Se
não é das menos favorecidas, Governador Valadares também não está entre as
cidades mais privilegiadas em termos de ligação rodoviária com os grandes
centros do país.
As
deficiências vêm de longa data, desde quando o valadarense sentiu necessidade
de interagir com outras comunidades.
Basta
lembrar que, até 1963, quando foi concluído o asfaltamento da Rio-Bahia, o
caminho entre Valadares e o Rio de Janeiro incluía cerca de 400 quilômetros de
terra batida e muita poeira, até Leopoldina. Percorrê-los era um sacrifício,
sobretudo para os que o faziam em condução própria.
Não
menos desgastante era a viagem para Vitória, feita através de Realeza. De lá à
capital capixaba eram outros quase 260 quilômetros repletos de curvas
extremamente perigosas. Só muito mais tarde surgiu a estrada que passa por
Colatina.
Pior
era deslocar para Belo Horizonte. A maioria das pessoas viajava no trem da
Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM), até Nova Era. Ali baldeava para o trem
da Central do Brasil ou pegava ônibus, para chegar à capital mineira. Tudo
porque a implantação e a pavimentação da MG-4, hoje BR-381, entre GV e BH,
iniciadas em 1952 e executadas por etapas, só foram concluídas em 1971.
O
passar dos anos amenizou, mas não eliminou os problemas.
As
rodovias que servem à cidade receberam melhoramentos e são alvo de manutenção, porém
sempre deixam a desejar.
A
Rio-Bahia há muito se mostra obsoleta, diante do incontrolável aumento da frota
de veículos. Quanto à BR-381, o
simples fato de ser chamada Rodovia da Morte basta para desnudar o grau de sua
ineficiência e os riscos a que estão expostos seus usuários.
O
trem da EFVM – ou Trem da Vale – permanece como confortável e segura alternativa
para a locomoção entre Belô e Vitória. Mas peca pelo itinerário restrito, pela
duração da viagem e por oferecer apenas um giro diário.
Nesse
contexto, cresce a importância do transporte aéreo. É o mais capaz de suprir a
escassez de tempo dos empresários, a urgência requerida por certos problemas, a
comodidade e a agilidade que muitos procuram e por elas podem pagar.
Valadares
foi servida por grandes companhias aéreas, como Nacional, Real e Panair. Já em meados
do século passado, elas ofereciam voos para as capitais da Região Sudeste e
outras localidades. Na época, operavam no “campo de aviação” localizado onde
hoje é o Bairro de Lourdes.
Com
o advento do aeroporto Coronel Altino Machado de Oliveira, outras empresas
estiveram em ação, sendo que, no momento, a Azul Linhas Aéreas é a única
atuante na cidade.·.
Pois
é justamente ela que, favorecida pela falta de concorrência, anuncia a
suspensão dos voos diretos do Aeroporto da Pampulha, em BH, para Valadares,
Ipatinga, Montes Claros e Uberlândia, a partir de 11 de maio.
Inteiramente prejudicial aos
interesses comunitários, a decisão requer enérgica reação das autoridades
responsáveis pelas cidades atingidas. Isoladamente ou em conjunto, deverão elas
esgotar todas as possibilidades de entendimento com a empresa aérea e com os
poderes competentes, visando impedir que o despropósito aconteça.
Pelo
menos em Valadares, a Azul pousou com a promessa de manter e até ampliar os
serviços então prestados pela Trip Linhas Aéreas. Se romper com tal
compromisso, sem explicações e justificativas plausíveis, isso não pode lhe sair
barato.
A
bola fica com a Prefeitura, nossos deputados, outros políticos e as entidades
representativas do empresariado e da sociedade local. E que ninguém se iluda
com facilidades. O jogo promete ser pesado.
- Diário do Rio Doce