sábado, 19 de fevereiro de 2011

AVALIAÇÃO PRESUMIDA

 
            A impossibilidade de elogiar é tão constrangedora quanto o impedimento de criticar.
Nada pior que não poder falar dos méritos de um concorrente, ou se calar diante dos deméritos de um aliado.
Embora distintas, são situações que acarretam incômodo sentimento de submissão, impotência e omissão.
Mas se o sufocante silêncio é inevitável, há outros comportamentos que pressupõem aplauso ou reprovação. Ações e atitudes – até mesmo a apatia – também revelam pensamentos.
Nos seus oito anos de governo, Lula teve chance de melhor enaltecer as virtudes de seu antecessor. Divergências políticas à parte, ele poderia ter admitido, com mais ênfase, que várias de suas conquistas foram frutos de sementes plantadas por Fernando Henrique.
Não o fez em altos brados, mas tomou decisões que expuseram, de forma inequívoca, sua simpatia por algumas práticas tucanas, em especial a política econômica, a que deu plena continuidade.
 No governo Dilma Rousseff as coisas comportam outra análise.
 A presidente pode dizer o que quiser sobre Lula, desde que não fale mal. Anda rouca de escutar.
O super corte orçamentário e outras medidas drásticas de contenção de gastos por ela determinadas são sintomas de que há mais consertos a fazer do que ela imaginava.
Inflação e taxa de juros em alta, gastos públicos descontrolados e comercio exterior prejudicado pela supervalorização da moeda também comprometem a qualidade do legado lulista.
O que antes parecia um relicário de bondades, ameaça transformar-se numa enorme batata quente.
Ainda assim, a avaliação de Lula segue presumidamente inabalada, tanto quanto a aliança entre criador e criatura.
Na comemoração dos 31 anos do PT, último dia 11, Lula assegurou que “Minha relação política com a Dilma é indissociável”. Isso antes de afirmar  que “Se a grande desconstrução do governo Lula é falar bem da Dilma, poderei morrer feliz. Queríamos alguém que fizesse mais e melhor. Se fosse para fazer o mesmo, eu teria pleiteado o terceiro mandato”. A caminho do evento, Dilma não ouviu. Após chegar, nada disse.
Por enquanto, “herança maldita” é expressão não cogitada. Sua utilização ainda é tida como improvável, mas não impossível.
Nos bastidores, contudo, fofoca-se que Lula fez a festa, deixando por conta de Dilma a limpeza do salão. Muita maldade!

domingo, 13 de fevereiro de 2011

OPOSIÇÃO FAZ DE CONTA (13.02.2011)

            É natural que um novo governo necessite de tempo para se ambientar, colocar ordem na casa, tomar pé da situação e melhor familiarizar-se com o poder.
            A presidente Dilma até poderia pular essa etapa, já que participou íntima e ativamente do governo a que dá continuidade. A rigor, não tem por que temer pegadinhas. Mas ela prefere manter a cautela própria dos iniciantes. Postura que torna compreensiva – às vezes preocupante – sua atuação pouco reluzente nesse começo de gestão.
            Inadmissível, entretanto, é a apatia da oposição parlamentar, centrada no PSDB e no DEM.
            No governo Lula, a mesma corrente teve inúmeras oportunidades de se mostrar forte, coesa e respeitada. Escândalos não faltaram, abrindo espaço para várias investidas contra o governo. Até o impeachment do presidente poderia ter sido pedido, na esteira do “mensalão”.
            Por desinteresse ou incompetência, nada foi feito como devia. Deu no que deu. Mais habilidoso melhor assessorado e sem adversários à altura, Lula nadou de braçadas. Negou acusações, driblou obstáculos, sustentou dois mandatos, ganhou a opinião pública e elegeu sua sucessora.
            Nada disso serviu de aprendizado para tucanos, democratas e outros pseudo adversários. Eles continuam posando de opositores, mas não são de brigas, nem poderiam ser. Pertencem a partidos apeados do poder que detiveram por longos anos. Pretender que sejam bravos adversários é ingenuidade. Melhor acreditar que José Sarney, Pedro Simon, Jorge Bornhausen e outros gananciosos políticos serão capazes de renunciar à polpuda aposentadoria vitalícia que recebem dos estados que um dia governaram.
            Chances já tiveram de mostrar a cara, como quando Dilma manteve a nomeação de dois ministros envolvidos em escândalos. Ou na época em que se noticiou o desvio de recursos públicos em Furnas e na Funasa. Afora outros que engoliram calados.
            Alimenta-se a esperança de que Aécio Neves consiga despertar a consciência cívica desses políticos e os liderar na contraposição ao governo.   
O senador mineiro desponta como um dos principais líderes políticos no novo Congresso, o mais indicado para essa árdua missão.
            Um dia antes de sua posse, assegurou que “os brasileiros podem contar com uma oposição vigorosa e vigilante em relação às ações do governo”. Não há sinais de que isso esteja acontecendo, mas Aécio merece crédito.
            Até o presidente do PT, José Eduardo Dutra, em recente entrevista, reconheceu que o tucano “tem toda capacidade de liderar a oposição”.
            O caso é que o neto de Tancredo também é visto como o virtual concorrente oposicionista no pleito de 2014. E isso acontece no momento em que PSDB e DEM parecem mais empenhados em definir desde logo o seu candidato, crentes de que fatura poderá ser antecipadamente liquidada.
            O governo fica livre e solto para agir como bem entender, enquanto seus adversários se esquecem de que nenhum jogo se ganha na véspera.