domingo, 20 de janeiro de 2013

APLAUSOS E APUPOS


           Sempre apegado à crença de que melhores dias virão, o brasileiro tornou-se um emérito engolidor de sapos.  Acomodado por natureza, tem suportado toda espécie de desaforos políticos, com a resignação própria de quem sabe estar pagando o preço do voto errado, mas quase sempre consciente. Ainda assim, confia em que não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe.
            O desrespeito é constante. Em maior ou menor escala, a corrupção campeia nos três poderes republicanos. Além de insaciáveis e ousados, os contraventores são competentes.
            No ranking das afrontas, o campeão tem sido o Congresso Nacional, haja vista sua lastimável atuação no último ano. Nada fez de relevante, exceto ser desmoralizado pela inócua CPI do Cachoeira e pela vexatória cassação do senador Demóstenes Torres. Para completar fechou o ano sem aprovar o Orçamento da União para 2013.
            Não há como poupar deputados e senadores por essa desastrada performance. O corporativismo, a falta de comprometimento com os interesses nacionais, a ganância por cargos e valores materiais, o conluio partidário e outras ignomínias são generalizadas e se sobrepõem a quaisquer ideais. Até a oposição costuma se render ao “é dando que se recebe”.
            No parte e reparte, entretanto, a maior parcela de culpa recai sobre os presidentes da Câmara e do Senado. Se honrassem a dignidade e agissem com a independência de seus cargos, poderiam modificar a história. Mas não o fazem. Preferem cumprir ordens e usufruir das regalias do sistema.
            Isso sem falar nas muitas situações constrangedoras, como a vivenciada por Sarney, no episódio dos atos secretos do Senado, ou por Marco Maia, quando acenou com a possibilidade de manter entrincheirados na Câmara os mensaleiros condenados pelo Supremo Tribunal Federal.    
            Não é fácil reverter esse quadro, dadas as profundas raízes em que se sustenta. 
            As eleições para presidentes das duas casas, marcadas para o início de fevereiro próximo (01 e 04), seriam uma chance de mudança, mesmo remota.
            Pela lógica, entretanto, deverá prevalecer a vontade do governo, dono de ampla maioria nos colégios eleitorais. Até aí, nada demais; faz parte do jogo. A bronca é em relação aos preferidos do momento.
 Para o Senado, o cara é Renan Calheiros, aquele que, em 2007, renunciou ao mesmo cargo, após várias denúncias de corrupção. Para a Câmara, o favorito do Planalto é o deputado Henrique Alves, alvo de graves acusações nos principais jornais do país.
Não causaria surpresa se um deles ou ambos fossem alijados do processo, por maus antecedentes. Afora isso, a vitória de outro candidato seria autêntica zebra, em qualquer dos pleitos.
Se consumada a troca de alhos por bugalhos, o resultado só poderá ser um conclusivo tanto faz como tanto fez. Os aplausos que lamentarão a saída de Sarney e Marco Maia talvez se confundam com os apupos de boas-vindas a Calheiros e Henrique Alves.
A essa altura, fruto de profunda reflexão, o deputado Tiririca já terá modificado o famoso slogan de sua campanha para “pior do que está pode ficar”.  Sem discordância.