sábado, 24 de setembro de 2011

DESAFIO Á CORRUPÇÃO

            A insatisfação é crônica, vem de longa data, mas permanecia adormecida no íntimo de cada cidadão.
          Apesar de amplamente divulgados pelos meios de comunicação, os escândalos republicanos já não despertavam tanta atenção. Desiludido com a falta de punição dos culpados, o brasileiro deixava o barco correr solto, assumindo o papel de mero espectador dos fatos.
          De um momento para outro, aconteceu o despertar. Desafiar e combater a corrupção tornou-se questão de honra, tarefa de todos.
         Demonstração nesse sentido foi dada nas recentes comemorações do Dia da Independência.
          Em Brasília, e em várias outras importantes cidades, manifestantes foram às ruas protestar contra a corrupção e clamar pelas melhorias e reformas de que o país necessita.
Interessante foi o caráter apartidário desses movimentos, sem espaço para que fossem utilizados como palanque de políticos ou líderes classistas. Até a presença de jovens aconteceu sem a demonstração de vínculos com a União Nacional dos Estudantes ou quaisquer outras entidades estudantis.
          A mobilização for convocada através das redes sociais, que se transformaram em excelente meio de congraçamento e difusão de idéias.
          Na última quarta-feira, também combinada via internet, outra manifestação de protesto aconteceu na Cinelândia, Rio de Janeiro. Quase três mil pessoas ali se reuniram, portando faixas e cartazes com dizeres contrários a qualquer tipo de corrupção. Vassouras retornaram à cena, simbolizando a limpeza que o povo espera seja feita no meio político.
          No Distrito Federal, a Federação do Comércio acaba de lançar manifesto onde prega que lutar contra a corrupção é hoje imperativo para todos os brasileiros.
          “Combater o roubo de recursos públicos é essencial para que o Brasil cresça com justiça social, elevação de renda e da qualidade de vida, redução das desigualdades, extinção da miséria e verdadeira democracia”, diz o documento.
          Na avaliação da Fecomércio-DF, “a corrupção mina a sociedade, destrói valores éticos e morais, dissemina a violência e as práticas ilícitas. Corruptos e corruptores são inimigos públicos, e assim devem ser tratados”.
          Representativo, mas ainda tímido, o movimento tende a crescer. Espera-se que seja cada vez maior o engajamento de pessoas e entidades interessadas em extirpar um mal que contamina os poderes públicos, em todos os níveis da Federação.
          A campanha requer vontade, persistência, coesão e patriotismo de um povo exausto de ser esbulhado.
          Não é fácil, mas o caráter do brasileiro faz acreditar que a tarefa será cumprida.

domingo, 18 de setembro de 2011

AGÊNCIAS ENFERMAS

            Onde a prepotência de grupos ambiciosos faz a diferença, a população só ganha quando perde pouco.
            Enquanto os salários e os proventos de aposentadoria acumulam crescentes perdas, os preços dos bens e serviços essenciais sofrem reajustes iguais ou superiores aos índices de inflação. Basta observar o crescimento dos gastos com água, luz, telefone, combustíveis, cesta básica, moradia, anuidades escolares, planos de saúde, transportes e outros itens fundamentais, afora impostos.
            Esperava-se que esse descompasso fosse refreado pelas agências reguladoras.
Criadas para fiscalizar a prestação de serviços públicos praticados pela iniciativa privada, sua missão é promover a defesa do interesse do povo.  Mas não parece.
           Tem sido comum esses órgãos caminharem na contramão de sua finalidade, priorizando e até defendendo empresas cuja ganância deveriam comedir.
            Os planos de saúde corroboram esse raciocínio.  Além do atendimento ruim reclamado por seus usuários, são extremamente onerosos. Com raras exceções, preocupam-se mais com a própria saúde.
            “Todos os reajustes foram e permanecerão acima da inflação. Isso acontece em qualquer lugar do mundo”. A declaração foi ouvida em recente audiência pública na Câmara dos Deputados, onde se debatia a qualidade do atendimento dos planos.
             Se feita por representante das operadoras, a afirmação teria provocado indignação, mas acabaria compreendida e relevada. É normal que cada um puxe a farinha para o seu saco.
            Entretanto, para frustração geral, as palavras foram ditas por Eduardo Sales, diretor de Fiscalização da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a quem caberia desestimular ações desse tipo.
            Como justificativa, disse que o setor depende de equipamentos e insumos hospitalares importados.
            No lado oposto, Cid Célio Carvalho, presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), criticou a atuação da ANS. Segundo ele, a agência falha na fiscalização das empresas, permitindo que escondam os verdadeiros números do setor, a pretexto de sigilo. 
            Visto como defensor das administradoras de planos, Sales não perdeu a oportunidade de perguntar “como conciliar ótimo atendimento com menor preço e ótima remuneração para os prestadores de serviços?”
           A tarefa não é fácil, mas certamente inclui a necessidade de as operadoras reinvestirem na atividade os expressivos lucros dela obtidos.
            Difícil, mesmo, é explicar o quadro atual, em que o alto preço torna imperdoável o mau atendimento e a péssima remuneração dos prestadores de serviços.
            Distorção que talvez seja eliminada, se a ANS concentrar em seus quadros elementos mais identificados com o interesse público.