Por Etelmar Loureiro
- Diário do Rio Doce - 06.12.2018
Resta
pouco tempo para o Brasil virar mais uma página de sua agitada história
republicana. Na contagem regressiva, o presidente Michel Temer limpa as gavetas,
faz as malas, e se apronta para, no dia 1º de janeiro, passar o bastão a Jair
Bolsonaro. Espera-se que isso marque o fim de um dos períodos mais conturbados
da vida nacional.
Como
se recorda, Temer, até então vice-presidente, assumiu a Presidência em 2016,
após o impeachment de Dilma Rousseff. A troca de comando aconteceu num clima de
euforia e otimismo. Não que o povo gritasse “#quero Temer”, mas o “#fora Dilma”
fazia com que qualquer substituto fosse bem-vindo.
Esse entusiasmo,
entretanto, foi efêmero. Logo pipocaram acusações contra o novo presidente,
seus aliados e auxiliares mais diretos, todos suspeitos de envolvimento em escândalos,
negociatas e falcatruas do arco da velha. As duas primeiras partiram do então
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que denunciou o chefe do governo
por crimes de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da justiça,
no âmbito da Operação Lava Jato. Ambas foram barradas pela Câmara dos
Deputados, ficando assim impedidas de prosseguir no STF. Mas surgiram outras
graves incriminações, feitas pela Polícia Federal, que indiciou o presidente por
lavagem de dinheiro e corrupção. Tudo isso estará paralisado, enquanto Temer
estiver no cargo. Depois, só Deus e a Justiça saberão como agir.
Esses e outros rolos
contribuíram para que, a certa altura, com apenas 7% de aprovação, Temer fosse
considerado o presidente mais impopular desde a redemocratização do país, e o
mais rejeitado do planeta.
Se em termos éticos o
governo Temer sofre questionamentos, o mesmo não se pode dizer com relação à
sua performance administrativa. Não fez maravilhas, mas realizou um básico
satisfatório. Entre os seus méritos, reconhecidos até por seus adversários,
estão o controle da inflação, a queda da Taxa Selic e a reforma do ensino médio.
Há quem inclua nesse rol a reforma trabalhista e a PEC do Teto (que estabelece
limites para os gastos públicos pelos próximos 20 anos), mas quanto a isso as
opiniões se dividem.
Em recente entrevista
concedida à revista Época, Temer emitiu algumas afirmações e considerações
interessantes. Disse que ninguém fez mais do que ele por estados e municípios.
Lembrou também que, após assumir, o PIB cresceu de 6 pontos negativos para 1
ponto positivo, “ou seja, caminhamos 6,9 em um ano e meio”. No seu
entendimento, os livros de história o tratarão primeiro como um “injustiçado” e
depois como um estadista. Mas, ao ser indagado se acreditava que os brasileiros
sentiriam falta de seu governo, respondeu:
“Espero que não. Porque se sentirem falta, é porque o próximo será ruim, e não
quero isso”.
Um dos presentes na
entrevista lembrou uma frase de Fernando Henrique Cardoso, segundo a qual o
governo Temer não era uma “ponte para o futuro”, como dizia o MDB, mas sim uma
pinguela, que corria o risco de quebrar. O presidente rebateu: “atravessei soberanamente a pinguela.
E ela se revelou uma ponte vigorosa”.
No esporte, é normal
um atleta passar maior parte do tempo recebendo vaias, e se consagrar nos
momentos finais da competição, fazendo uma jogada de gênio. Temer parecia
caminhar nessa direção, até que novamente pisou na bola com a opinião pública,
sancionando o reajuste salarial de 16,38% para ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF) e para o procurador-geral da República. O tempo é curtíssimo, mas
ele ainda tem chance de ficar bem na foto. Afinal, o jogo só termina com o derradeiro
apito, e, segundo os sábios, a última impressão é a que fica. Basta saber
produzi-la.