sábado, 19 de março de 2011

O PREÇO DA IMPOTÊNCIA

            Diante da forma intensa e explícita como vem sendo exibida, torna-se difícil apontar algum dado diferente sobre a tragédia japonesa. Os meios de comunicação têm sido abrangentes e muito capazes na cobertura do triste acontecimento.
            Mesmo que estejam sendo mostrados nos seus mínimos detalhes, tornando dispensável e até pretensiosa qualquer tentativa de uma abordagem original, vale a pena continuar refletindo sobre os fatos.
            A grande verdade é que nenhum país, por mais evoluído que seja, está suficientemente preparado para enfrentar catástrofes naturais. A intensidade do terremoto e a força do tsunami desmoralizaram todo o aparato de segurança que fazia do Japão a nação em melhores condições de enfrentar fenômenos da espécie.
            Os danos sofridos pela usina de Fukushima, a maior da Terra do Sol Nascente, são assustadores e provocam apreensão mundial. A ameaça de contaminação e a possibilidade de um desastre nuclear indicam a necessidade de urgente debate internacional sobre a garantia e a relação custo/benefício desse tipo de central energética.
            Em terras brasileiras, a Bahia foi onde o drama japonês teve pronta e concreta repercussão. Serviu para que fosse rediscutida a possibilidade de o estado ser incluído entre as três unidades da Federação onde se cogita investir em indústria nuclear.  A idéia era parte dos objetos de desejo do governador Jaques Wagner, que em 2010 chegou a assinar protocolo de intenções nesse sentido.
            Mas a meta agora é outra, apressou-se em dizer Otto Alencar, o vice-governador que também responde pela Secretaria de Infraestrutura. Segundo ele, “houve uma intenção do governador de trazer uma usina nuclear, mas nada foi formalizado. Essa é uma discussão muito incipiente. A revolução energética é a revolução da energia eólica. O Nordeste tem 50% do potencial eólico do Brasil, 15% só na Bahia”.
            Alencar defende que a instalação de novas usinas nucleares seja reavaliada em todo o mundo. Na sua atual visão, “depois deste acidente, todos terão que repensar esta questão. Quem já tem usina vai procurar alternativas. Quem não tem vai resistir muito ou enfrentar uma aversão muito grande da população e dos ambientalistas”.
            O político baiano esbanjou sabedoria e bom senso. Que seu pensamento coincida com o das demais autoridades envolvidas na questão!
            No desastre de Fukushima, como em outros, pagou-se caro pela impotência humana perante as punições impostas pela natureza.  Ocasiões infelizes que, ainda assim, poderão contribuir para que não se repitam os mesmos erros.
           A esperança é de que, nesse campo, o homem aprenda a agir como um cão já mordido por cobra, que teme até lingüiça.

domingo, 13 de março de 2011

APOTEOSE DO REI

            O desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro continua sendo a grande referência do carnaval brasileiro.      
            Mesmo nas épocas passadas, quando acontecia na Praça Onze, na Avenida Presidente Vargas ou na Rua Marquês de Sapucaí o espetáculo já pontificava.
            Sua importância, entretanto, alcançou outra dimensão a partir de março/1984, com a inauguração da “Passarela do Samba”. Popularmente conhecida como “Sambódromo”, a obra foi iniciativa do ex-governador Leonel Brizola, estimulado pelo seu então Secretário de Cultura, Darcy Ribeiro. Projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer e erguida em 120 dias, possui 700 metros de extensão e capacidade para mais de 62 mil pessoas.
            Desde então, o evento se mostra a cada ano mais portentoso, deslumbrante e prestigiado. Pouco importa o panorama político, a conjuntura financeira ou as dificuldades do mercado de trabalho.
            Neste ano, houve um momento em que todos ficaram temerosos quanto ao sucesso da festa. Foi quando um gigantesco incêndio irrompeu na “Cidade do Samba”, poucos dias antes do carnaval (07/02). O fogo atingiu duramente os barracões das escolas União da Ilha, Grande Rio e Portela, destruindo fantasias e carros alegóricos que seriam utilizados no desfile.
            O desespero das vítimas também alcançou os integrantes das agremiações não afetadas.
            Mas, apagadas as chamas do sinistro, acenderam-se as luzes da solidariedade. Numa extraordinária demonstração de garra e superação, a comunidade carnavalesca encarou o desafio de ressurgir das cinzas. Mãos dadas, aliados e concorrentes conseguiram vencer a adversidade. Na hora exata, todos estavam no Sambódromo.
            A apresentação foi novamente esplendorosa, enormemente aplaudida, como se nada de extraordinário tivesse antes acontecido.
 Primorosa organização, criativos enredos, fantásticas alegorias e belíssimas mulheres foram apenas alguns dos ingredientes que contribuíram para a pujança do megaespetáculo.
A Beija-Flor sagrou-se vencedora, com o enredo “Simplicidade de um Rei”, sobre a vida de Roberto Carlos. Segundo os entendidos, isso aconteceu graças à competência e profissionalismo da escola, campeã pela 12ª vez.
Os torcedores da Unidos da Tijuca, segunda colocada, discordam, achando que sua escola estava muito melhor, mas faltou um “rei” que, por questões de marketing, não poderia ser vice.
            Divergência à parte, quem não assistiu, ao vivo, terá que se contentar com um vídeo ou aguardar a próxima edição.   Neste ano, como diria RC, “o show já terminou”.