Nos
muitos anos que moramos em Brasília, eu e minha família enfrentamos desafios corriqueiros,
mas nada fáceis de contornar.
Um
deles foi a distância. Nem tanto a da capital até Valadares, viajada com o
entusiasmo dos que retornavam às origens. Difícil era fazer o sentido
contrário, olhando pelo retrovisor coisas boas e muita gente querida. São cerca
de 1000 quilômetros difíceis de encarar, sobretudo naquela época, pilotando veículos
sem direção hidráulica, ar condicionado, kit multimídia e outros breguetes. Percurso
estressante, com retas intermináveis e trechos de alto risco. Mas o jeito era pôr
o carro na estrada e acelerar, rezando pra chegar.
Durante
esse tempo, a saudade foi grande e inseparável companheira. Sábia, dedicada e persistente,
nunca aborreceu. Pelo contrário, foi responsável por manter vivas importantes
recordações.
Distância
e lembrança instigam o desejo de reencontrar alguém ou alguma coisa.
Nosso
foco eram os pais, irmãos, outros familiares, amigos e cenários que são partes da
gente.
Tudo
acontecia numa boa. Queríamos vir, eles queriam que viéssemos. O porém era a longa
viagem, sempre feita sob rígidas
recomendações de cautela. As mesmas hoje repassadas ao filho Rodney, que
planeja vir de Brasília, para curtir conosco o réveillon, trazendo esposa e
filha. Os pais têm a estranha mania de se preocuparem com a segurança de suas
crias, sobretudo quando os netos estão juntos.
Entre
idas e vindas, num belo dia, eu e Marlene voltamos pra ficar. Presos a
compromissos, os filhos permaneceram na sua.
Agora somos nós cá, eles lá, cada qual no seu CEP.
O tempo passou e a carruagem andou: pais e mães nos deixaram, um irmão se
foi, e alguns amigos também. Mas outros se juntaram, e por sorte temos com quem
dividir emoções.
Difíceis
são “aquelas” ocasiões especiais. As que misturam agito, cachorro latindo, crianças
correndo pela casa, apertos de mãos e afagos em família. Tudo a ver com o Natal.
Não dá pra ficar cada um no seu canto. As redes sociais permitem o tête-à-tête
virtual, não o frisson do corpo a corpo.
Neste
ano, nossa festa tende a ser meio borocoxô. Por mais que haja familiares e
amigos com quem confraternizar, já sentimos a falta dos “meninos”. Sobrou-nos a
difícil tarefa de segurar o vazio que outrora sufocava nossos pais, quando,
esperando na janela, convenciam-se de que não iríamos chegar; ficavam a ver
navios.
A ficha cai e revela
que a vida é uma sucessão sucessiva de sucessões sucessivas. Tese “sub judice”, inspirada no infalível “efeito
Orloff”.
É só um papo inusitado.
Nada além de fossa natalina, sinalizando que é hora de pegada, de estender a
mão e abraçar apertado. Tempo de saudade e de quero colo.
Feliz Natal, sem medo
de chorar!