Sempre
apegado à crença de que melhores dias virão, o brasileiro tornou-se um emérito
engolidor de sapos. Acomodado por
natureza, tem suportado toda espécie de desaforos políticos, com a resignação
própria de quem sabe estar pagando o preço do voto errado, mas quase sempre
consciente. Ainda assim, confia em que não há bem que sempre dure, nem mal que
nunca se acabe.
O
desrespeito é constante. Em maior ou menor escala, a corrupção campeia nos três
poderes republicanos. Além de insaciáveis e ousados, os contraventores são
competentes.
No
ranking das afrontas, o campeão tem sido o Congresso Nacional, haja vista sua
lastimável atuação no último ano. Nada fez de relevante, exceto ser
desmoralizado pela inócua CPI do Cachoeira e pela vexatória cassação do senador
Demóstenes Torres. Para completar fechou o ano sem aprovar o Orçamento da União
para 2013.
Não
há como poupar deputados e senadores por essa desastrada performance. O
corporativismo, a falta de comprometimento com os interesses nacionais, a
ganância por cargos e valores materiais, o conluio partidário e outras ignomínias
são generalizadas e se sobrepõem a quaisquer ideais. Até a oposição costuma se
render ao “é dando que se recebe”.
No
parte e reparte, entretanto, a maior parcela de culpa recai sobre os
presidentes da Câmara e do Senado. Se honrassem a dignidade e agissem com a
independência de seus cargos, poderiam modificar a história. Mas não o fazem. Preferem
cumprir ordens e usufruir das regalias do sistema.
Isso
sem falar nas muitas situações constrangedoras, como a vivenciada por Sarney,
no episódio dos atos secretos do Senado, ou por Marco Maia, quando acenou com a
possibilidade de manter entrincheirados na Câmara os mensaleiros condenados
pelo Supremo Tribunal Federal.
Não
é fácil reverter esse quadro, dadas as profundas raízes em que se
sustenta.
As
eleições para presidentes das duas casas, marcadas para o início de fevereiro
próximo (01 e 04), seriam uma chance de mudança, mesmo remota.
Pela
lógica, entretanto, deverá prevalecer a vontade do governo, dono de ampla
maioria nos colégios eleitorais. Até aí, nada demais; faz parte do jogo. A bronca
é em relação aos preferidos do momento.
Para o Senado, o cara é Renan Calheiros, aquele
que, em 2007, renunciou ao mesmo cargo, após várias denúncias de corrupção.
Para a Câmara, o favorito do Planalto é o deputado Henrique Alves, alvo de graves
acusações nos principais jornais do país.
Não causaria surpresa
se um deles ou ambos fossem alijados do processo, por maus antecedentes. Afora
isso, a vitória de outro candidato seria autêntica zebra, em qualquer dos
pleitos.
Se consumada a troca
de alhos por bugalhos, o resultado só poderá ser um conclusivo tanto faz como
tanto fez. Os aplausos que lamentarão a saída de Sarney e Marco Maia talvez se
confundam com os apupos de boas-vindas a Calheiros e Henrique Alves.
A essa altura, fruto
de profunda reflexão, o deputado Tiririca já terá modificado o famoso slogan de
sua campanha para “pior do que está pode ficar”. Sem discordância.