúde, saneamento, segurança pública e infraestrutura, onde as necessidades são enormes e permanentes.
 A prática vem se repetindo de geração para geração e, pelo visto, tão cedo será abandonada.
Ainda agora, viu-se Dilma Rousseff anunciar investimentos de R$ 6 bilhões para a execução de três grandes obras há muito reivindicadas por Minas Gerais. Entre elas a duplicação da BR-381, conhecida como “Rodovia da Morte”, entre Belo Horizonte e Governador Valadares.
Apesar das decepções sofridas com os Collor e Sarney da vida, não se deve confundir promessas presidenciais com presepadas e juras enganosas de oportunistas que nada têm a perder. Até porque Dilma Rousseff é dona de uma popularidade tão grande, que lhe impede blefar.
A questão é a recorrência das promessas, e o fato de sempre coincidirem com a garimpagem de votos.
Talvez por isso o anúncio da duplicação da BR-381 não tenha despertado maior expectativa entre as lideranças estaduais. Sem considerar as várias ocasiões anteriores, a obra foi prometida duas vezes, só nos últimos dois anos, mas não saiu do papel.
Cansado de embromações, o povo se mostra cada vez mais descrente, corroborando a tese de que eleitor enganado duvida até do seu cachorro de estimação; quanto mais de políticos e governantes. Pretextos não lhe faltam.