Abstraídos alguns avanços resultantes da
modernidade, as eleições preservam suas características originais.
Na essência,
continuam sendo uma disputa ferrenha e apaixonada entre candidatos a cargos
políticos, raramente pautada pela ética e pela moral. Os objetivos permanecem
os mesmos, variando apenas as formas de persegui-los.
O horário político
obrigatório, os debates ao vivo e os vários recursos disponibilizados pelos meios
de comunicação, sobretudo a internet, são boas amostras de como o processo
evoluiu.
Antigamente, apoiada
em instrumentos quase artesanais, a contenda era mais racional, branda e
civilizada, ainda que não menos frenética.
Entretanto, mesmo
mantendo algumas tradições, e por mais repetitivas que sejam, elas sempre
produzem novidades e trazem ensinamentos.
No último pleito, por
exemplo, ficou mais nítido que um bom candidato, um partido forte, boas
coligações e uma fiel militância são importantes, mas não garantem a vitória.
Quem quiser ganhar tem que também recorrer ao marketing, essa ferramenta mágica
que se torna cada vez mais importante no cenário político. Sua influência é
notada em todas as fases do processo eleitoral, inclusive depois do pleito, através
de ações que contribuem para consolidar uma imagem positiva do vencedor.
Considerando que a
regra vale para todos, o diferencial fica por conta da escolha do marqueteiro: não basta que seja bom, tem que ser o
melhor.
Nesse quesito, o
Partido dos Trabalhadores caprichou e não abre mão de uma velha aquisição. Há
muito, mantém contratado João Santana, um dos mais talentosos consultores
político brasileiros, com elevado prestígio internacional.
Pra se ter uma ideia
de sua capacidade, Santana comandou o marketing vitorioso de várias eleições
presidenciais, entre elas as de Lula da Silva (2006) e Dilma Roussef (2010 e
2014), no Brasil; Hugo Chávez (2012) e Nicolás Maduro (2013), na Venezuela;
Mauricio Funes, em El Salvador; Danilo Medina, na República Dominicana; e José
Eduardo Santos, em Angola. Esteve também à frente de inúmeras campanhas para
governador, prefeito, senador e deputados no Brasil e na Argentina.
No pleito deste ano,
ele e sua equipe deram um show de competência. Cuidaram de Dilma Rousseff, como
se estivessem preparando uma noiva para casar-se com um rei.
Graças a essa
assessoria, ela soube ser vigorosa e enérgica no ataque; habilidosa e cautelosa
na defesa; teatral e articulada, quando queria se fazer de vítima; e
convincente, até mesmo nos momentos em que era acusada de escamotear a
verdade. Além disso, conseguiu
apossar-se das principais bandeiras levantadas pelos adversários, inclusive a
de combate à corrupção. Nesse caso, Dilma teve jogo de cintura para se impor
não como conivente, sim como inimiga número um dos corruptos, que, segundo
disse, ela sempre combateu de forma implacável e intransigente. Enfim, bem
orientada, desempenhou com êxito a arte de transformar limão em limonada.
Interessante é que
Minas acabou sendo o local onde a eficiência marqueteira mais se fez sentir.
Ela conseguiu que os mineiros dividissem quase irmãmente seus votos com Dilma e
Aécio, sob o argumento de que o Estado seria de qualquer forma vitorioso, pois
ambos eram naturais da terra. Só depois da votação perceberam que, além da Certidão
de Nascimento, Dilma, de mineira, tem apenas o hábito de beber chimarrão. Já
era tarde!
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