Respeitada
a Lei, muita coisa poderia ser atendida através de portarias, decretos e outras
medidas a que o governo recorre, sem constrangimento, sempre que lhe convém.
Seriam
muito bem recebidas, por exemplo, a redução do número de ministérios e de
servidores neles pendurados, o corte na quantidade de parlamentares, a extinção
dos cartões corporativos e de outras vergonhosas regalias oficiais, afora mais
enxugamentos que contribuam para o equilíbrio nas contas do Tesouro.
Mas
o governo se faz de desentendido, não consegue alcançar ou, na pior das
hipóteses, ignora o recado das ruas.
Como
se quisesse desviar a atenção popular, preferiu tirar da gaveta uma reforma
política que adormecia em algum arquivo de Brasília. E tenta praticá-la através
de um plebiscito criticado até por petistas.
“Quem
pediu plebiscito? O que falta no governo Dilma é gestão. As pessoas querem
transporte de qualidade, saúde e educação. Dinheiro tem. É só investir”,
desabafou o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), reconhecendo que os protestos de
ruas tiveram outra motivação.
Em
nota assinada por Aécio Neves (PSDB), José Agripino Maia (DEM) e Roberto Freire
(PPS), os três maiores partidos oposicionistas disseram que “a iniciativa do
plebiscito, tal como colocada hoje, é mera manobra diversionista, destinada a
encobrir a incapacidade do governo de responder às cobranças dos brasileiros,
criando subterfúgio para deslocar a discussão dos problemas reais do país”.
Já
o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), acha que as medidas
propostas pela presidente estão sendo elaboradas com "açodamento" e
que é preciso "entender melhor esse novo Brasil que nasceu das ruas".
A
presidente Dilma Rousseff, entretanto, mostra-se convicta de que o plebiscito
será o meio adequado de escutar os brados da sociedade. Para ela, a melhoria da
representatividade passa pela participação popular.
Em
princípio, o Planalto quer que a população seja ouvida sobre financiamento de
campanha, sistema de votação, término dos suplentes no Senado, voto secreto no
Parlamento e fim das coligações partidárias.
Pelo
menos os leigos acham que essas questões não requerem um complexo e dispendioso
plebiscito. Até porque são facilmente presumíveis algumas opções do povo, como o
fim do voto secreto no Congresso e a extinção dos suplentes que se tornam
senadores, sem nunca terem sido votados. Pensam que a solução poderia vir de emendas
à Constituição.
A
polêmica é válida, pois a reforma política é tão importante e necessária quanto
a tributária e a administrativa; todas há muito reclamadas. Mas não convém que aconteçam
de forma apressada e casuística.
Não
se pode confundir urgência com precipitação, nem planejamento com improvisação.
O povo cobra atitudes e realizações, mas não aceita continuar pagando por equívocos,
omissões e caprichos político-administrativos. Chega!
Jornal de Domingo