segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

PEITOS & BUNDAS

                                                                           

Mesmo fiel à criação, o corpo feminino continua centralizando atenções, como se fosse um eterno fato novo.
           A fixação é antiga, justa e certamente interminável.
Até há pouco tempo, entretanto, a timidez, a censura, os preceitos religiosos e o falso pudor impediam que a mulher exibisse a plenitude e a exuberância de seus dotes. Tudo constituía tabu.
Vestidos colantes, saias curtas e decotes generosos eram coisas raras, vistas quase só no cinema.
Extremamente comportados, os maiôs que desfilavam nas praias e piscinas impediam a segura conferência de seu precioso conteúdo.
Uma cruzada de pernas mais sensual talvez fosse a forma mais arrojada de ostentar predicados.
Nas raras revistas masculinas, tipo Playboy, o nu frontal ficava por conta da imaginação.
Dissertar sobre as partes íntimas da mulher, sem dissimular, só escritores renomados e autores de livros técnicos especializados podiam fazê-lo. Os demais tinham que recorrer a metáforas ou a comedidos sinônimos. Qualquer termo explícito poderia significar palavrão ou agressão aos bons modos.
Eis que surge a pílula anticoncepcional, marcando o início da liberação sexual.
Livre e solta para direcionar sua vida, a mulher optou por curtir a sexualidade, na plenitude. Ao mesmo tempo, percebeu que não mais havia razões para esconder atributos físicos. O belo é pra ser mostrado; quem não gostar, feche os olhos.
Assumiu o direito de posar nua, estrelar filmes pornôs, participar do Miss Bumbum, do Garota Popozuda, do Mulher Melancia e de fazer o que mais lhe desse na cuca. Quebrou paradigmas e passou a ousar no modo de vestir e de agir.
Já que liberou geral, todo mundo se sentiu em condições de dar pitaco no comportamento da mulherada. O que antes era motivo de recato e privilégio de poucos, caiu no domínio popular.
Aproveitando a deixa, o ator Antonio Fagundes resolveu turbinar a antologia “bundista”. Com a autoridade de um sessentão que surfa na fama de mulherengo, entende que as mulheres não deveriam colocar silicone nos seios. “O homem brasileiro não gosta de peito. A gente gosta de bunda”, disse ele em entrevista à revista “Quem” (julho/2012).
A grande maioria concordou, como era esperado. Afinal, a anatomia glútea feminina é idolatrada, desde quando Eva agitou o Paraíso, com o primeiro rebolado. 
           No Brasil, sob o nome de nádegas, traseiro, fundilhos, bumbum e outros vocábulos, tem sido cantada em verso e prosa. Chegou a ponto de ser homenageada pelo genial Oscar Niemeyer, que, no projeto do arco do Sambódromo carioca, se inspirou numa bunda com biquíni e fio dental.
           Não é fácil, porém, escolher entre pomos e calipígio. Ambos são extremamente atraentes, e o que vale é o conjunto da obra. Mas, para prestigiar Fagundes, e lembrando o célebre Nelson Rodrigues, "se um dia a vida lhe der as costas, passe a mão na bunda dela”. Com todo respeito! 

Revista “Mais Mais PERFIL Mulher”
Edição de dezembro/2012

 

 

 

sábado, 22 de dezembro de 2012

EX-NATAL


             Os calendários se sucedem, a imaginação ganha asas, mudanças acontecem e, nessa frenética evolução, as tradições se abatem, sepultando sonhos e fantasias.
            Em quase todo o mundo o Natal está virando uma época cada vez mais mercantilista, mais consumista e menos reflexiva.
            Está de tal forma vinculado à troca de presentes e a tantos símbolos, que muitos acreditam estar celebrando o aniversário de Papai Noel, não o nascer do Menino Jesus. Parece que a sociedade desaprendeu e vive momentos de ex-Natal.
            Isso faz lembrar o tempo em que os artigos encontrados nas vitrines eram mais simples e escassos, requerendo criatividade e imaginação de quem queria dar presentes.
Carrinhos de madeira, bonecas de pano e outros brinquedos feitos por pais, avós e tios sempre estavam entre as preferências da meninada.
Sem grana e sem muita escolha, o jeito era tentar unir o útil ao agradável, presenteando roupas, calçados, materiais escolares e outras coisas que ao mesmo tempo seriam úteis.
Nos lares, a ceia natalina, mesmo farta e saborosa, tinha um cardápio modesto, sem grandes iguarias. Quase restrita a familiares, era antecedida de uma prece de agradecimento.
Mais crédulas, as crianças iam cedo para a cama, após colocar seus sapatos nas janelas, atrás das portas ou próximos ao presépio. Dormiam confiantes em que Papai Noel, a bordo de seu trenó puxado por renas, viria deixar os presentes que alegrariam a manhã seguinte.
Tempo fantasioso e místico, quando os sentimentos de solidariedade emergiam em toda a sua amplitude, como se quisessem pôr fim às desigualdades sociais, mais visíveis no período natalino.
Por sorte, alguns bons costumes resistiram ao tempo.
O Natal ainda é o grande motivo para reunir a família, confraternizar com amigos, colegas de trabalho, fornecedores, clientes e tantos outros. Ajudar ao próximo continua sendo a preocupação dos mais sensatos.
Nada contra a troca de presentes, nem que isso concorra para alavancar o comércio. Faz parte do jogo e até merece incentivo. Mas não deve se sobrepor à essência da celebração.
Melhor seria transformar as práticas de ocasião em ações desenvolvidas no decorrer do ano. Isso para que o Natal deixe de ser um momento de polarização social, quando uns mostram ter muito e outros nada. Período em que os ricos curtem momentos iluminados e felizes, enquanto, os pobres amargam tristeza e solidão.
Que seja a oportunidade de os poderosos assumirem sua cota de responsabilidade na tarefa de inclusão social dos humildes e necessitados. Só assim haverá paz de consciência para se pensar em Feliz Natal.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

PRINCÍPIO DO FIM

De Etelmar Loureiro
Diário do Rio Doce - 20.12.2012
 
          Como se não bastassem os transtornos provocados pelas inúmeras catástrofes e guerras com que já convive, a resistência humana ainda tem que administrar a tensão resultante das repetidas ameaças de fim do mundo.
As profecias são antigas e recorrentes. Existem desde o começo da humanidade; todos deveriam estar acostumados. Entretanto, sempre que se repete, a ameaça é motivo de agitação e sobressaltos, sobretudo por parte dos que costumam deixar tudo pra última hora. É um corre-corre sem tamanho, na tentativa de resolver em um só tempo o que foi negligenciado a vida inteira.
Nova catástrofe entrou na ordem do dia. O término do ciclo Maia deu origem à previsão de que o mundo acabaria amanhã (21), com o choque entre a Terra e o planeta Nibiru. Segundo a Nasa, a possibilidade de que isso aconteça é tão grande quanto à de José Dirceu chegar a ministro do Supremo Tribunal Federal.
Mesmo assim, tem muita gente na base do “yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”.
            Os dirigentes do Atlético mineiro, por exemplo, para que seu time não acabe no prejuízo total, colocaram à venda o passe de Ronaldinho Gaúcho, pela metade do preço. O Grêmio se interessou, mas só paga em prestações, com dois meses de carência.
            Outro Ronaldo, o fenômeno, faz tudo para recobrar o tempo e o peso perdidos na dieta da Medida Certa: devora qualquer coisa que lhe ofereçam. Não quer sair franzino desta vida.
            Entre os políticos, o deputado Paulo Maluf tenta, por todos os meios, acomodar-se em uma das naves que hoje decolarão rumo ao espaço, onde permanecerão até o término do apocalipse. Por uma vaga, paga qualquer preço, desde que aceitem cheque pré-datado.
            Com a intenção de aplacar mágoas passadas, Fernando Collor pretendia levar lembrancinhas para o irmão Pedro, o escudeiro PC Farias e outros cupinchas que já se foram. Mudou de ideia quando soube que apenas no céu é permitido entrar com presentes.
            Inconformado, Sarney reclama do destino, brandindo que vai sob protesto. Acha absurdo ser destronado do feudo maranhense e despojado do mandato de senador, de forma tão prematura.
            Os condenados do mensalão, mesmo tristes com o desfecho, exibem um sorriso de vingança: Joaquim Barbosa ganhou, mas não leva.
            Numa autêntica jogada de marketing, Dilma Rousseff promete um pronunciamento de despedida, na noite de hoje, quando anunciará o PAC Ressurreição.
            Quem ainda não esboçou qualquer reação é o ex-presidente Lula. Parece que ele não sabe da profecia.
Enquanto alguns se exasperam, outros estão “nem aí” para o prognóstico. Alinhados com os economistas, confiam em que o fim do mundo não inclui o Brasil, porque o país não tem estrutura, nem recursos para receber um evento deste porte.
Mais realistas, outros ficam com o Macaco Simão, para quem "brasileiro não tem medo do fim do mundo em 2012, tem medo do fim do mês. Fim do mês é o fim do mundo em parcelas”.
Pelo sim, pelo não, é melhor jogar com as duas hipóteses.   Se amanhã nada acontecer, a vida seguirá seu curso normal, ancorada no salutar princípio de um fim cada vez mais lento e gradual. Se o mundo de fato acabar, bom será assistir à cobertura completa, no Fantástico do próximo domingo. Até lá!

 

 

                       

           

           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

CONTAS SEM FUNDOS

            Todo banco comercial é depositário de uma ou mais contas cujo saldo devedor nunca consegue apurar. Sempre que está prestes a fazê-lo, aparecem novos cheques sem fundos dos titulares, botando todo o trabalho a perder.
            Guardadas as devidas proporções, o Brasil se assemelha a um grande banco, em que a vida pública é a conta-corrente movimentada por agentes de governo, políticos e empresários. Nela se escrituram as ações, atitudes, comportamentos e tudo o mais que tenha reflexos nos destinos do país.
            Essa conta tem estado sempre no vermelho, com tendência de se tornar cada vez mais negativa. Os lançamentos de frequentes escândalos superam em muito os de honestas realizações, provocando enorme defasagem entre o lícito e o ilícito. Parece uma conta sem limite, mal controlada, da qual muitos possuem senha e dela se utilizam à vontade. Difícil, assim, dimensionar o rombo, sem saber se ou quando acontecerá novo desfalque.
            Veja-se o caso do mensalão, que parecia ser o ápice da falcatrua. Atingindo a fina flor do poder, ninguém poderia imaginar que algo mais chocante viesse à tona, pelo menos numa rápida sequência.
            Ledo engano. Antes mesmo de o Supremo Tribunal Federal (STF) concluir seu julgamento, o “affair” adquiriu outra dimensão, com a divulgação de denúncias feitas pelo publicitário Marcos Valério à Procuradoria Geral da República, tentando envolver o ex-presidente Lula no plano criminoso. As acusações são gravíssimas.
A essa altura, já estava na mídia mais um escândalo republicano. Era a Operação Porto Seguro, deflagrada pela Polícia Federal para desarticular uma organização criminosa que se dedicava a obter pareceres técnicos fraudulentos em benefício de interesses privados. Talvez passasse despercebida, não fosse o fato de alcançar importantes figuras do governo, inclusive a servidora Rosemary de Noronha, chefe do escritório regional da Presidência da República em São Paulo e protegida de Lula. Há muito o que explicar, em casa e à nação.
            Esses novos casos prometem desdobramentos, pois alguns acusados não querem pagar o pato sozinhos: ameaçam abrir o jogo.
            Equivale dizer que a temporada de escândalos está longe de se encerrar e que a conta-corrente oficial permanecerá escancarada.
            Resta observar que correntista bancário tem CPF, identidade e endereço, sendo fácil responsabilizá-lo por seus atos. Na vida pública, os contraventores costumam não deixar rastros, não emitem recibos e, quando descobertos, têm por praxe negar seus erros ou nunca saber de nada. Pra esses, só cadeia!

domingo, 9 de dezembro de 2012

MÉRITOS E DEMÉRITOS


          Por definição da Wikipédia, “datas comemorativas são as escolhidas para relembrar eventos históricos, conquistas importantes ou lutas que ainda estão sendo travadas por um grupo. Muitas delas possuem alcance internacional, enquanto outras podem ser especificas para um país ou região”.
No Brasil, por excesso de bondade, politicagem, interesses escusos ou até por justo reconhecimento, o calendário de celebrações é dos mais pródigos. Abrange acontecimentos históricos, folclores, personalidades, marcos geográficos e muito mais, nem sempre por mérito. Se cumprido à risca, a festança seria interminável; não sobraria tempo para o trabalho. Para se ter ideia, só no dia de hoje há pelo menos sete datas passíveis de comemoração. Em dezembro, esse número chega a quase meia centena. Ainda bem que feriados e pontos facultativos são restritos a não muitas ocasiões. A grande maioria fica na condição de simples figurante de folhinha.
 Mesmo assim, há exageros, demagogia, futilidade e muita falta do que fazer.
           Sem falar no despropósito dos dias consagrados aos mais diversos “orgulhos” e “consciências” que, no afã de reverenciar, acabam aprofundando preconceitos.
           Mas existem ocasiões dignas de comemoração. Aquelas que, nascidas  da sensatez, despertam sentimentos e fazem refletir sobre sua razão de existir. Uma dessas transcorre hoje, sob o rótulo de Dia Internacional contra a Corrupção.
            Foi instituída por proposta da delegação brasileira participante da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, assinada por diversos países, na cidade mexicana de Mérida, em 09 de dezembro de 2003. O objetivo foi fortalecer a cooperação internacional para ampliar a prevenção e o combate à corrupção no mundo.
            Os países subscritores se obrigaram a cumprir seus dispositivos, sob pena de sofrerem pressão da comunidade internacional.
            Neste ano, a data coincide com o momento em que o Brasil apresentou modesta, mas, ainda assim, estimulante melhora de colocação no ranking global de percepção da corrupção. Passou para 69º lugar entre 176 países pesquisados, evoluindo quatro preciosas posições. Os dados são da ONG Transparência Internacional (TI), revelados na última quarta-feira (05).
            Nas palavras de Alejandro Salas, diretor da TI para as Américas, a corrupção é algo que sempre existiu, não surgiu agora. É um problema endêmico, mas tem havido uma ligeira recuperação ao longo dos últimos dez anos. Segundo ele, se o Brasil continuar no caminho atual, com mudanças na lei e castigos aos corruptos, haverá uma evolução positiva, refletida no ranking a partir de 2013.
            Fica a esperança de que, no futuro, em lugar do Dia Internacional contra a Corrupção, o país e o mundo possam celebrar o Dia Internacional da Honestidade. Seria bem mais gratificante.
 

domingo, 25 de novembro de 2012

DIGNIDADE INCOLOR

            Num país em que os homens públicos não costumam se destacar pela decência, pela ética e pelo cumprimento do dever, é normal a consagração dos poucos que fogem a essa regra.
            É o caso de Joaquim Barbosa, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), que, de um momento para outro, se transformou em super herói, paladino da lei e depositário das grandes esperanças nacionais. Seu nome tem sido cogitado para as mais diferentes missões, de secretário de Segurança Pública em São Paulo a presidente da República.
            Isso se deve praticamente à sua brilhante performance como relator do processo “mensalão”, em final de julgamento na Suprema Corte. A competência e a coragem com que vem se comportando lhe têm garantido os mais entusiásticos elogios. Graças a ele, o país tem assistido, com indisfarçável surpresa, à condenação de figurões que surrupiaram dinheiro público, certos de que jamais seriam punidos.
            Não só isso contribuiu para o surgimento desse novo ídolo. Sua trajetória de vida, marcada pela humildade e pelo mérito com que conquistou suas vitórias, também influiu.
           O prestígio de Barbosa ficou evidente na solenidade de sua posse como presidente do STF, na última quinta-feira (22). Ali estiveram cerca de 1500 convidados, inclusive a presidente Dilma Rousseff, que, por sinal, não conseguiu disfarçar os ares de palmeirense fanática, no dia em que o verdão foi rebaixado.
            Numa espécie de acaso programado, o evento aconteceu na chamada Semana da Consciência Negra. Isso fez com que muitos tentassem lhe atribuir a conotação de homenagem à comunidade afrodescendente, à qual pertence o empossado.        Tudo devido à crença de que Barbosa só chegou ao STJ graças a um lance de genialidade ou benevolência do ex-presidente Lula, interessado em tornar-se o primeiro presidente a levar um negro à mais alta corte de Justiça do país. De quebra, teria ali mais um aliado serviente, pronto para colocar panos quentes nas questões que comprometessem companheiros.
            Mas o tiro saiu pela culatra. Uma vez que não necessitou de cotas raciais ou favores para se tornar advogado e jurista de renome, Barbosa tem agido com firmeza, independência e honradez, mostrando que homem de bem não tem cor, tem caráter.
            No seu discurso de posse, entre outras pérolas, afirmou que “a noção de justiça é indissociável da noção de igualdade. Quando se associam justiça e igualdade, emerge o cidadão”.
            Palavras eloquentes, indicativas de que ele chegou onde está não por ser negro, mas por ser digno.

sábado, 17 de novembro de 2012

QUESTÃO DE PREFERÊNCIA

    

           Num país onde o tapete costuma ser utilizado para encobrir erros, omissões e incompetências governamentais, chega a ser alentador o fato de alguma autoridade admitir deficiências de determinado setor público. Fica, quando nada, a ilusão de que, diagnosticada a conjuntura, medidas corretivas serão finalmente adotadas.
            Assim poderiam ser interpretadas as recentes declarações do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no sentido de que "temos um sistema prisional medieval, que não só desrespeita os direitos humanos como também não possibilita a reinserção". Sem rodeios, afirmou: "se fosse para cumprir muitos anos na prisão, em alguns dos nossos presídios, eu preferiria morrer".
            Retratando uma dura e antiga realidade, o pronunciamento de Cardozo teve grande repercussão. Estranhou-se, entretanto, sua coincidência com o momento em que vários políticos e empresários brasileiros estão sendo julgados e condenados a longas penas, por graves delitos cometidos.
            No Supremo Tribunal Federal (STF), onde o assunto provocou controvérsias, o ministro Gilmar Mendes, com ar crítico, disse louvar as palavras do ministro da Justiça, mas lamentou  “que ele tenha falado isso agora, porque esse é um problema desde sempre”.
Na mesma Corte, o oportunista ministro Dias Toffoli se apegou à tese, para defender que os réus do “mensalão” recebam multas maiores e menor tempo de prisão. A seu ver, eles apenas cometeram desvios com intuito financeiro, sem atentar contra a democracia. “Era o vil metal. Que se pague com o vil metal”, argumentou.
            Daí por que muitos enxergam no pronunciamento de Cardozo uma descabida – mas nem por isso descartada – preparação de terreno para melhor hospedar os “cumpanheiros” que estão a caminho do xadrez. Ainda bem que, nesse caso, bateria de frente com o implacável ministro Joaquim Barbosa, relator do processo, para quem os “mensaleiros” não terão direito a prisão especial, regalia a que só faz jus quem esteja cumprindo prisão provisória.
            Afora isso, ao dizer que preferiria morrer a ficar preso por anos, o ministro estaria dando a entender que, para os criminosos, melhor seria trocar tiros com a polícia, até a morte, do que se submeter às agruras do cárcere prolongado.
            Sem falar na possibilidade de estar estimulando revoltas em prisões de todo o país, promovidas por prisioneiros que se sentirão injustiçados e no direito de cobrar melhores condições para cumprir suas penas.
            Pelo visto, Cardozo perdeu uma boa oportunidade de ficar calado.
            Melhor teria sido ele visitar hospitais públicos, escolas oficiais e rodovias nacionais, para ver que superlotação, precariedade, degradação, insegurança, abandono e outros absurdos não são privilégios dos presídios. A diferença é que a maioria dos brasileiros que ali sofrem e até morrem não têm escolha e são de boa índole.
            Certamente, Sua Excelência mudaria o discurso, para dizer aos contraventores que, a morrer ou ser confinado no presídio, é preferível respeitar a lei. Bem mais sensato!

domingo, 11 de novembro de 2012

APOTEOSE FINAL


            Mesclando resultados previsíveis e algumas indisfarçáveis surpresas, 2012 passará à história como sendo um ano de importantes decisões eleitorais.
           Em vários países estratégicos, as populações elegeram novos mandatários, envolvendo mudanças que poderão contribuir para solução ou agravamento de problemas próprios ou mundiais.
            Ainda em março, confirmando previsões, Vladimir Putin conquistou pela terceira vez a presidência da Rússia, com a promessa se dedicar à modernização da economia e ao avanço tecnológico do país.
            A primeira grande surpresa aconteceu na França, onde nem a condição de marido de Carla Bruni evitou que o conservador Nicolas Sarkozi fosse derrotado pelo socialista François Holland, numa troca de seis por meia dúzia.
            No México, a mudança foi radical. O Partido Revolucionário Institucional (PRI), que já comandara o país por mais de sete décadas, retomou o poder que há doze anos estava nas mãos de seus opositores. A vitória ficou com Enrique Peña Nieto, herdeiro de uma dura batalha contra os cartéis de traficantes de drogas que fizeram do México um covil de violência.
            Lastimável foi o desfecho eleitoral venezuelano, onde o indefectível Hugo Chávez reelegeu-se para mais um mandato de seis anos. Se viver para cumpri-lo, somará vinte anos na presidência da Venezuela.
            A movimentação no Brasil girou em torno das eleições municipais, vistas como uma largada para o pleito de 2014.  Por mais que os adversários tentem minimizar, a grande façanha coube a Fernando Haddad,        o desacreditado concorrente que ganhou a prefeitura da cidade de São Paulo. Pouco interessa se o mérito é do ex-presidente Lula, que, com habilidade e prestígio, conseguiu erguer o segundo “poste” no cenário político nacional. O importante foi assumir o comando da maior e mais importante cidade do país, vislumbrando, quem sabe, a possibilidade de esse “poste” se tornar mais luminoso em 2018.
            Mas a apoteose ficou por conta da reeleição de Barack Obama, com mais de 60 milhões de votos.  Os americanos deram ao mundo mais um dignificante exemplo de maturidade política e civilidade, exercitando em grande escala o direito de votar, ainda que a isso não estivessem obrigados. Os candidatos, por sua vez, demonstraram classe e categoria, respeitando-se mutuamente, antes e depois da contenda. O republicano Mitt Romney, candidato derrotado, foi um adversário difícil, a ponto de valorizar o resultado. Quanto a Obama, sempre cativou, não apenas como presidente dos Estados Unidos, mas pelo seu modo carismático de agir, simples, cordial, afetuoso, rigoroso ou condescendente, na medida certa. Sua vitória foi a vitória do equilíbrio e da razão. “Vocês votaram por ação, não pela política de sempre. E tendo ou não recebido seu voto, eu ouvi vocês, aprendi com vocês. E vocês me fizeram um presidente melhor”, disse ele, já na condição de vencedor. Em seguida, acrescentou que “somos maiores do que a soma de nossas ambições individuais e continuamos maiores do que uma coleção de estados vermelhos (republicanos) e azuis (democratas). Somos, e para sempre seremos, os Estados Unidos da América”. O mundo aplaudiu!

domingo, 4 de novembro de 2012

PARTIDO EM ALTA

           
Passadas as eleições, é normal que os eleitos deixem o gramado e se recolham às suas tocas. Vão se refazer das refregas de campanha, rever planos de trabalho, formar equipes, costurar alianças políticas, enfim dar os últimos retoques no “modus operandi” que irão adotar a partir da posse.
Enquanto isso, os analistas políticos entram em campo, para medir os resultados do pleito.
Vitórias, derrotas, alterações de cenários e comportamentos políticos, tudo se torna alvo de especulações e das mais diferentes opiniões. Cada um tem sua forma de retratar cenários e de interpretar resultados.
Num ponto todos estão de acordo e preocupados, inclusive o Tribunal Superior Eleitoral (TSE): a representação política que mais cresceu nos últimos anos foi o imaginário Partido dos Brasileiros Revoltados (PBR), formado pela turma que votou em branco, anulou o voto ou se absteve de votar. No segundo turno, a legenda somou mais de 26 por cento do eleitorado, batendo o recorde alcançado no pleito 2000. Conquistou um em cada quatro eleitores.
De fato, nas últimas eleições municipais, nunca houve tamanho desinteresse por uma disputa eleitoral. E não adianta querer jogar a culpa no julgamento do “Mensalão”, nas lutas MMA, nas pífias exibições da Seleção Brasileira ou nas novelas da Globo. A questão é que o nosso sistema político apresenta nítidos sinais de exaustão. O povo não mais suporta conviver com dezenas de partidos, muitos deles de aluguel, mantidos para negociação de cargos públicos e de espaço no horário eleitoral, afora outras razões inconfessáveis. Também não admite que os cargos políticos permaneçam como o emprego mais bem remunerado e sujeito à menor jornada de trabalho, a serviço de malandros de toda estirpe.
A abstenção, embora também indicativa do desinteresse popular, ainda permite uma análise mais condescendente, pois incluiu doentes, brasileiros que estavam no estrangeiro, maiores de setenta anos, e outros impedidos ou desobrigados de votar.
Preocupantes, entretanto, são aqueles cujo “tô fora” (nada a ver com Toffoli) foi decidido frente a frente com a urna. Este, sim, o protesto mais contundente.
São fatos incontestáveis, dignos de profunda reflexão.
Pelo visto, as coisas só irão se modificar quando o eleitor puder usufruir de um novo modelo político. Isso depende da grande reforma institucional há muito reivindicada e sempre postergada pelas autoridades nem sempre responsáveis.
Parece que a dificuldade tem sido confiar uma missão séria a políticos que não merecem a menor confiança. Compreensível!







terça-feira, 30 de outubro de 2012

GUERRA É GUERRA

            Alcançou boa repercussão no cenário mineiro a notícia de que o governador Antonio Anastasia decidiu reagir à política de concessão de benefícios tributários praticada por Rio e Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Tocantins e outras unidades federativas.
            Em clima de guerra fiscal, esses estados estariam reduzindo o Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de vários artigos, o que torna os produtos de Minas mais caros e menos competitivos.                       
            Para contornar o problema, Anastasia encaminhou à Assembleia Legislativa mensagens que contemplam a criação de Regimes de Tributação Especiais para o ICMS, abrangendo onze setores ou itens fabricados em Minas. Ele acredita que isso atrairá muitas empresas, gerando empregos e desenvolvimento.
            A iniciativa não é nova. Em 2009, quando governador, também Aécio Neves reduziu o ICMS e concedeu a novas indústrias benefícios fiscais semelhantes aos dados por outros estados. Naquela época, a medida foi uma resposta à política do Rio de Janeiro, que, amparado na chamada Lei Rosinha, havia feito grande abatimento de alíquotas, atraindo para terras fluminenses empresas alojadas em território mineiro.
            Explicando-se, Aécio disse que “tomei uma decisão política de reação. Não poderia permitir que essa perversa guerra fiscal continuasse tirando empresas e empregos de Minas, em especial da Zona da Mata”.
            O fato é que a concessão de benefícios fiscais é arma a que todo administrador público costuma recorrer. Há sempre uma saída, um pretexto para acioná-la, mesmo quando pouco ortodoxa ou irregular.
            Os incentivos, especialmente os tributários, são a moeda de troca utilizada pelos que se interessam por investimentos. Sua vantagem é que, a rigor, não acarreta perda de receita, graças à vinda de outras empresas para o território abrangido. A queda de arrecadação acaba sendo compensada pelo incremento na circulação de mercadorias, afora o ganho na geração de empregos, rendas e desenvolvimento.
            A existência de leis reguladoras desse instrumento proporciona benefícios recíprocos. Vai ao encontro dos anseios das comunidades desejosas de progresso e dos empresários que pretendem alavancar seus negócios, com vantagens para todos.
            Tudo faz crer que a atitude de Anastasia terá sucesso; não há razão para imaginar o contrário. Dela deverão se aproveitar os municípios mais bem preparados para conservar os atuais e receber novos empreendimentos. Isso inclui boa estrutura urbana, além de representatividade econômica, social e política coesa, disposta a lutar por uma fatia do bolo. Mas o que pesará, mesmo, é a vontade política de fazer concessões, de dar, para receber. Lembrando que o tempo corre célere e que há sempre um concorrente ágil, mais dado a generosidades. Mãos à obra!

ÁGUA DA FUZARCA


            A contaminação da água do Rio Doce voltou a incomodar. O problema permanece insolúvel, e há indícios de que poderá repetir-se, indefinidamente.
Por mais que atestem a boa qualidade do produto, ninguém se dá por convencido. Até porque o odor e o sabor continuam diferentes e inaceitáveis, dificultando seu consumo e provocando justificadas preocupações em relação aos efeitos colaterais que dele poderão advir.
Na avaliação cotidiana, ora ela tem cheiro de gambá, ora de rato morto, ora de gambá que comeu rato morto; não há consenso.
Nos lares, hospitais, consultórios, restaurantes, bares, hotéis, escritórios, na Casa da Mãe Joana, onde quer que seja, a repulsa e o receio são constantes. 
 Quem tem alternativa não a bebe, não a utiliza no preparo de alimentos, no banho ou em outras formas de higiene pessoal, nem mesmo na lavagem de roupas. Os mais exagerados chegam a ponto de usar água mineral na limpeza de carros, temendo manchas na pintura. Isso apesar dos vários pronunciamentos oficiais, afirmando que, depois de tratado, o líquido não oferece risco à saúde.
O que importa, entretanto, é a opinião pública, a voz do povo. E ela está dividida entre os que imaginam ser a água imprópria para o consumo e os que têm absoluta certeza disso.
A corrente mais otimista entende que há exagero: os males não irão além de uma forte diarreia, acompanhada de vômitos, desidratação, dores de cabeça e febre convulsiva, tudo besteira. Doença mais grave só aconteceria após o décimo mês de consumo ininterrupto.   
Os pessimistas, entretanto, não têm dúvidas de que há risco de gastrite crônica, cálculos renais, doenças hepáticas, envolvimento na política, conversão evangélica, et cetera. Mas se animam quando ouvem dizer que, no caso de improváveis tumores, só o estômago, o pâncreas, o fígado, a consciência, a competência e algumas outras partes menos importantes seriam atingidas.
Reafirmando a velha crença popular, parece estar surgindo uma luz no fim do túnel, que não seria uma locomotiva em sentido contrário.
Depois de consultados até técnicos da Nasa, alguém sugeriu fosse uma amostra da água enviada ao Doutor Dráuzio Varella, o especialista em generalidades que, além de desvendar os mais intrincados mistérios, tem conseguido milagres do tipo livrar fumantes do vício ou fazer com que ativistas do GLS retornem ao armário.
O gênio global já teria emitido seu relatório, ainda guardado sob sete chaves. É que, segundo bisbilhoteiros fidedignos, o diagnóstico foi mais surpreendente do se imaginava. O líquido, como está, pode realmente comprometer algumas partes do organismo humano, mas não os órgãos sexuais.
Além disso, ajudaria no combate ao alcoolismo, o tabagismo e a obesidade, na medida em que descontrola o paladar e o olfato dos consumidores, inibindo o uso de bebidas, cigarros e alimentos.
Mas a grande revelação, motivo do sigilo em torno das conclusões do Doutor Varella, é que a água, nas condições em que se encontra, teria predicados afrodisíacos, com efeito em ambos os sexos.
A divulgação só aconteceria a partir do momento em que o abastecimento estivesse normalizado. De preferência na temporada de férias, quando todos estarão ávidos por aquecer a libido e turbinar o desempenho sexual. A essa altura, já estrategicamente estocada, a água enriquecida por cianobactérias seria lançada no mercado, em garrafas coincidentemente “azuis”. Tudo para salvar os carentes de tesão, garantir a satisfação de quem curte o prazer, e fazer a alegria de muitos vendedores.
Melhor que seja verdade!

Texto publicado na revista
"Mais Mais PERFIL Acontecimento"
Edição de Outubro/2012
 

domingo, 21 de outubro de 2012

AJUSTANDO O RELÓGIO


            Grande parte do território nacional amanheceu sob novo horário. Sessenta minutos foram perdidos após a meia-noite.
            Hoje utilizado por cerca de 30 nações, o horário de verão teve sua origem na Inglaterra (1907), embora o primeiro país a adotá-lo tenha sido a Alemanha (1916). Em pleno conflito mundial, a economia de energia foi considerada importante esforço de guerra, diminuindo o consumo de carvão, principal fonte energética da época.
            No Brasil foi instituído em 1931, por Getúlio Vargas, mas só após 1985 tem ocorrido sem interrupção, nos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
            Em 2008 estabeleceu-se que a mudança de horário – antes definida por decretos anuais – acontecerá invariavelmente no terceiro domingo de outubro e terminará no terceiro domingo de fevereiro, a menos que coincida com o carnaval, quando o encerramento será adiado para o domingo seguinte.
            Sempre que colocada em prática, a medida volta a polarizar as opiniões em torno de sua conveniência e eficácia. Poucos se mostram favoráveis, enquanto a grande maioria se divide entre os que não gostam, os que odeiam e os que gostariam de “exterminar” os responsáveis por sua adoção.
            Para os opositores, o horário de verão só convém aos políticos, aos servidores públicos do alto escalão, aos aposentados, aos genros de sogro rico e aos malandros que não têm hora para sair da cama, entre outros.
            Os que cedo iniciam sua jornada de trabalho, os estudantes do turno matinal, seus pais, os que curtem a noite mas têm obrigações na manhã seguinte, estão entre os que mais abominam a medida.
            O grande questionamento tem sido em relação ao seu custo/benefício, ou seja, se a economia de energia justifica os transtornos causados à população.
            Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) – entidade responsável pela área –, a motivação para adotar esse instrumento no Brasil é a segurança do sistema, não predominando a economia de energia elétrica.
            No verão eleva-se o consumo, sobretudo em torno das 18 horas, quando as pessoas voltam aos seus lares e ligam luzes, televisores, chuveiros, etc., no momento em que a iluminação pública também é acionada. Esse súbito aumento da demanda pode desestabilizar o sistema elétrico.
            Com a iluminação natural ainda presente, o horário de verão permite que a entrada da iluminação pública seja retardada, de forma a não coincidir com a chegada das pessoas em casa, após o trabalho. Assim, o aumento da demanda se dá de forma mais gradual, melhorando a segurança do sistema, esclarece o ONS.
            Explicações à parte, o novo horário está em vigor e, gostando ou não, com ele teremos de conviver até zero hora de 17.02.2013.
            Ainda bem que, segundo velho ditado, “Deus ajuda quem cedo madruga”. Já é um consolo!

sábado, 13 de outubro de 2012

EMBLEMAS E VERDUGOS

      

            Um resultado que não seja bem analisado jamais contribuirá para o aperfeiçoamento do que se fez de positivo, ou para que se evitem as falhas cometidas.
            A reflexão vale para as mais diversas empreitadas, sobretudo aquelas que se repetem periodicamente.
            As últimas eleições municipais se inserem nesse contexto.
           Do modo como aconteceram, ficou claro que nossos políticos ainda têm muito que apreender.
Pra começar, viu-se uma oposição desarticulada, fragmentada, que pouco evoluiu na forma de competir. Permaneceu presa a um processo anacrônico, onde a vaidade e o orgulho prevaleceram sobre a inteligência e o bom senso. De forma egoísta, preferiu decompor-se em vários grupos concorrentes, a aglutinar-se em torno de um nome capaz de polarizar; e esse nome mostrou que existia. A consequência foi um canibalismo selvagem, desmedido e predatório, na disputa da mesma fatia do eleitorado. Sem segundo turno, o resultado só poderia ser o naufrágio melancólico e solidário. Bom para a prefeita Elisa Costa, que, graças à fidelidade de boa parte de seu eleitorado, obteve previsível e inédita reeleição. Não foi tão bem votada quanto no pleito anterior, mas venceu; é o que importa!
Não menos emblemáticos foram os quase 53 mil eleitores que votaram em branco, anularam seus votos ou simplesmente deixaram de comparecer às urnas, com abstenções em torno de 45 mil. O total é superior à votação alcançada por quaisquer dos candidatos, denotando que a maioria reprovou todos eles.
Outro aspecto marcante foi a renovação no plantel da Câmara Municipal. O eleitor preferiu escalar novos valores, esperançoso de acabar com a apatia, o comodismo e a ineficiência a que se entregou o legislativo. E parece que o critério surtirá efeito. Há novatos dignos de confiança, em meio a veteranos de boa qualidade; a miscelânea promete.
A grande lição, entretanto, ficou por conta das promessas de campanha.
Pelo visto, há unanimidade em torno das necessidades locais, concentradas nas áreas de saúde, educação, saneamento, segurança, transporte e desenvolvimento. Todos assumiram compromissos nesse sentido, acenando com ideias e soluções que não raro dependerão de outras instâncias governamentais.
            A permanência no poder costuma favorecer o alcance de metas. Evita trocas de equipes, mudanças de orientação e outros caprichos capazes de prejudicar a continuidade das ações em andamento.  No caso local, ela tende a se tornar mais positiva, dado o vínculo da administração com o Governo Federal e seu aparente bom relacionamento com o Executivo mineiro. Resta verificar se os compromissos de agora serão honrados, ou voltarão como juras de campanha, nas eleições de 2014.
            Um velho provérbio português ensina que “três vezes na cadeias é sinal de forca”. Só nos faltam carrascos especializados!

sábado, 6 de outubro de 2012

DE FRENTE COM A URNA


          Abominadas por uns, ignoradas por outros, mas prestigiadas pela maioria, as eleições continuam sendo o grande ponto de convergência da opinião pública.
É a forma democrática pela qual alguns membros da sociedade são escolhidos para exercerem o poder que lhes é outorgado pelo povo, através do voto.
            Mesmo nos países onde o voto é facultativo, elas mobilizam as atenções populares, envolvendo acirradas disputas.
            No Brasil, se repetem a cada dois anos pares, ora para Presidente, Governadores Deputados e Senadores, ora para Prefeitos e Vereadores. Acontecem no primeiro domingo de outubro e, havendo segundo turno, no último domingo do mês.
            O voto é facultativo para os analfabetos, os maiores de 70 anos e para os que têm entre 16 e de 18 anos. Para os demais cidadãos é obrigatório.
            A partir do Século XVI, quando aconteceram no país as primeiras eleições, o corpo eleitoral sofreu significativas modificações. A principal seria o voto feminino, admitido a partir de 1932, na Era Vargas, depois de incansáveis lutas pela sua obtenção. Também significativo foi o direito de votar que os maiores de dezesseis anos conquistaram em 1988.
            O grande marco contemporâneo, entretanto, foram as eleições diretas realizadas em 1989, após mais de duas décadas de regime militar, época do sufrágio indireto.
            Em termos de comportamento, o processo político que deságua no referendo popular nem tanto evoluiu. Pelo contrário, parece que retrocedeu em relação às práticas passadas, quando havia um mínimo de coerência e idealismo no modo de agir dos candidatos e seus partidos.
            Nos tempos atuais, ninguém percebe que a atividade política só tem razão de ser se o candidato, no afã de alcançar o poder, demonstrar que pode desenvolver ações voltadas para o interesse público.
            Por isso, chegada a hora do pleito, muitos pensam em votar em branco, anular voto ou simplesmente não comparecer. É a forma de se rebelar contra as promessas enganosas, a incompetência, a falta de idealismo, o fisiologismo, as baixaria e outras excrescências constatadas durante a campanha eleitoral.
            Seria essa a decisão mais sensata, não fosse o risco de transformar-se naquilo que os contraventores da vida pública mais desejam. Na omissão dos que podem julgar se sustenta a vitória dos não merecem, sequer, a chance de concorrer.
            As eleições oferecem preciosa oportunidade de exercer-se a cidadania, e ninguém deve abdicar a esse direito. A legitimidade do processo político só será alcançada com a participação de todos.
            Além disso, segundo o célebre filósofo Platão, “o castigo dos bons que não fazem política é ser governados pelos maus”. Palavras de sábio!

sábado, 29 de setembro de 2012

RETA FINAL


Após exaustiva temporada de comícios, carreatas, passeatas, debates, horários políticos e outros incômodos, as eleições municipais entram na sua fase decisiva. Começa hoje a semana do vai ou racha, nas cidades que ainda não têm o privilégio do segundo turno. Entre elas Governador Valadares, onde o cenário seria perfeito para outra rodada. Mas ela não acontecerá, para tristeza do segundo colocado.
             Até agora, em termos locais, a campanha transcorreu de forma relativamente tranquila, apesar de algumas baixarias inerentes ao processo. Talvez porque os principais candidatos estejam razoavelmente nivelados em qualidades, promessas e preferência.
            Nada garante, entretanto, que esse clima perdure até o dia da votação. Na reta final, a luta pelo voto se torna mais aguerrida, abrindo espaço para um vale tudo nem sempre dos mais limpos.
Ninguém conhece as últimas cartas que todo candidato mantém na manga ou no bolso do colete. Entre elas a proibida – mas sempre praticada – “boca de urna”, já responsável por grandes “viradas” de última hora.
O momento eleitoral traz a esperança de renovação, de novas caras, novas ideias, novos projetos.
Entretanto, pelo que se viu durante a campanha, não são grandes as perspectivas de mudanças em razão das eleições do próximo domingo.
Mais uma vez, no geral, os candidatos estiveram empenhados em maquiar a realidade, para conquistar eleitores.
Ninguém exibiu um projeto de impacto, consistente, praticável e capaz de empolgar. O que mais se ouviu foram promessas repetitivas de ações pelas quais muitos já se comprometeram, nada fizeram e pedem outros quatro anos para realizar.
A esperteza, a retórica e o melhor marketing se destacaram mais que traços de seriedade e competência político-administrativa.
No corpo a corpo com o eleitorado, sobraram a cara de pau e a embromação que muitas vezes se escondem na falsidade de um abraço ou de um aperto de mãos.
Aproxima-se o momento da escolha. A chance de o cidadão agir com independência, soberania e, sobretudo, discernimento.
Sem se iludir com as qualidades proclamadas pelos candidatos, o eleitor deve apurar seu faro, para identificar os merecedores de voto.  Nada de prestigiar tarjas pretas, desocupados e oportunistas que tentam ou já conseguiram transformar o mandato político em “boca” vitalícia; é hora de renovar.
Existem os dignos de crédito, gente boa, bem intencionada e comprometida com o interesse público. Formam uma minoria, mas, com atenção e senso crítico, há como identificá-los. Vote neles!