domingo, 21 de agosto de 2011

VISÃO NEBULOSA

            Seria exagero dizer que o aposentado é um pobre coitado, um abandonado pela sorte.
            Por pior que seja, sua situação é melhor do que a de muitos. Pelo menos em tese, leva vantagem sobre os l6,2 milhões de brasileiros que sobrevivem com até setenta reais mensais, em condições desumanas e de extrema pobreza.
            Isso sem falar nos políticos, magistrados e outros privilegiados. Esses, visando à própria aposentadoria, sempre conseguem uma forma de adequar os benefícios à sua ganância, independentemente de crises internas ou externas, de políticas de contenção de gastos ou das dificuldades financeiras por que passem os cofres públicos. Ainda que sob outros rótulos, conseguem manter regalias de que desfrutavam quando na ativa e, em alguns casos, repassá-las a seus sucessores.
            Os aposentados que recebem um salário mínimo mensal talvez sejam os mais resignados. Não acalentam grandes nem pequenos sonhos e conseguem operar verdadeiros milagres orçamentários. Mas, pelo menos, têm assegurados reajustes, sempre e nas mesmas bases em que é corrigido o piso salarial. Não esperam mais do que isso.
            Aborrecidos e decepcionados estão os quase nove milhões de aposentados e pensionistas que ganham acima do salário mínimo. Há muito seus proventos vêm sendo achatados, apesar das promessas de reposição feitas em épocas de campanha.
            A presidente Dilma Rousseff acaba agravar esse descontentamento, vetando regra que previa reajuste acima da inflação, em 2012, incluída na Lei de Diretrizes Orçamentárias aprovada pelo Congresso. O argumento foi necessidade de conter o aumento dos gastos públicos, já que o Brasil precisa se proteger de efeitos mais pesados da crise mundial.
            Os fatos mostram que nossas perdas financeiras estão intimamente relacionadas com desvios de recursos, superfaturamento de obras e outras falcatruas. Inaceitável, pois, que se tente incluir aposentados e pensionistas entre os causadores de desequilíbrio orçamentário.
            Isso só acontece porque eles são a parte mais frágil do sistema, com um poder de pressão que vai pouco além do voto. Alguém já viu greve de aposentado?!
            Enquanto os indefesos são afrontosamente contrariados em suas pretensões, os fortes e espertalhões se locupletam à vontade. Coisa típica de país onde quem vê o maquinista não enxerga a locomotiva.