domingo, 2 de novembro de 2014

NA ONDA DO MARKETING

           Abstraídos alguns avanços resultantes da modernidade, as eleições preservam suas características originais.
Na essência, continuam sendo uma disputa ferrenha e apaixonada entre candidatos a cargos políticos, raramente pautada pela ética e pela moral. Os objetivos permanecem os mesmos, variando apenas as formas de persegui-los.
O horário político obrigatório, os debates ao vivo e os vários recursos disponibilizados pelos meios de comunicação, sobretudo a internet, são boas amostras de como o processo evoluiu.
Antigamente, apoiada em instrumentos quase artesanais, a contenda era mais racional, branda e civilizada, ainda que não menos frenética.
Entretanto, mesmo mantendo algumas tradições, e por mais repetitivas que sejam, elas sempre produzem novidades e trazem ensinamentos.
No último pleito, por exemplo, ficou mais nítido que um bom candidato, um partido forte, boas coligações e uma fiel militância são importantes, mas não garantem a vitória. Quem quiser ganhar tem que também recorrer ao marketing, essa ferramenta mágica que se torna cada vez mais importante no cenário político. Sua influência é notada em todas as fases do processo eleitoral, inclusive depois do pleito, através de ações que contribuem para consolidar uma imagem positiva do vencedor.
Considerando que a regra vale para todos, o diferencial fica por conta da escolha do marqueteiro: não basta que seja bom, tem que ser o melhor.
Nesse quesito, o Partido dos Trabalhadores caprichou e não abre mão de uma velha aquisição. Há muito, mantém contratado João Santana, um dos mais talentosos consultores político brasileiros, com elevado prestígio internacional.
Pra se ter uma ideia de sua capacidade, Santana comandou o marketing vitorioso de várias eleições presidenciais, entre elas as de Lula da Silva (2006) e Dilma Roussef (2010 e 2014), no Brasil; Hugo Chávez (2012) e Nicolás Maduro (2013), na Venezuela; Mauricio Funes, em El Salvador; Danilo Medina, na República Dominicana; e José Eduardo Santos, em Angola. Esteve também à frente de inúmeras campanhas para governador, prefeito, senador e deputados no Brasil e na Argentina.
No pleito deste ano, ele e sua equipe deram um show de competência. Cuidaram de Dilma Rousseff, como se estivessem preparando uma noiva para casar-se com um rei.
Graças a essa assessoria, ela soube ser vigorosa e enérgica no ataque; habilidosa e cautelosa na defesa; teatral e articulada, quando queria se fazer de vítima; e convincente, até mesmo nos momentos em que era acusada de escamotear a verdade.  Além disso, conseguiu apossar-se das principais bandeiras levantadas pelos adversários, inclusive a de combate à corrupção. Nesse caso, Dilma teve jogo de cintura para se impor não como conivente, sim como inimiga número um dos corruptos, que, segundo disse, ela sempre combateu de forma implacável e intransigente. Enfim, bem orientada, desempenhou com êxito a arte de transformar limão em limonada.
Interessante é que Minas acabou sendo o local onde a eficiência marqueteira mais se fez sentir. Ela conseguiu que os mineiros dividissem quase irmãmente seus votos com Dilma e Aécio, sob o argumento de que o Estado seria de qualquer forma vitorioso, pois ambos eram naturais da terra. Só depois da votação perceberam que, além da Certidão de Nascimento, Dilma, de mineira, tem apenas o hábito de beber chimarrão. Já era tarde!

- Jornal de Domingo
- Diário do Rio Doce
- www.nosrevista.com.br