sexta-feira, 12 de outubro de 2018

ELEIÇÃO DAS SURPRESAS


Por Etelmar Loureiro

- Diário do Rio Doce – 11.10.2018

            Um velho político nordestino, certa vez afirmou que o conteúdo das fraldas de bebê e das urnas eleitorais só se conhece depois que elas são abertas. De nada adiantam imaginações ou suposições. Só abrindo, pra ver.
            A tese é antiga, mas permanece na ordem do dia, válida e incontestável.
            Os resultados do primeiro turno das eleições deste ano outra vez revelaram a fragilidade e a imprecisão das pesquisas eleitorais feitas pelos institutos especializados no assunto.
            Não que elas tenham sido totalmente equivocadas. Em alguns casos, até acertaram, como na avaliação dos concorrentes à Presidência da República. Em outros, porém, incorreram em falhas lamentáveis, bastante comprometedoras da sua já abalada confiabilidade.
            Em Minas Gerais, por exemplo, houve erros inadmissíveis, causadores de surpresas e decepções que muito alteraram o cenário político estadual.
            Basta lembrar a situação de Dilma Rousseff. Durante toda a campanha, as pesquisas diziam ser ela a favorita. Por muitas noites, isso tirou o sono do enorme contingente de mineiros inconformados com a ideia de tê-la como sua representante no Senado Federal. Contados os votos, entretanto, a ex-presidente não passou de um melancólico quarto lugar, com um sufrágio inferior à metade do que foi previsto pelas pesquisas. Seus adversários ainda comemoram.
            Outra enorme divergência entre as urnas e as “profecias” aconteceu na corrida para o governo mineiro.
            No sábado anterior à votação, as pesquisas davam como certo um segundo turno entre Antonio Anastasia e Fernando Pimentel, com larga vantagem para o primeiro. Em modesto terceiro lugar, tido como carta fora do baralho, aparecia Romeu Zema, um ilustre desconhecido nos meios políticos, que jamais participou de eleições. Terminada a apuração, Zema conquistou quase metade dos votos, detonou o petista Pimentel, e vem sendo considerado favorito na briga final, contra Anastasia.  
            Em maior ou menor escala, a inconsistência das pesquisas também se fez sentir em outros importantes redutos eleitorais, inclusive Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, onde os resultados das urnas divergiram em muito dos que foram por elas apontados.
            Alguns especialistas dizem que os institutos não erraram. Na visão do cientista político Malco Camargos, professor da Puc-Minas e diretor do Instituto Ver Pesquisa e Estratégia, “ocorre que as pesquisas captam o momento. O eleitor é perguntado para quem votaria se a eleição fosse naquele dia. E o eleitor muda de opinião”.
            Segundo o Ibope, já se esperava que pesquisas efetivadas antes da eleição mostrassem alguns resultados diversos dos apurados. “Grande parte dos eleitores são indecisos até o dia da eleição, decidindo apenas na hora da votação em quem vão votar”, ponderou o instituto, acrescentando que, por esse motivo, as pesquisas de boca de urna são as que mais refletem a realidade.
            Agora, limitada a dois os candidatos, a escolha tende a ser é mais fácil.
            Escaldado das demagogias e inverdades que lhe empurraram goela abaixo no primeiro turno, o eleitor adquiriu melhor condição de decidir.
            Por outro lado, deverá ser bem mais pressionado por institutos como o Ibope, Datafolha e outros tomadores de opinião, afora a enxurrada de verdades e inverdades que continuarão viralizando na internet.
           O momento é de ficar atento aos lances, em busca de elementos que permitam formar juízo próprio. Lembrando que as pesquisas de opinião, mesmo quando imparciais, só acertam quando erram pouco.