Por Etelmar Loureiro
- Diário do Rio Doce – 24.10.2019
Viajar não é o meu
fraco, não se inclui entre os hábitos pelos quais morro de amores. Dizer que
não gosto seria exagero. Apenas não sinto pela viagem, sobretudo na sua fase preparatória,
aquela ansiedade e aquele êxtase que tomam conta dos aficionados por fazer as
malas e sair em busca de outras paragens. Ao contrário, sou tomado pelo
desânimo e pela vontade de ficar quietinho onde estou. Ainda não cheguei ao
exagero de procurar um analista que possa me apontar os motivos desse
comportamento e, quem sabe, me modificar. Quando muito, faço uma autoanálise e
me detenho em algumas possíveis explicações para esse “my way”. Uma delas seria
a herança paterna: meu saudoso pai, viajante contumaz quando jovem, com o
passar dos anos incorporou-se ao time dos “daqui não saio, daqui ninguém me
tira”; e só Deus o tirou.
Outra hipótese
seria o comodismo, turbinado pelo apego aos valores materiais, ambientais e
pessoais, dos quais não gosto de me separar.
A maior culpa,
entretanto, sempre recai nas mais de uma centena de cansativas viagens feitas
entre Brasília e Governador Valadares, nos 33 anos que morei na capital federal.
Um trecho de quase 1.100 quilômetros, que frequentemente percorri com mulher,
filhos e volumosas bagagens, ao volante daqueles “carrões” que Fernando Collor
comparava a carroças, desprovidos de direção hidráulica, de ar condicionado e
até de cintos de segurança. Decididamente, não foi uma experiência das mais
prazerosas.
Mas o fato de não ser um entusiasta não significa que eu seja resistente ou
intolerante a viagens. Faço tanto as obrigatórias como as de lazer, sempre que
necessárias ou oportunas. Sozinho ou acompanhado de familiares e amigos, já
estive em várias partes do país e do exterior. E, por paradoxal que seja, gosto
de ter viajado. Agora, por exemplo, sinto-me muito bem em Londrina, uma
magnífica metrópole paranaense, a segunda cidade mais importante do Estado.
Aqui, eu e minha Marlene visitamos a nossa filha Débora, o genro Rodrigo
Lourenço, as netas Ana Carolina e Anna Júlia e o neto Victor, que se incluem
entre os quase 600 mil habitantes locais.
Fundada em dezembro
de 1934, a cidade levou menos de quatro décadas para atingir um alto nível de
crescimento populacional e econômico. Nesse período, dedicou-se ao cultivo e
comercialização do café, o que lhe valeu o título de Capital Mundial do Café.
Após 1970, o panorama econômico londrinense foi gradual e positivamente se
modificando, a ponto de a área se tornar um dos mais importantes e
diversificados centros industriais, econômicos, financeiros, administrativos e
culturais do interior do país. É uma cidade jovem, moderna e pulsante, que se
distingue por sua excelência na prestação de serviços, no comércio e no
turismo.
A história, de
empolgantes capítulos, é longa para ser contada em tão curto espaço.
Impossível, entretanto, omitir uma interessante curiosidade sobre a cidade. Seu
nome foi ideia do inglês Simon Joseph Fraser e de seus companheiros que, em
1925, fundaram a Companhia de Terras do Norte do Paraná, pioneira na
colonização regional. Percebendo semelhança entre a névoa característica da
mata local e a neblina própria de Londres, eles decidiram homenagear a capital
inglesa, batizando o lugar com o nome de Londrina, que significa “pequena
Londres”.
Sempre que visito
outras localidades, tento conhecer ao máximo as suas características, a fim de fazer
comparações com Governador Valadares.
Desta vez, as
conclusões são amplamente favoráveis a Londrina. Embora seja apenas quatro anos
mais velha, a cidade paranaense está anos-luz à nossa frente. Seu
desenvolvimento socioeconômico e cultural supera todas as expectativas. Claro
que para isso influiu o tipo de colonização, as condições climáticas, a
estratégica localização e inúmeros outros fatores positivos.
Mas Valadares não
tem motivos para se sentir inferiorizada. Afinal, em termos de progresso
comunitário, o importante é o povo e seus administradores manterem tranquila consciência
de que estão honesta e verdadeiramente empenhados na sua busca. Afora isso, é persistir
e ter paciência.
Em meio a todos os descompassos,
Londrina e Valadares têm duas qualidades em comum: a hospitalidade e o calor –
tanto o climático quanto humano. Não deixa de ser uma gratificante afinidade.