domingo, 29 de março de 2015

SEM AZUL NO CEU

            Se não é das menos favorecidas, Governador Valadares também não está entre as cidades mais privilegiadas em termos de ligação rodoviária com os grandes centros do país.
            As deficiências vêm de longa data, desde quando o valadarense sentiu necessidade de interagir com outras comunidades.
            Basta lembrar que, até 1963, quando foi concluído o asfaltamento da Rio-Bahia, o caminho entre Valadares e o Rio de Janeiro incluía cerca de 400 quilômetros de terra batida e muita poeira, até Leopoldina. Percorrê-los era um sacrifício, sobretudo para os que o faziam em condução própria.
            Não menos desgastante era a viagem para Vitória, feita através de Realeza. De lá à capital capixaba eram outros quase 260 quilômetros repletos de curvas extremamente perigosas. Só muito mais tarde surgiu a estrada que passa por Colatina.
            Pior era deslocar para Belo Horizonte. A maioria das pessoas viajava no trem da Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM), até Nova Era. Ali baldeava para o trem da Central do Brasil ou pegava ônibus, para chegar à capital mineira. Tudo porque a implantação e a pavimentação da MG-4, hoje BR-381, entre GV e BH, iniciadas em 1952 e executadas por etapas, só foram concluídas em 1971.
            O passar dos anos amenizou, mas não eliminou os problemas.
            As rodovias que servem à cidade receberam melhoramentos e são alvo de manutenção, porém sempre deixam a desejar.
            A Rio-Bahia há muito se mostra obsoleta, diante do incontrolável aumento da frota de veículos.            Quanto à BR-381, o simples fato de ser chamada Rodovia da Morte basta para desnudar o grau de sua ineficiência e os riscos a que estão expostos seus usuários.
            O trem da EFVM – ou Trem da Vale – permanece como confortável e segura alternativa para a locomoção entre Belô e Vitória. Mas peca pelo itinerário restrito, pela duração da viagem e por oferecer apenas um giro diário.
            Nesse contexto, cresce a importância do transporte aéreo. É o mais capaz de suprir a escassez de tempo dos empresários, a urgência requerida por certos problemas, a comodidade e a agilidade que muitos procuram e por elas podem pagar.
            Valadares foi servida por grandes companhias aéreas, como Nacional, Real e Panair. Já em meados do século passado, elas ofereciam voos para as capitais da Região Sudeste e outras localidades. Na época, operavam no “campo de aviação” localizado onde hoje é o Bairro de Lourdes.
            Com o advento do aeroporto Coronel Altino Machado de Oliveira, outras empresas estiveram em ação, sendo que, no momento, a Azul Linhas Aéreas é a única atuante na cidade.·.
         Pois é justamente ela que, favorecida pela falta de concorrência, anuncia a suspensão dos voos diretos do Aeroporto da Pampulha, em BH, para Valadares, Ipatinga, Montes Claros e Uberlândia, a partir de 11 de maio.
           Inteiramente prejudicial aos interesses comunitários, a decisão requer enérgica reação das autoridades responsáveis pelas cidades atingidas. Isoladamente ou em conjunto, deverão elas esgotar todas as possibilidades de entendimento com a empresa aérea e com os poderes competentes, visando impedir que o despropósito aconteça.
            Pelo menos em Valadares, a Azul pousou com a promessa de manter e até ampliar os serviços então prestados pela Trip Linhas Aéreas. Se romper com tal compromisso, sem explicações e justificativas plausíveis, isso não pode lhe sair barato.
            A bola fica com a Prefeitura, nossos deputados, outros políticos e as entidades representativas do empresariado e da sociedade local. E que ninguém se iluda com facilidades. O jogo promete ser pesado.

- Diário do Rio Doce